Vaiar é uma coisa, xingar é bem outra. Esta barbárie foi mais hostilizada que aplaudida e pode servir como alavanca para turbinar a candidatura dilmista. Os movimentos em política são mesmo indecifráveis. Não dá para fazer apostas. Quando se imagina que o desdobramento será um, acaba sendo algo imprevisível. Eu mesmo condenei tais incivilizados. A oposição não pode explorar este fato, dado sua negatividade e ojeriza.
Aécio e Campos continuam irresolutos, ou seja, mais parecem portadores dos argumentos de Caetano Veloso, conhecido por propagar frases incompreensíveis, vagas e contra o que aí está, do que propriamente argumentos contidos em um programa, com conteúdos claros.
Quando poderiam avançar, atiram no próprio pé e de uma eleição ‘aparentemente’ dificílima, corre-se o risco de termos uma eleição feijão com arroz. Mas também não dá para sustentar isto, pois as nuvens de hoje serão diferentes das nuvens de amanhã.
A velocidade da política e sua instantaneidade tem sido um fenômeno.
Enquanto Aécio pede mudança confiável, Campos quer corrigir os erros cometidos deste Governo, mas tanto um quanto o outro não estão conseguindo expressar isto com concretudes. Isto é também temeroso.
A internet tem sido um excelente canal para diminuir o buraco entre espaço e tempo. Um verdadeiro enxame com capacidade de fazer mais vítimas que heróis. A estratégia de Lula e sua turma de pregar a existência de um ódio visceral ao Partido dos Trabalhadores não deve encontrar eco, assim como a já batida tese que separa eleitores ricos de eleitores pobres, mas o Decreto presidencial que institui a Política Nacional de Participação social, estimulando os movimentos sociais a ser firmarem ainda mais, pode dar margem para que este tipo de discurso se renove. Aliás este assunto se transformou nos últimos dias em uma batalha incrível entre simpatizantes e ortodoxos e entre aqueles que defendem a expansão do protagonismo e maior autonomia dos movimentos sociais e aqueles que ponderam que a participação é importante desde que se respeite a Lei e, ainda, aqueles que começam a chamar o Brasil de União Brasileira Socialista Soviética. É risível tudo isto.
O pano de fundo de tudo isto parece estar entre a correta distinção que envolve crítica e insulto, razão e emoção, pois trata-se de uma linha muito tênue.
Tudo isto acontecendo no Brasil e na surdina, mas trabalhando muito, o Senador paranaense Roberto Requião obteve uma vitória para lá de estimulante e boto fogo nas eleições paranaenses assegurando um segundo turno que até ontem parecia pouco provável.
Agora, temos o PHS com candidato próprio, o PSOL, o PT, o PSDB e o fênix PMDB.
Tudo levava a crer que o nobre senador estava na UTI da política paranaense, ao menos nesta eleição e, de repente, contou com a fidelidade de quem já havia traído e gol. Uma zebra ? Claro que não, afinal em política, o tempo é outro. Requião sabe disto e por estar razão não desistiu, esperneou, provocou, mexeu e remexeu. A personalidade forte deste homem sem etiqueta parece estar mais em sintonia com aquilo que a população parece que quer do que outra coisa. Requião lembra a alegoria do Leão de Nietzsche, sem trava na língua, sem ser politicamente correto, tem convicções estranhas e seu histórico de tensão e de enfrentamento junto a outras instituições continuam forte no imaginário paranaense.
Hoje, mais que nunca, as pessoas não querem pedir permissão, ‘querem que façam’ ou ‘querem fazer’. Mesmo assim é difícil sustentar isto, pois amanhã ou mês que vem outra configuração se apresenta, outro fato e , de repente, tudo muda.
Como escreveu Walter Benjamin, “o tempo se transformou em um relâmpago que rompe aquilo que é e abre um novo cenário”.