22/08/2023
Agronegócio

Preconceito, corporativismo ou a soma de muito mais?

Que o Brasil tenta mascarar o preconceito e a discriminação dizendo ser a maior democracia racial do mundo nem todos sabem. Mas isso se comprova nas manifestações que a imprensa nacional tem mostrado e que tem como autoria entidades representativas da classe medica. O posicionamento é contrario a vinda de medicos estrangeiros para prestarem serviços no Brasil, mesmo depois que o Ministerio da Saude priorizou o cadastramento para profissionais brasileiros no programa Mais Medicos. Duas etapas foram lançadas e uma terceira esta sendos aberta porque ainda há deficit desses profissionais para regiões mais pobres do País.

Mas o que causa maior indignação é a postura de um dirigente de entidade classista ao pregar publicamente que nenhum medico brasileiro deveria prestar atendimento se um paciente  for vitima de um profissional estrangeiro. É o cumulo de um interesse que coloca o corporativismo acima de uma vida humana, a mesma vida que jurou defender ao receber o “canudo”. Somam-se a essa indignação as vaias hostis disparadas por um publico vestido de branco durante a chegada de um medico cubano e negro em Fortaleza. Alem de uma manifestação racista a atitude vem  acrescida de forte conteúdo ideológico conservador e de direita. Afinal, o que o preocupa uma classe privilegiada  por uma formação academica de status? O espaço que sera ocupado por esses profissionais não são aqueles desprezados por medicos brasileiros? Por que somente a capacidade dos médicos, principalmente, cubanos, preocupa as entidades representativas da classe? Sera que no Brasil não existem profissionais passiveis de erros medicos? Sera que em Guarapuava famílias e pacientes não sofrem pela inoperância de profissionais da área de saude? Sera que não existem medicos que se negam a atender pacientes porque este não pode pagar o procedimento?  Sera que alguma dessa entidade fiscalizou a atuação de profissionais envolvidos em casos judiciais por morte de pacientes ou por marcas  em outros e que permanecerão por toda a vida? Sera que todos os medicos formados no Brasil são imunes a possiveis falhas? Por que não há um exame de revalida em todos cursos de medicina espalhados pelo País antes de  colocarem novos profissionais no mercado de trabalho?

Sera que o brasileiro sabe que os indicadores de saude em Cuba são os melhores da America Latina e estão à frente dos de muitos países desenvolvidos? Que a  mortalidade infantil, por exemplo (4,8 por mil), é menor do que a dos Estados Unidos? Que a expectativa de vida dos cubanos é também elevada, ou seja, 78,8 anos?

É claro que a situação da saude no Brasil é complexa, e que passa, principalmente, por uma revitalização ampla e irrestrita no sistema publico, com mais postos de saude, com mais médicos, com equipamentos, com medicamentos e tantas outras coisas mais. Mas é sabido que a atenção basica  resolve cerca de 80% dos casos que desembocam na rede de saude publica. É a medicina preventiva, é o cuidado com a família, com o habitat. É o atendimento humanizado, a mão amiga, o carinho, o profissionalismo no atendimento. É não ter receio algum em estender a mão, em ir até a favela, em trabalhar nos mais longínquos rincões desse Brasil de meu Deus. É encarar a fome que consome as pessoas, é buscar combater doenças endemicas. É ter vontade politica para fazer asa coisas acontecerem. A receita é simples: o amor ao sacerdocio da profissão; o comprometimento em preservar a vida do proximo, em ser solidario. E para tudo isso o idioma é universal! 

PS: Assim como em toda regra há exceção, há medicos (tambem em Guarapuava) que são comprometidos com o sacerdócio da profissão.

Cristina Esteche

Jornalista

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