22/08/2023
Agronegócio

Presidente do SINDITRIGO diz que Paraguai é maior concorrente do triticultor brasileiro

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O presidente do SINDITRIGO/PR e um dos vice-presidentes da Abitrigo, Marcelo Vosnika, ao proferir palestra hoje no WinterShow 2009, abordando a visão daquelas entidades sobre o mercado brasileiro de trigo, chamou a atenção para a triticultura no Paraguai. Em sua opinião, o país vizinho, investindo em tecnologia e aproveitando a proximidade com o Brasil, se tornou o maior concorrente para o produtor nacional e o paranaense de modo especial.

O site da Agrária conversou com Vosnika. Ele contou que a Abitrigo, em conjunto com outras entidades, lançou medidas para divulgar e incentivar o consumo de trigo e fortalecer o mercado interno. Realizado pela Cooperativa Agrária no distrito de Entre Rios (Guarapuava/PR), o WinterShow começou nesta quarta-feira e se estende até a tarde de hoje, 22/10, apresentando, no Centro Cultural Mathias Leh e na FAPA, palestras de especialistas e pesquisadores de culturas como trigo e cevada.

SITE AGRÁRIA – O sr. disse durante sua palestra que entre os concorrentes principais do produtor de trigo brasileiro, e do paranaense em especial, está o Paraguai. O que faria do país vizinho um forte concorrente?

MARCELO VOSNIKA – Não vou entrar na questão do custo de produção (no Paraguai). Sei que é mais baixo. Por logística, este volume (de trigo) que vem do Paraguai entra no Paraná. A região produtora (do Paraguai) é fronteira com o Paraná. Os produtores muitas vezes são os mesmos. Quanto mais (a produção) crescer lá, com o preço competitivo que eles tem, mais (o produto deles) vai tomar o mercado do produtor paranaense. Isso afeta o Brasil como um todo, mas o Paraná, pega em cheio. Tanto é que temos casos de moinhos no oeste (do Paraná), hoje, que tem uma logística fácil, que – eu diria – no ano safra passado, praticamente moeram 100% de trigo paraguaio. E eram moinhos que consumiam trigo paranaense.

SITE AGRÁRIA – O que é possível fazer no Paraná?

MARCELO VOSNIKA – A gente prega muito aqui – e que já acontece naturalmente – para que se faça a integração entre moinhos e produtores. Regionalmente. É o moinho da região ter os seus produtores, parceiros comerciais e indicar qual é a variedade que precisa, já focando qual é o seu o cliente. Acho que a tendência no Paraná e a sobrevivência dos moinhos aqui é essa. No Paraná, hoje, cresceu bastante o número dos moinhos que vendem para São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, mas acho que isso é muito sujeito à concorrência da farinha argentina. Agora, com esta taxa cambial, os moinhos que importam vão ficar muito mais competitivos do que os (que compram trigo) daqui. Aí, inviabiliza. A tendência seria atender mercados regionais.

SITE AGRÁRIA – O sr. ressaltou também que uma das ações, hoje, da Abitrigo, e uma das soluções que a entidade visualiza para o fortalecimento do trigo nacional, é o aumento do consumo no mercado interno. Como é que isso poderia ser realizado?

MARCELO VOSNIKA – O aumento do consumo surgiu porque, em conjunto com as outras entidades, de massas alimentícias, de biscoitos e de panificação, a gente ficou procurando pontos em comum, pontos de convergência, de todas as entidades, para que todo mundo trabalhasse junto. Se você pega assuntos como preço, produção nacional, etc, um quer uma coisa e, outro, quer outra. Agora vamos focar em assuntos que todo mundo quer. A questão do aumento do consumo é boa para todo mundo. Para a parte produtiva, também, é ótimo. Todo mundo ganha com isso. Então, vamos atuar nisso daí. Começamos a trabalhar, fizemos estas campanhas em conjunto com as outras entidades. Lançamos o site e o livro (Trigo é Saúde). A tendência, que eu vejo, é a gente conseguir criar hábitos (alimentares) um pouco melhores. Principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Eles ainda se alimentam muito de derivados de mandioca, por serem mais baratos. Mas nutricionalmente falando, a farinha de trigo seria muito melhor.

SITE AGRÁRIA – O sr. comentou ainda em sua palestra outro ponto de interesse da indústria e do produtor, lá no campo. Em países da Europa existe a tendência, hoje, de os moinhos oferecerem diversos tipos de farinhas.

MARCELO VOSNIKA – O que a gente vê é esta diversidade dos produtos. Cada vez o consumidor exige mais da gente. Você começa a ver os moinhos da Europa lançando 120 ou 130 tipos de farinhas. Uma coisa que muito me impressionou é que hoje eles já fazem esta farinha tipificada – com aveia, com centeio, sete grãos – para a venda em pacote de um quilo.

SITE AGRÁRIA – Esta tendência fortalece o mercado de modo geral, o produtor, os moinhos e os panificadores?

MARCELO VOSNIKA – Acho que sim, porque aumenta o consumo. A pessoa que comia só pão branco, normal, se tiver mais de uma opção, vai comer o integral. E é melhor para a saúde humana. A grande vantagem do trigo está nas farinhas especiais, integrais. É um hábito que a gente não tem. O pessoal aqui ainda preza, como sendo a melhor farinha, a farinha mais clara.

Fonte: agraria.com.br

Cristina Esteche

Jornalista

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