22/08/2023
Agronegócio

“Podemos mentir”

"Podemos Mentir". Este é o título de artigo que recebi do psicólogo Reginaldo Daniel da Silvesira, da UniBrasil. Compartilho: 

 "No shopping, Sara desfrutou emoções. Visitou lojas, tomou um drink e encontrou uma velha conhecida. Fez compras "a preço de custo", "bebeu socialmente" e recebeu um abraço do tipo: "você está mais magra". Esta última emoção foi provocada pela amiga Laura com um piscar de olhos e duas sobrancelhas levantadas. No estacionamento Saracontemplou o reflexo de sua silhueta nos vidros do carro e suspirou: "como as pessoas mentem"!

Por que mentimos? Não foi precisamente esta a interrogação inspiradora do italiano Carlos Collodi ao criar Pinóquio. Sem se dar conta, sua magia foi esculpir uma caricatura divertida da essência humana, umhomo sapiensque sabe,umhomo fallax, que engana.
A mentira ou a verdade são comportamentos aprendidos e preservados pelos efeitos germinados. Ganho gerado, comportamento reforçado eaprendido. A mentira mostra-se apta a remover ou adiar uma consequência desagradável.O Mestre Geppetto dizia a seu filho Pinóquio: "seja sincero, fale a verdade, não minta. Se você mentir, seu nariz vai crescer". Pais dizem isso a seus filhos. Podemos então viver sem mentir?
Queremos impor nossos interesses, aspiramos ser bem vistos. A biologia nos ensina que a vida social em suas hierarquias e enredos relacionais trouxe ao mundo a mentira. Até mesmo grupos primatas que vivem em bando adquirem a habilidade de dissimular – coisa que fazem por comida e parceiros sexuais. Na ciranda do mundo social, não passamos 24 horas sem expressar algum tipo de mentira. "Puxa, que deliciosa a sua comida". "Não quero mais saber de homem". "Nossa, tenho tanta coisa pra fazer, podemos nos falar outro dia?". "Sua presença aqui é muito importante"."Que simpático seu irmão".
Se estas mentiras parecem claras, as pessoas não se dão conta de sua existência. Nem tudo é simples como aparenta a série de televisãoLie to Me. O psicólogo Paul Ekman, explica que as microexpressões faciais da mentira duram menos de um quarto de segundo. Para o consultor da série e diretor do Laboratório de Interação Humana de San Francisco, isso representa instantes fugazes em que o semblante revela emoções verdadeiras. Tais movimentos são apenas sugeridos, deixando-se reconhecer na maioria das vezes apenas em câmera lenta.
A psicóloga americana Bella DePaolo, da Universidade de Virginia, em cerca de cem estudos sobre o desmascaramento da mentira, revela que antes de começar a refletir de modo preciso e demorado sobre se alguém está ou não mentindo, é melhor recorrer a um cara ou coroa. Contrariando esta regra, o ex-presidente norte americano Ronald Reagan, numa ocasião frustrou-se com um grupo de indivíduos que gargalharam a um discurso que proferiu. Descobriu-se que eles tinham em comum uma lesão no hemisfério esquerdo do cérebro, dano este que faz a pessoa compreender palavras isoladas, mas não o sentido de frases inteiras. São os chamados afásicos. Comprovou-se mais tarde que o político estava sendo falso. Pesquisas de Ekman com afásicos revelaram que eles conseguem diferenciar a verdade da mentira em 60% dos casos.
Se a sua amiga não for a Sara deste artigo, é possível que você a convença de que ela não engordou, mesmo que exiba umacerta protuberância na altura do abdome. Também é factívelque seu chefe goste de ouvir você falar que adorou a atividade (horrível) que ele lhe passou. Determinadas mentiras sociais, sem o jugo da malicia ou do sarcasmo podem ser essenciais para evitar conflitos. Você já imaginou sua vida se você dissesse o que pensa? "Meu bem você virou um canhão". Não lhe importaria a tristeza do outro, não haveria o afeto, apenas seu eu, um autentico servidor do egocentrismo extremo. Seria necessário repensar a vida que como diria Charles Chaplin "é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos"!

(*) Reginaldo Daniel da Silveira é psicólogo, mestre e doutor. Coordenador de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Psicologia Jurídica das Faculdades Integradas do Brasil – UNIBRASIL

Cristina Esteche

Jornalista

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