22/08/2023
Política

Pelo povo e para o povo – Vereadores alegam deixar a oposição para conquistar melhorias para a população

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Guarapuava – Por Cristina Esteche
Aos poucos, as peças começam a ser movimentadas no tabuleiro político de Guarapuava. A nova jogada realizada durante a semana marca pontos para a bancada que dá sustentação ao prefeito Fernando Ribas Carli na Câmara, que inverte o placar.
A minoritária bancada composta por quatro vereadores – Élcio Melhem, Maria José Mandu Ribas e Lizandro Martins “Magrão”- passa a ser majoritária a partir da adesão do “tucano” João Napoleão, do pessebista Sadi Federle e atuação pontual do democrata Gilson Amaral.
O que vinha sendo cogitado nos bastidores a partir da situação levantada pelo líder do bloco de oposição, o petista Antenor Gomes de Lima, há cerca de três semanas quando anunciou na tribuna da Câmara que vinha recebendo ligações anônimas sobre quatro vereadores que estariam deixando o bloco oposicionista. De lá para cá, as cartas foram mexidas conforme a estratégia de cada um.
A primeira carta colocada na mesa foi do democrata Gilson Amaral, o único a anunciar oficialmente a sua decisão, uma posição que já vinha sendo desenhada pelo próprio vereador há tempos. Uma situação dessas foi quando o líder do prefeito na Câmara, Elcio Melhem (PP,) quis participar da reunião do bloco de oposição, o então G-8, e que antecedia as sessões semanais, para explicar o pedido feito pelo prefeito Fernando Ribas Carli para a abertura de créditos adicionais especiais. Gilson Amaral, que é arqui-inimigo de Melhem, colocou a sua permanência no G-8 como contraponto à participação de Melhem na reunião. A bancada oposicionista acatou a condição imposta por Gilson Amaral e o líder “carlista” foi barrado.
A cartada final do democrata veio com o sumiço de um e-mail com suposta autoria atribuída ao radialista Roberto Lobo (ele nega isso) e que, segundo o próprio Gilson Amaral, denegria a imagem de vereadores. O vereador, mais uma vez, condicionou a sua permanência no bloco de oposição a uma cópia da mensagem eletrônica. Caso contrário, deixaria o bloco. E foi isso o que aconteceu.
Gilson Amaral anunciou que a partir de então se torna um vereador independente. “Vou votar com o Executivo os projetos de leis que forem de interesse da população, e vou criticar quando for necessário”, afirmou. Desde quando deixou o grupo “carlista” em 2006 o vereador havia se transformado num dos mais combatentes políticos contra a política “carlista”.
Outra rodada saiu extraoficialmente pelas mãos do “tucano” João Napoleão, que também deu uma “bicada” no bloco de oposição. Eleito pelo extinto PL do ex-prefeito Vitor Hugo Burko, iniciou sua caminhada política na oposição. Mudou de rota ao compor o G-4 ao lado dos ex- vereadores Osdival Gomes da Costa, Joel Iastkiu e Ney Gonçalves, passando a votar com a bancada “carlista”. Foi reeleito nessa condição, mas durante o processo de eleição da presidência da Câmara, disse não ao nome da também “tucana” Maria José Mandu Ribas, candidata escolhida pelo prefeito, e passou a compor o G-8, bloco que deixou para votar com a bancada situacionista.
A difícil decisão segundo João Napoleão encontra “alento na nobre missão” de defender os interesses do povo. Ele diz que antes de tomar qualquer decisão consultou as bases do bairro Boqueirão, considerado seu reduto eleitoral.
O retorno para a bancada “carlista” no entendimento do “tucano”, facilita a execução de obras no Boqueirão.
O vereador nas últimas semanas passou a defender a harmonia entre o Legislativo e o Executivo,e diz insistentemente que “os projetos bons para a população” terão o seu voto. Os polêmicos serão discutidos.
É assim que o vereador justifica a sua mudança de postura política. Ele diz que fará o anúncio oficial de que agora pertence à bancada do prefeito na sessão dessa terça-feira (13). “Vou assumir publicamente a minha nova postura. Foi uma decisão muito difícil, pois eu vinha atuando junto com o Antenor, com o presidente Admir, mas todos tem uma forma de agir. Eu devo satisfação ao meu eleitor. Não tive nenhuma conversa com o prefeito, mas com um assessor dele”, afirmou. “O meu preço para votar com o prefeito são as inúmeras obras que serão executadas no Boqueirão, como o recape na Rua Guaíra até a PR 170, melhorias no cemitério, conclusão do asfalto nas ruas do Jardim Continental, Núcleo Guaíra e Boqueirão, construção de creche neste bairro”, anunciou.
Eleito pelo grupo “carlista”, o vereador Sadi Federle (PSB) assim como João Napoleão, ele diz que está na Câmara para defender os interesses do povo. Morador no Bairro Xarquinho há muito tempo, Sadi criticava a administração municipal pelo descaso no bairro. Votando favorável aos “projetos bons”, contrário “às coisas erradas”, ele entende que terá facilidades em levar obras e beneficiar a população. “Não sou nem situação e nem oposição, estou no meio, como fiel da balança”. A partir dessa decisão Sadi já comemora obras no Xarquinho. “Depois que conversei com o prefeito e que fui procurado por empresários grandes do Bairro para que me entendesse com o prefeito, as coisas já começaram a mudar no Xarquinho e isso me deixa feliz, porque são benefícios para a população. Quem está aqui sendo cobrado, dando a cara pra bater sou eu. Agora as coisas estão mudando”, avalia.

SAÍDA PROVOCA FISSURAS
Se as iniciativas tomadas por vereadores têm o objetivo único de contemplar o povo, elas provocaram fissuras nos companheiros de até então.
“Estou magoado, chateado”, desabafou o vereador Antenor Gomes de Lima (PT), escolhido para liderar o extinto G8. “Me elegi dentro de uma proposta de oposição, mantive a minha conduta por oito anos consecutivos e retornei com esse propósito”, diz.
Antenor faz uma retrospectiva e diz que durante o processo para a eleição da presidência da Câmara foi procurado por vereadores, “que estão na situação”, que o convenceram a votar no peemedebista Admir Strechar.
“A dificuldade que tenho em aceitar essa nova situação é que o discurso dessas pessoas era radicalizado. Não havia trégua nem para ouvir o lado de lá como, por exemplo, se negou a receber o líder do prefeito Elcio Melhem em reunião para explicar a solicitação para abertura de créditos adicionais especiais. Um desses vereadores disse que sairia do G8 se Elcio Melhem participasse da reunião”, afirma.
Antenor diz que está sendo muito cobrado pela sociedade, que quer entender essa reviravolta na Câmara. “Tenho dito que a explicação tem que ser buscada junto as pessoas que mudaram de posição. Se olhar para atrás vamos ver pronunciamentos duríssimos, às vezes até desrespeitosos contra o prefeito, por parte de quem deixa a oposição. A cidade está assustada e quer saber o que mudou. Teria o sido o prefeito que se tornou exemplar em tão pouco tempo ou a cidade que melhorou ao ponto de se colocar o discurso de oposição debaixo do braço e mudar? São perguntas que não posso responder, mas a população é sábia e acha que tem muita coisa errada. Sabe que as desculpas são frágeis e está observando tudo com lupa”.
Elcio Melhem, que passa a liderar uma bancada com sete vereadores, diz que o retorno de João Napoleão e de Sadi Federle para o grupo “carlista” não lhe causa nenhuma surpresa. “Eles já faziam parte do apoio ao prefeito”.
A surpresa maior, segundo Melhem, “até pela postura e pelos pronunciamentos que vinha fazendo de 2006 para cá”, está sendo patrocinada pelo desligamento de Gilson Amaral do bloco oposicionista. “Ser independente para mim é relativo. Politicamente isso não existe. Ou você é ou não é. Ninguém vota de acordo com o vento, conforme o seu humor, e vou repetir o que o próprio vereador falou na tribuna, que o tempo é o senhor da razão, é o complemento da prova concreta”, afirma.
O pepista defende a abertura nas votações da Câmara. “As pessoas tem que ser claras em seus posicionamentos. Por isso, acho que o sistema de votação tem que ser mudado, tem que ser aberto”. Melhem entende ainda que a Câmara deve ser uma “parceira firme da administração municipal e o prefeito tendo a maioria absoluta conquista a governabilidade que precisa ter”.
Para Antenor o agora G5 (Admir Strechar, Thiago Cordova, Nélio Gomes da Costa, Eva Schran e Antenor) passa a ter uma dificuldade maior na fiscalização dos atos do Executivo, principalmente nas questões orçamentárias. “Vamos perder a força para interferir em projetos de importância para a sociedade”, lamenta.

Cristina Esteche

Jornalista

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