22/08/2023
Segurança

Polícia Militar, onde as mulheres buscam a igualdade na diferença

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Elas escolheram a Polícia Militar não por vocação, mas pela busca de uma estabilidade financeira e acabaram se apaixonando pela farda. Hoje são capazes de assumir que se tivessem a oportunidade de escolher continuariam sendo policiais, desta vez, por terem descoberto essa vocação.

Rejane Burgnara começou na PM há 15 anos, quando foi aberto o primeiro concurso para mulheres engajarem na carreira militar. Eu não minto quando digo que escolhi ser policial em busca de salário certo a cada final de mês, eu precisava ter um trabalho fixo, seguro e não tive outra escolha. E de repente, eu que não via a polícia com bons olhos, acabei me apaixonando pela farda”, assume.

 

Essa paixão pela profissão que exerce tem como causa fatores simples, mas verdadeiros. “ O companheirismo que existe na Corporação, a possibilidade de estar fazendo alguma coisa boa pela comunidade – isso sem qualquer hipocrisia – acaba despertando em você esse amor pelo que a farda representa e te possibilita”, diz Rejane que começou na Rádio Patrulha e depois atuou durante três anos na extinta Força Samurai, o serviço reservado da PM, onde atuou no combate ao narcotráfico no interior do Paraná .

 

A postura como policial ao coibir exageros e crimes nas ruas lhe valeu um apelido baseado na numa personagem de um seriado da Rede Globo, na década de 80. A personagem principal dessa história se chama Kate Mahoney. Se a policial durona que com sua Magnum 357 atirava primeiro para realizar as perguntas depois, Rejane, embora demonstre gostar do apelido, diz que o jeito duro de atuar nas ruas surgiu como forma de se impor ao preconceito sofrido pela sociedade quando começou a atuar nas ruas. “As pessoas não aceitavam uma mulher policial, mas hoje isso mudou”, diz.

 

Companheira de turma de Rejane, Andrea Frari Soares também está na PM há 15 anos. “Entrei pra polícia por causa do salário e hoje não saberia fazer outra coisa. Sou formada em História e não consigo me ver numa sala de aula como professora. Sou uma policial”, diz. Se a semelhança com a história de Rejane está nessa opção, o preconceito da sociedade não é mera coincidência. “Quando entrei pra polícia fui para o trânsito e um motorista não aceitava a multa que eu estava lhe aplicando pelo simples fato de eu ser uma policial”, relembra.

 

Atuando com Andrea na Patrulha Escolar, Marcelina Moro Rebello é policial há cinco anos e também entrou para a Corporação por causa da estabilidade de emprego. Hoje cursando Pedagogia, embora não pense em atuar nessa profissão, diz que está em busca de novos concurso, desde que seja na área. “Quero ser polícia federal”, diz.

HISTÓRIA
A Polícia Feminina em Guarapuava começou há 15 anos com 40 policiais. Destas, poucas ainda estão em Guarapuava e somam-se a outras que ingressaram na Corporação e hoje 34 mulheres compõem o Pelotão Feminino da PM.
“Esse debut” foi comemorado com jantar festivo no sábado (19) com a presença de autoridades, amigos e familiares.

Se alguém pensam que elas recebem tratamento diferenciado está enganado. Dentro da PM não existe o gênero, mas o policial. “Tanto é que somos tratadas como o soldado Rejane, o soldado Andrea, o soldado Marcelina”, observa Rejane.

Na academia elas tem o mesmo treinamento que os homens recebem e entre todas as provas seletivas o que mais derruba as candidatas são as de aptidão física.

As que são aprovadas passam a atuar ao lado dos policiais masculinos em quem encontram o companheirismo. “Nunca enfrentamos preconceito dos colegas de trabalho. É claro que no início, tudo o que é novo traz um pouco de resistência, mas com o passar dos anos conquistamos o nosso espaço ao provar que somos capazes e hoje o que impera é o companheirismo. Se o policial homem tem a força, nós mulheres temos a delicadeza, a compreensão, então há um equilíbrio ”, assegura Rejane.

Foto – Andrea e Marcelina

Cristina Esteche

Jornalista

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