As primeiras sessões do novo período legislativo na Assembleia do Paraná (Alep) estão sendo pautadas pela nova postura do deputado democrata Plauto Miró Guimarães (DEM). Essa conduta marcada, inicialmente por pronunciamento que coloca em suspeição a atuação de deputados, gerou uma fissura na Alep.
O democrata sinalizou situações que disse ter presenciado nos últimos oito anos na primeira secretaria da Mesa Executiva, e se referiu a deputados “gulosos”, numa referência a quem “pedia muito”. Entretanto, a “denúncia” do deputado não está embasada em detalhes, o que na prática generaliza a atuação dos 51 deputados que compunham a Casa. Além disso, essa atitude também coloca sob suspeita sobre qual o motivo que levou Plauto a dar esse “aviso”.
Depois, seguiu com o anúncio de dois requerimentos que pedem informações sobre o Governo, o qual até a campanha eleitoral era aliado. A primeira declaração, entretanto, provocou a reação do estreante Delegado Jacovos (PR) e de outros parlamentares, entre os quais, Luiz Carlos Martins (PP), pelo tom velado e vago da fala feita por Plauto.
“Quando o Plauto diz que, nesta Casa tem deputados gulosos, não todos, pergunto se é só na Assembleia ou se ele se referia também a gulosos de outros poderes que se utilizam desta casa e se apresentam como bonzinhos, paladinos da justiça? Que tipo de apetite é este? Quem são? Todos querem saber, começando por nós. A sociedade quer saber”, reagiu Martins na tribuna durante a sessão dessa quarta (13).
“Todos aqui sabem o que significa a palavra gulosos. Mas quero interpretar que quando o deputado fala de deputados gulosos certamente falava dos que têm mais apetite. Não quero crer que o deputado Plauto esteja falando que aqui na Casa tiveram deputados gulosos para outras questões não republicanas”, rebateu o delegado Jacovos. Para o deputado, Plauto não pode guardar documentos públicos “como forma de pressionar ninguém”.
Plauto, por sua vez, numa tentativa de colocar panos quentes na fervura que provocou, nega que tenha feito ameaças. “Daquilo que eu falei ontem, está tudo no portal da Transparência da Assembleia. É só gastar tempo que todas as nomeações, gratificações de servidores estão ali. E tem também os ofícios assinados pelos deputados pedindo nomeações”, alegou, afirmando que possui cópias de 36 mil processos sob a sua guarda.
A POLÊMICA
A atitude do deputado Plauto Miró Guimarães Filho (DEM) na atual legislatura tem como “pano de fundo” a composição para a nova Mesa Executiva da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). Tudo começou durante a campanha eleitoral quando o PSB fechou apoio à reeleição da governadora Cida Borghetti (PP).
Porém, com a vitória de Carlos Massa Ratinho Júnior (PSD), em novembro o partido comandado por Severino Araújo lançou o nome de um dos cinco deputados eleitos, Luiz Carlos Romanelli, ex-líder da bancada governista no mandato de Beto Richa, à presidência da Casa. Começaram as articulações políticas com o grupo do deputado Ademar Traiano (PSDB), que já era candidato à presidência na nova legislatura. Fechado o consenso, Romanelli ficou com a primeira secretaria, cargo até então dominado por Plauto, durante oito anos.
Embora alçado à primeira vice-presidência, o deputado em seu pronunciamento se auto excluiu da composição ao dizer que “fora da Mesa Executiva” teria liberdade de para subir à tribuna, fiscalizar o dia a dia da Assembleia e dialogar com os cidadãos e com a imprensa de todo o Paraná. De acordo com a sua assessoria, porém, o deputado já vinha falando em deixar a primeira secretaria porque o cargo toma muito tempo e acaba prejudicando a atuação parlamentar. O primeiro-secretário é responsável pela administração da Casa, incluindo verbas, contratos, além de ter o poder de nomear dezenas de cargos.
Segundo informações de deputados, a iniciativa do governador Carlos Massa Ratinho Júnior, em passar uma peneira em cargos comissionados pelo Paraná afora, também teria desagradado o democrata.
A REAÇÃO
Fora da primeira secretaria da Mesa Executiva da Assembleia Legislativa do Paraná, após oito anos no cargo, mas agora como primeiro vice-presidente, o deputado Plauto Miró Guimarães Filho (DEM), ao colocar em suspeição os últimos oito anos do trabalho da Mesa e, principalmente, de alguns deputados, deu o tom de como conduzirá o atual mandato na Alep. A primeira coisa que fez foi contar que se preveniu contra a possibilidade do sumiço de documentos, fazendo cópias de tudo o que tramitou na Alep, nos últimos oito anos, período que respondeu pela primeira secretaria da Casa, um dos cargos mais importantes da Mesa Executiva.
No primeiro pronunciamento do ano na tribuna na sessão dessa terça (12), falando sobre a sua saída do cargo que começou a exercer ainda no mandato de Valdir Rossoni (PSDB), como presidente, e outros quatro nos mandatos de Ademar Traiano, Plauto disse que foi uma espécie de Ouvidor. “Vi e escutei muita coisa”. E continuou: “desde criança sempre fui muito organizado e, por isso, fiz cópia de todos os documentos que tramitaram na Assembleia nesses anos.
Tenho tudo num pendrive e também fora da Assembleia”, avisou. Segundo o deputado, é uma precaução, já que, segundo ele, é “praxe histórica” no país o sumiço de documentos, principalmente quando troca a direção dos poderes. “Muitas vezes, você precisa se defender e os documentos podem ter sumido”. Se para alguns a fala do deputado soou como uma ameaça, o parlamentar por meio de sua assessoria de comunicação, disse ao Portal RSN, que se tratou apenas de um “posicionamento firme”, postura que deverá marcar o seu mandato.
“Ele [Plauto] teve essa mesma postura diversas vezes no mandato anterior, principalmente no período das reformas fiscais do governo do Beto Richa, quando impediu o aumento de diversos impostos e até a mudança da lei do ITBI, o imposto da herança”. O fato é que a atual postura do deputado surpreende porque o tira da atuação apática que vinha tendo, principalmente, em relação à utilização do espaço concedido na tribuna.