Há 350 milhões de anos o planeta Terra enfrentava mudanças climáticas semelhantes às vividas atualmente, disse hoje (23) o pesquisador alemão Ulrich Glasmacher, da Universidade de Heidelberg. “[Mudanças climáticas] não são fenômenos novos na história. No passado, há 350 milhões de anos tivemos os mesmos problemas de hoje. Estamos no mesmo ponto daquela época”, explicou durante palestra na 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Segundo o pesquisador, a temperatura do planeta não está aumentando se comparada com outros períodos, mas oscilando. “As temperaturas estão flutuando – sobem e descem – neste momento que vivemos. Mas estamos muito influenciados pela mídia e diretamente pensamos em efeito estufa [como causa de aumento]”.
Glasmacher explica que o efeito estufa é agravado por poluição humana, mas um fenômeno antigo da própria natureza do universo. A energia irradiada pelo sol é modificada ao chegar na atmosfera. As novas moléculas reagem se transformando em gás carbônico, metano e dióxido de nitrogênio – os principais gases que formam o efeito estufa.
“O gás metano tem os efeitos mais catastróficos, mas sobrevive menos tempo na atmosfera. O gás carbônico sobrevive mais, por esse motivo é que ouvimos falar mais a respeito dele. Outro processo importante e bem conhecido é que parte dessas partículas é desviada pelas nuvens [antes de chegar à superfície da terra]”, explica.
Naquele período, segundo o pesquisador, dinossauros e vulcões foram responsáveis pela alta concentração de gases na atmosfera. “Existe uma teoria de que os dinossauros produziam gás metano com sua alimentação e a emissão era em níveis tão altos quanto acontece hoje. Os vulcões, mesmo fora de atividade, liberam volumes enormes de gás carbônico. No entanto, os dinossauros não foram extintos do nosso planeta por causa dos gases, mas devido a queda de um enorme meteorito na Terra”.
De acordo com Glasmacher, há 100 milhões de anos havia um clima completamente diferente na Terra. A hipótese do pesquisador é de que o planeta era coberto por neve, “um bolo de gelo, com clima muito frio”.
“Há 60 milhões de anos, o Brasil, ainda unido com parte da África, também estava coberto por uma camada de gelo. As florestas substituíram o gelo e originaram depósitos de carvão. Há jazidas de carvão nos dois países com a mesma idade”.
Glasmacher aponta que fósseis e sedimentos rochosos mostram como era o clima no planeta há milhões de anos e que, em geral, períodos muito quentes são precedidos por época muito frias.
“A África Oriental era uma floresta úmida e se transformou em savana. Nesse período o homem aprendeu a se adaptar e criar instrumentos. O ser humano aprendeu que se bater na noz, ela vai se abrir. Em pouco tempo foi possível reagir a mudanças do ambiente”.
Nos anos 900 a 1.000, segundo o pesquisador, os vikings navegavam a parte norte do Oceano Atlântico e por toda Groenlândia – ainda sem cobertura de gelo. “Parece que eles gostavam disso. Os vikings achavam muito bom o período quente e produziam vinho em locais que hoje são congelados”.
“Precisamos pensar também que até agora somos os únicos no universo. Não sabemos e nem temos ferramentas para saber se existem vidas como a nossa em outros planetas. Mas, mesmo sem o homem, a vida na Terra vai continuar em qualquer circunstância. Falar em cenário fatal para o planeta é mentiroso, só serve para gerar medo”, conclui.