Por trás da fumaça dos números!

A sucessão ao Palácio Iguaçu entrou em uma nova e frenética fase: a da guerra de narrativas por meio de números. Quase diariamente, o meio político paranaense sofre bombardeios com pesquisas de diferentes institutos, com metodologias, cenários e, consequentemente, resultados distintos. Essa avalanche de dados, mais do que esclarecer, parece ter o objetivo estratégico de criar percepções e armar os grupos que disputam o espólio político do governador Ratinho Junior.

É ingênuo acreditar que essa profusão de levantamentos visa apenas aferir a opinião pública. Na realidade, as pesquisas tornaram-se a principal munição na batalha interna pela indicação governista. Cada ponto percentual é brandido como um troféu nos bastidores para influenciar prefeitos, deputados e, claro, o próprio governador. Um resultado favorável, mesmo que dentro da margem de erro, vira um argumento para demonstrar viabilidade, enquanto um número desfavorável é rapidamente desacreditado pela “metodologia” ou pelo “cenário testado”.

Estamos assistindo, portanto, a uma campanha que não ocorre nas ruas. Mas em planilhas e releases para a imprensa. O objetivo não é convencer o eleitor, ainda distante de 2026, mas sim consolidar uma imagem de força no círculo do poder.

Entre a fumaça, um padrão se desenha

Apesar da confusão gerada por essa guerra de informações, um padrão sutil, mas politicamente relevante, começa a chamar a atenção de analistas mais atentos. Embora os resultados variem, na maioria dos levantamentos que circulam, sejam eles publicados ou de consumo interno, o nome do presidente da Assembleia Legislativa, Alexandre Curi, tem aparecido sempre com vantagem numérica sobre o do Secretário das Cidades, Guto Silva, quando se mede a preferência dentro do eleitorado mais próximo ao governo.

Essa consistência, ainda que com margens apertadas, não pode ser ignorada. Não significa que Curi seja, hoje, o favorito ou o mais competitivo no cenário geral. No entanto, indica que a máquina política dele, alicerçada na capilaridade da Assembleia Legislativa e na  histórica articulação com prefeitos e vereadores, pode estar sendo mais eficiente em transformar a influência de bastidores em intenção de voto reconhecida, pelo menos neste estágio inicial.

O que esse padrão realmente significa?

A ligeira dianteira de Curi em diversas pesquisas internas e publicadas sugere que a estratégia de consolidação política está produzindo resultados palpáveis. Enquanto a força de Guto Silva está intrinsecamente ligada à  imagem de gestor e braço direito do Executivo, a de Curi emana do poder de articulação do Legislativo. Aparentemente, a segunda tem se mostrado, até agora, mais fácil de ser convertida em números de pesquisa.

Isso cria para o grupo de Guto Silva o desafio de encontrar uma forma de transformar a influência administrativa em apoio popular mais explícito. Para o Palácio Iguaçu, essa “guerra de pesquisas” serve como um termômetro da capacidade de cada postulante em construir a própria viabilidade.

A sucessão de Ratinho Junior, no entanto, não será decidida por um único levantamento. Mas a persistência de um padrão, mesmo que discreto, inevitavelmente pesa na balança das decisões estratégicas que serão tomadas no futuro. A batalha dos números está em pleno andamento, e cada lado sabe que, na política, a percepção de força muitas vezes ajuda a criar a própria força.

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