22/08/2023

Precisamos dar tempo ao tempo

Cada dia que passa me convenço de que embora  a sociedade se regenere, ainda  que gradativamente, a política continua perversa e cínica, mesmo assim será ela que poderá nos salvar do caos e do terreno perigoso que estamos alojados. Temos uma tendência em sermos avessos à classe dirigente de nosso País e, costumeiramente não avaliamos ou julgamos, mas sim sentenciamos. Neste sentido, quando um dirigente público faz o razoável ou até mesmo o mínimo necessário, credencia-se à galeria dos sobreviventes desta naus. Assim, neste sistema político, a média mais alta é baixíssima.

Assim, diante do questionamento de muitos se haverá coisa diferente que não o fracasso, podemos dizer que sim, haverá.  Nem tudo está perdido. Como afirmou Quinzio, precisamos encontrar aquele pouco que se pode fazer e onde se pode fazer. Não podemos dar crédito à ingenuidade de imaginar que um Governo, seja federal, estadual ou municipal, contará sempre com os melhores e mais qualificado de cada segmento. Penso que nem Marina Silva conseguiria fazer isto.  Nem sempre os melhores estão à disposição e nem sempre os governos tem autonomia para fazer tais escolhas, uma vez que quase sempre os governantes estão no fio da navalha, em uma clara situação de instabilidade.

Questionado por alguém que me é próximo se, em curto prazo, há solução para nosso País, nosso Estado e nossa cidade, respondi secamente a exemplo de Norberto Bobbio: “Os problemas são tão complexos que não se pode resolver um sem que apareça um outro”.  Isto não é pessimismo, tão pouco ingenuidade, é tão somente ‘ler corretamente o que está acontecendo’.

A Presidente Dilma, a grande síndica, precisa continuar tendo governabilidade para administrar o País e, para tanto, mesmo a contragosto ou com sabor amargo, obriga-se a convidar e escolher pessoas que nem sempre comungam com seus eleitores diretos e indiretos. Não compreender isto é, no mínimo, insensatez.  Entre críticos daqui e dali, especialistas desta ou daquela área, não há consenso sobre possíveis remédios imprescindíveis para o momento nebuloso que vivemos em matéria econômica e em matéria política. A torre de Babel está próxima de qualquer País, inclusive do nosso. Temos mais incertezas que propriamente certezas e o pior, não se pode errar mais nada, sob pena de ver salários, empregos e conquistas sociais, desaparecerem.

Corre-se o risco de caminharmos em direção ao abismo, como também corremos o risco de sairmos desta areia movediça. Não se trata de percepção ou de ideologia, mas sim de objetividade, sentido e rapidez.

Tanto a Presidente como nosso Governador e Prefeito vive a tensão de governar com responsabilidade, mas com impopularidade ou o seu contrário, governar com popularidade, mas com irresponsabilidade.

Qualquer brasileiro sensato sabe que o momento é de cautela, tiro-curto, racionamento, contenção e escolhas que celebram perdas menores, até porque saber-se governar é também saber ser governado. Não há dúvida que se trata de uma das tarefas difíceis nos dias de hoje em que todos ‘responsável ou irresponsavelmente’ costumam nivelar todos os homens públicos com a mesma régua.

Não significa que devemos baixar a guarda e aceitar o veredicto de que nada podemos fazer.  Espernear é sempre melhor que ficar de cócoras. Assim, temos o dever moral de acompanhar o debate público, compreendê-lo em sua essência e buscar sempre o esclarecimento da coisa pública visando a democracia participativa. Esta deveria ser a finalidade de todos nós.   Nossa finalidade não deveria ser jamais prejudicial à casa de todos, mas nem sempre isto acontece, sendo o erro alheio sempre o mais divulgado e o mais fácil de ser exposto. Penso que, antes de sentenciarmos (fenômeno da pós-modernidade) é preciso sempre considerar o outro lado, até porque há pessoas mais preocupadas em deformar que propriamente informar. Não custa trazer à luz a velha máxima de que notícia ruim tem sempre destaque, mas notícia boa, nem sempre. Assim, recupero aqui um trecho de Plutarco que diz isto melhor. Escreveu: “tanto o perfume quanto o antídoto possuem um odor agradável, com uma diferença: um só serve para bajular o olfato, enquanto no outro o odor é apenas acidental, e sua finalidade é depurar os humores, aquecer o corpo e reparar suas forças”. Então, o momento exige de cada um de nós, discernimento, consciência e um pouco de propositividade.

Thomas More formulou a seguinte resposta a alguém que lhe cobrava que se pronunciasse com vereditos definitivos sobre o caráter de seus adversários: "Eu não disponho de nenhuma janela para olhar a consciência de outro homem; eu não condeno ninguém". Então penso que devemos dar tempo ao tempo.

 

Cristina Esteche

Jornalista

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