22/08/2023

Quanto há de verdade aí?

Quanto há de verdade aí?

Estamos longe da máxima magistral “que briguem as ideias, não as pessoas”.  Aqui o debate parece não ser debate  e as pessoas que se julgam esclarecidas insistem na defesa de que a verdade tem ‘marcas’ e ‘selo próprio’. Tudo é reduzido e simplificado de que ‘estes’ servem ao poder e ‘aqueles’ servem ao que querem combater o poder. Trocando por miúdos, dependendo da expressão e do posicionamento  de alguns, os mesmos fazem ‘o jogo da direita’ e, da mesma forma, dependendo da expressão e do posicionamento de outros,  os mesmos fazem ‘o  jogo da esquerda’.

Esta classificação tem sua perversidade, pois ignora que todos tem o direito de se manifestar, seja em fazer criticas ao sistema político vigente ou na defesa do sistema vigente.

Reduzir o pensamento ao  discurso de manter o status dominante ou de combater o status dominante é uma especialidade daqueles espíritos inferiores. Como são poucos aqueles que com ‘consciência’ e ‘originalidade’ emitem juízos claros, inovadores, independente de onde venha. Infelizmente, como afirmou Vladimir Safatle “os debates organizam-se a partir de uma polaridade simplória na qual nenhum pensamento um pouco mais elaborado é possível”.

Definitivamente não se vê nas redes sociais ou em lugares nobres e iluminados a grandeza do pensamento que considera o contraditório e o contraponto. São raros aqueles que mesmo vinculados a uma ideologia ou a uma tese política ou partidária, dão crédito a autores e ideias de outras vertentes. Trata-se de um jogo egoísta que só se ganha quando se defende o seu troféu.

O debate sério precisa considerar a palavra que não é controlada, que não vem do alto (já pronta) e que nasce da expressão e do olhar de pessoas abertas, secularizadas e responsáveis. Diferente de uma lógica de condomínio onde defendemos apenas o que nos interessa, precisamos estar em condições de exercitar uma maior horizontalidade, pois como bem afirmou Rancière “a verdadeira democracia se funda na possibilidade de que qualquer um possa se apropriar das palavras que circulam e dizer o que pensa, às vezes defendendo isto, às vezes defendendo aquilo”.

 Ao que parece, poucos estão preparados para considerar os fatos em si e ouvir aquilo que não gostam. Afinal, todos temos capacidade para sentir e aprender.

De fatos, os fatos em si da política nacional à política local não vivem seus melhores dias e, de norte a sul, começa prevalecer a tese de que “se não há algo melhor, fica-se com o que se tem”.   Na verdade, até procuramos algo melhor, mas quando nos deparamos com a ciência de que o que se procura ainda não existe, está com máscara ou não é o que se desenha, somos induzidos em instinto de sobrevivência a manter o mesmo time com pouca esperança. Quanto há de verdade aí?

O que se sabe é que as coisas estão em trânsito e o improviso e a incerteza passam a serem as únicas coisas que temos certeza. Como afirmou o filósofo da Unicamp, Marcos Nobre, “… hoje o horizonte temporal da política brasileira é de uma semana, duas semanas, um mês no máximo. Isso se chama crise aguda”. 

Cristina Esteche

Jornalista

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