22/08/2023
Economia Guarapuava

Por que o preço da carne subiu tanto nos últimos meses?

Conforme o professor do curso de Veterinária da Faculdade Guarapuava, Robson Ueno, o dólar em alta facilita a exportação, reduzindo a oferta

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Professor da Faculdade Guarapuava, Robson Ueno (Foto: Divulgação/FG)

O churrasco dos fins de semana diminuiu cada vez mais. Além disso, carne na mesa todos os dias já está fazendo parte do passado. É que cada vez que o consumidor vai às compras, o susto com os preços da carne é cada vez maior. Alia-se a esse motivo, a descapitalização do trabalhador provocada pela alta da inflação.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a carne aumentou mais de 4,5% em setembro e pressionou a inflação oficial do país. E a prévia do índice para outubro mostra que o produto continuou subindo. Assim, a previsão de alta é de quase 5%. Conforme o professor de Medicina Veterinária da Faculdade Guarapuava, Robson Ueno, alguns fatores contribuem para essa alta.

“Primeiro, a pecuária do Brasil é cíclica e cada ciclo dura em torno de cinco a seis anos”. Conforme Ueno, que também é coordenador de projetos na Cooperaliança, na fase de baixa do ciclo, existe grande oferta de animais para o abate. “E se tem muitos animais, o preço diminui e os produtores se desestimulam. Com isso, abatem as vacas, chamadas de matrizes”.

Portanto, sem matrizes, faltarão rapidamente animais para o abate. “Com menor oferta, o preço aumenta cada vez mais. No cenário atual, estamos vivendo uma escassez de animais para o abate, o que explica, em partes o aumento”.

Para se ter uma ideia, segundo o professor, em 2016 quando os preços estavam baixos, o brasileiro chegou a consumir 43 quilos de carne por habitante/ano. “A perspectiva em 2021, na alta dos preços, é de que este consumo seja de aproximadamente 25 quilos de carne por habitante/ano”. Ueno é professor de  Bovinocultura de Corte e Nutrição de Ruminantes na FG e doutor em Zootecnia.

OFERTA X EXPORTAÇÃO

No entanto, mesmo com a redução do consumo, os preços têm se sustentado altos. Isso porque a oferta tem se regulado pela exportação. “Com a valorização do dólar, outros países tem tido forte interesse em importar a carne brasileira”. O Brasil exportou, de janeiro a setembro, 10% a mais em volume de carnes do que no mesmo período de 2019.

E um dos grandes compradores é a China que vem exportando muita carne brasileira desde o fim do ano passado. E isso diminui a oferta de carne no mercado brasileiro, favorecendo o aumento de preço. Todavia, segundo Ueno, recentemente, vivenciamos um problema sanitário. Trata-se do caso atípico de encefalopatia espongiforme bovina, conhecido como doença da “vaca louca”.

De acordo com o professor, esse fato levou a China a restringir as importações de carne. “Vale ressaltar que este é o principal país importador da carne bovina brasileira. Portanto, nos últimos 30 dias, estamos vivenciando um aumento de oferta de carne no mercado interno, que está ocasionando a redução dos preços.

“O Brasil ainda depende da China. Se este país voltar a importar, os preços tendem a se manter em patamares altos. Caso isso não ocorra, a tendência é que os preços diminuam nas gôndolas dos supermercados”.

 

Cristina Esteche

Jornalista

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