A estrada que leva à localidade de Faxinal dos Ribeiros, em São Cristóvão, no interior de Pinhão, é o principal acesso a um dos projetos mais importantes do município. Neste local se encontra o aterro sanitário, uma área de sete mil metros quadrados, incluindo a mata, licenciada por órgãos ambientais, e que se destina a receber os resíduos sólidos urbanos, basicamente lixo domiciliar, de forma planejada. A licença para a operação do aterro foi entregue ao prefeito Odir Gotardo (PT) na tarde dessa quinta feira (12).
A implantação do aterro sanitário coloca um ponto final na era do lixão a céu aberto, onde proliferavam insetos, como moscas, ratos, escorpiões e baratas, transmissores de muitas doenças, além do mau cheiro, poluição do ar, contaminação do solo e dos lençóis freáticos. Em meio a tudo, seres humanos buscavam subsídios para a sobrevivência. E foi justamente esse lixão, que funcionou por mais de duas décadas, que deu ao município mais de 29 autos de infrações, além de duas multas no valor de R$ 100 mil. “Uma semana depois que assumimos a administração do município, o lixão foi interditado e vieram as multas de R$ 50 mil cada uma”, disse o prefeito ao Portal RSN.
E o pior ainda está por vir, caso os outros 29 autos de infrações sejam mensurados pela média das multas já aplicadas. “Se isso acontecer será o caos, porque a soma das multas pode ser superior o valor do orçamento do município para 2019”, diz o secretário de Meio Ambiente, Urbanismo e Habitação, Valter Israel da Silva. “Vamos propor compensações”.
A implantação do aterro sanitário coloca um ponto final na era do lixão a céu aberto.
Outro compromisso assumido foi a legalização dos 23 cemitérios existentes no município, dos quais apenas quatro estão licenciados e outros 19 já com multas e correndo o risco de serem interditados.
Mas, antes de tudo isso, foi preciso criar a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, organizado a estrutura que estava espalhada em outras secretarias.
“O departamento de meio ambiente era ligado à Agricultura, junto com o setor de limpeza urbana; a seção de cemitérios estava ligada à Secretaria de Obras; e a parte da habitação, que mexe também com a área de mananciais, estava na Assistência Social”, observa o secretário.
Com a nova secretaria, foi retomada a criação da unidade de triagem, compostagem e transbordo. “Já havia uma área desapropriada e parte do barracão estava construída e paralisada há 10 anos. Tivemos que refazer tudo”, afirma Valter.
Com a assinatura dos compromissos, a administração municipal ganhou uma trégua e buscou parcerias. Uma delas, envolve a comunidade numa ação de educação ambiental e da coletiva seletiva do lixo, que tem como atrativo a moeda “bufunfa”.
ENGRENAGEM
A questão ambiental é um problema mundial. A geração de lixo cresce a cada dia nas cidades. Com cidadãos mais conscientes do seus direitos de viverem melhor em ambientes saudáveis, em Pinhão, a coleta e a destinação correta do lixo vem adquirindo importância social, econômica e política.
“Aqui tudo funciona como uma engrenagem”, diz o secretário Valter Israel da Silva. A coleta seletiva do lixo, por exemplo, reduz o transbordo que hoje é coletado por uma empresa de fora, traduzido em economia aos cofres públicos. “Teremos uma economia de R$ 40 mil por mês e estamos gerando 17 empregos diretos”, comemora Odir Gotardo. O município produz cerca 14 toneladas de lixo por dia.
CIDADANIA
É que junto ao aterro sanitário funciona uma central de triagem, que separa o lixo orgânico, o reciclável e o geral. Dezessete pessoas estão empregadas e fazem parte da Associação dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis de Pinhão “Mãos Limpas”. São elas que fazem a separação e que vendem o lixo reciclável; que destinam o lixo orgânico para a compostagem que vai nutrir as áreas degradadas.
“Temos tudo o que precisamos para o nosso trabalho, todos os equipamentos”, diz Neiva Ribeiro, que preside a Associação, composta em sua maioria por mulheres. O cotidiano no barracão funciona como uma linha de produção.
“Para nós, o mais importante é promover a cidadania, dando emprego, gerando renda e melhorando a qualidade de vida de pessoas, neste caso, daquelas que sobrevivem do lixo. Aqui separamos essa condição de catador, de lixeiro, para torná-los cidadãos”, afirma Odir Gotardo.
Aqui para nós o que importa são as pessoas, o ser humano.
No início eles tinham uma ajuda de custo de R$ 400 por mês e ganhavam uma cesta básica mensal cada. Hoje, esses trabalhadores já recebem mil reais por mês; a cesta básica já foi retirada e agora terão registro em carteira.
“Hoje damos três cestas básicas por mês para ajudar na refeição”, diz o prefeito. Um refeitório foi construído onde é preparado o almoço e o lanche da tarde. “Cada um traz uma mistura para completar a refeição”.
O projeto do aterro sanitário conta também com uma casa onde reside um desses trabalhadores e que é responsável pela segurança do lugar; está sendo construído um escritório.
Além disso, o plantio de flores já começou e visa humanizar o ambiente. A mata nativa ao redor já é um complemento natural num cenário onde o lixo seria o personagem principal. “Aqui para nós o que importa são as pessoas, o ser humano”, volta a enfatizar o prefeito.
ECOPONTOS
Para quer a comunidade do interior também seja envolvida nessa questão ambiental, serão criados 50 ecopontos de coleta seletiva em cerca de 70 localidades. Seis já estão implantadas. O Pinhão possui 2,9 mil quilômetros quadrados de área e é o sexto município em extensão no Paraná.
RECONHECIMENTO
Quem trabalha no aterro sanitário está comprometido com o projeto e com as atividades cotidianas do local. “Aqui a equipe vestiu a camisa”, diz o técnico ambiental, Osvaldo Nickel. E para reconhecer esse envolvimento, prefeito e secretários sentarão à mesa com os funcionários, neste sábado, para uma “Costela de Dois Fogos”, a partir das 12 horas.
“Quero sentar e contemplar tudo isso. Parece um sonho e é preciso comemorar e, principalmente, reconhecer a importância dessas pessoas”, diz o prefeito.