por Thiago Rodrigues da BBC Brasil
Santaluz, Bahia – No mesmo final de semana em que um ataque a uma boate gay nos Estados Unidos chocou o mundo, uma pequena cidade do sertão da Bahia se mobilizou, de forma inédita, em repúdio ao assassinato de dois professores homossexuais.
Edivaldo Silva de Oliveira e Jeovan Bandeira deixaram a escola em que trabalhavam em Santaluz (a cerca de 260 km de Salvador), por volta das 22h da última sexta feira (10). Menos de uma hora depois, dois corpos foram localizados no porta-malas do carro de Edivaldo, às margens da rodovia BA-120. O veículo e os corpos estavam carbonizados.
Edivaldo, que era conhecido como Nino, foi identificado pela arcada dentária. Sob chuva, o corpo foi enterrado nesta terça (14), após um cortejo de duas horas que reuniu centenas de moradores. O outro corpo ainda passará por exames de DNA para identificação, mas familiares acreditam ser de Jeovan, já que ele está desaparecido desde sexta.
O delegado João Farias, que apura o caso, disse à BBC Brasil que a homofobia é uma das principais motivações do crime. A casa de Edivaldo foi encontrada revirada após o crime, mas objetos de valor, como computador, não foram levados. "Eles eram muito amigos e muito queridos na cidade. Também não teriam inimigos. Já ouvimos várias pessoas e por enquanto não descartamos nenhuma hipótese", disse o delegado.
Para o Grupo Gay da Bahia, que faz levantamento nacional de assassinatos de homossexuais, trata-se de mais um caso motivado por homofobia. "A cidade inteira acredita nessa motivação", disse Marcelo Cerqueira, presidente do GGB.
De janeiro a junho deste ano, segundo a ONG, foram 16 casos de assassinatos de pessoas LGBT na Bahia e 123 no Brasil. No ano passado, o GGB registrou 319 mortes por homofobia – ou um crime de ódio a cada 27 horas. Desse total, 33 (10,3%) foram na Bahia, que ficou atrás apenas de São Paulo, com 55 (17%).
PASSEATA
Na segunda (13), milhares de moradores da cidade baiana de 32 mil habitantes saíram as ruas em protesto por justiça no caso dos professores. Com faixas contra a violência, o grupo promoveu paradas em frente ao Fórum, à delegacia e à Câmara Municipal.
"Longe dos parques temáticos, do turismo cosmopolita e sem gozar do mesmo prestígio internacional de Orlando, Santaluz encurtou a distância da metrópole norte-americana", escreveu o jornalista baiano André Uzêda, do portal Aratu Online, em artigo de opinião sobre o episódio.