22/08/2023

Para não perder tudo, precisamos saber o que perder.

Caminhamos para um local que não pode ser chamado de horizonte.  Tenta-se manter o mínimo do mínimo. O nome disto é sobrevivência.   Há uma grande nebulosidade pela frente. Estamos sem perspectiva e nas mãos de pessoas (homens públicos) que se perderam em seus propósitos ou ainda não se encontraram. Não se vê  líderes que possam nos oferecer algo melhor do que aí está. Assim, infelizmente, ao menos em curto prazo, temos que nos adaptar ao regular, ao razoável, àqueles que apenas cumprem metade do seu dever de casa, sem brilho e sem sabor. E talvez seja preferível isto a algo pior.

É deprimente reconhecer que hoje não há nenhum grupo, nenhuma força política em condições de virar o jogo e comungar com os interesses de uma sociedade qualificada que sabe o que quer, mas não está organizada a ponto de reverter este quadro.

Os conteúdos são similares, repetitivos e não encantam mais ninguém. Para qualquer lado que se olhe, não se vê absolutamente nada de inovador e de novo frescor. Nem dá para ensaiar mais uma ilusão. Em outros tempos isto era até possível.

Entre os atuais gestores e legisladores, não haverá surpresas neste período pré-eleitoral. Da mesma forma, nada mudará depois das eleições.  A surpresa poderá vir da sociedade nos próximos anos, se mantivermos nossa lucidez e nossa resistência, pois da banda dos que se julgam políticos ninguém está se apresentando em condições mínimas de oferecer um percentual melhor do que este vigente.  Estamos próximos do ridículo, pois para não perder tudo, precisamos saber o que perder.

É assim que vejo o cenário nestes próximos anos. Como bem afirmou Zizek: “embora saibamos que nossa democracia é corrupta e já não sintamos um entusiasmo democrático, lá fora ainda existem pessoas que olham para nós, que nos admiram e gostariam de se parecer conosco; embora não acreditemos em nós mesmos, existem pessoas (…) que ainda acreditam em nós”.  Ou seja, se aqui não está como gostaríamos que estivesse, há ainda lugares piores por aí e é por isso que ainda precisamos nos mexer. Algumas coisas ainda são salváveis e é atrás desta essência que precisamos gastar um pouco mais de energia.  Assim acontece com nosso País, com nosso Estado, com nossa cidade e com nossa Universidade.

Mesmo sem ver uma saída imediata, é preciso continuar produzindo e medindo diariamente a temperatura de nossa enfermidade para que nos próximos anos possamos voltar a acreditar na crença política de que nossas escolhas possam ser melhores na medida em que homens e mulheres com disposição de consertar equívocos e nos dar bons encaminhamentos voltarão a existir.  

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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