22/08/2023
Agronegócio Guarapuava Região

Produção de erva-mate ajuda a proteger a identidade cultural

A planta faz parte da história e costumes da Região Sul. Guarapuava, União da Vitória e Irati são responsáveis pela produção de 88% no Estado

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A produção da erva-mate está presente em 138 municípios do Paraná (Foto: José Fernando Ogura/ANPr)

A erva-mate sempre teve um papel muito importante na história do Paraná. Vegetação natural do Estado, a árvore constitui a história da Região e faz parte dos costumes do povo. Característica da Floresta com Araucária, a distribuição natural se estende aos três Estados do Sul do Brasil. No Paraná, somente a Região de Guarapuava, União da Vitória e Irati são responsáveis pela produção de 88% do Valor Bruto de Produção (VBP).

A produção da erva-mate está presente em 138 municípios do Estado. Inclusive, o núcleo de União da Vitoria é responsável por R$ 405,7 milhões. Além disso, a produção paranaense é a maior do País, conforme os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2021.

Com rendimento de 426 mil toneladas de erva-mate em 2020, o valor da produção extrativa não-madeireira no Estado cresceu 19%, totalizando R$ 1,9 bilhão.

Conforme a Engenheira Florestal, Daniele Ukan, o manejo de ervais nativos representam um dos sistemas agroflorestais mais antigos da Região Sul. A técnica permite a utilização mais eficiente dos recursos naturais na propriedade.

A produção da erva mate é considerada como uma proteção ao conhecimento tradicional e cultural. Além de trazer benefícios da conservação e uso sustentável da biodiversidade.

Quando a erva-mate é nativa, geralmente ela é sombreada por araucárias. A planta faz parte da vegetação sem ter tido intervenção humana para o crescimento no local. Na Região, a espécie mais produzida é a Ilex Paraguariensis. 

Conforme Daniele, que também é doutora na área de silvicultura, essa é a erva-mate mais cultivada no Brasil, porém existem diferentes cultivares comerciais, que “são adaptados a diferentes tipos de solo e temperatura. Além da quantidade de chuva, altitude, entre outras características que influenciam tanto no crescimento, como no desenvolvimento da erva-mate”.

PLANTIO DE ENRIQUECIMENTO

Daniele explica que as plantações de erva-mate sombreadas também se enquadram na técnica de ‘plantio de enriquecimento’. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a técnica consiste na introdução de espécies. Principalmente dos estádios finais da sucessão ecológica, em áreas com melhores condições do solo, já com presença de vegetação nativa. Porém, com baixa diversidade de espécies.

Dessa forma, além do impacto do clima, temperatura e precipitação, o método de cultivo pode influenciar no sabor, aroma, cor e teores de cafeína. Bem como dos antioxidantes e de teobromina presentes nas plantas. Apresentando assim, diferenciação entre a qualidade e sabor da erva-mate em cada Região do Brasil.

Conforme Daniele, o manejo da erva-mate representa ainda uma alternativa de diversificação econômica para agricultura familiar. Isso porque, ela pode ser consorciada com plantio de milho e feijão nos primeiros anos de plantio. E também combinar com o cultivo da bracatinga para exploração da madeira.

Desse modo, a produção de erva-mate é considerada uma proteção ao conhecimento tradicional e cultural. Já que ela tem muita relação com a tradição e a cultura dos povos que a consomem.

CONTROLE DE PRAGAS

Assim como qualquer produção, a erva-mate também enfrenta ‘inimigos’ na plantação. A partir de fevereiro, a broca, conhecida como besouro corintiano, aparece e pode prejudicar o cultivo.

A pesquisadora conta que ela ataca o tronco da erveira, impedindo a circulação da seiva. Isso prejudica o desenvolvimento da planta e pode provocar até a morte do pé. Dessa forma, exige do produtor uma reação imediata para o controle da praga.

No entanto, o impacto da infestação é menor nos ervais bem manejados. De acordo com a Agência Estadual de Notícias (AEN), as árvores sombreadas e que recebem periodicamente adubação orgânica ou química, têm maior resistência ao ataque da broca. Por isso, a recomendação é que os ervais sejam adubados a cada ciclo de colheita, ou 18 meses, para repor os nutrientes do solo.

Já Daniele indica que o produtor use o inseticida biológico chamado Bovemax. Ele é indicado para o controle da broca da erva-mate. A principal praga. Outros métodos de controle são por meio de poda.

NA HORA DO ‘MATE’

Tradicionalmente a erva-mate é mais popular no consumo do chimarrão. Contudo, ela é uma planta muito rica em qualidade energética. De acordo com Daniele, poucas pessoas conhecem o valor nutricional da espécie.

Ela é rica em antioxidantes e nutrientes que combatem os radicais livres, prevenindo o envelhecimento células. Além disso, a erva-mate aumenta a energia e o foco mental devido a presença da cafeína na composição. Ela também acelera o metabolismo provocando uma maior queima de gordura. Levando a perda de peso ao ser associado a uma dieta adequada.

Conforme a especialista, a planta também acelera o metabolismo e reduz o colesterol ruim. Ela ainda tem efeito diurético e propriedades afrodisíacas. Aliás, a erva-mate melhora o sistema imunológico e pode prevenir câncer e doenças cardiovasculares.

COSTUME E TRADIÇÃO

(Foto: Reprodução/Pixabay)

Além da importância na cadeia produtiva, na agricultura familiar e na economia do Estado e do Brasil, a planta faz parte da cultura do Sul. “A erva-mate é o chimarrão que está dentro da cuia”, como ressalta Daniele. O cultivo combina com os objetivos de desenvolvimento sustentável.

Por fim, de acordo com a pesquisadora, a produção da planta auxilia na erradicação da pobreza e diminui o êxodo rural. Isso porque, faz com que as pessoas fiquem no campo.

Proporcionando assim ao agricultor, renda, saúde e bem estar. Bem como, o crescimento econômico de pequenas propriedades e o desenvolvimento da indústria, por meio da inovação e da infraestrutura.

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Mariana Valente

Jornalista

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