Diariamente pessoas do mundo inteiro entram em uma luta para vencer a covid-19. No Brasil, 15.812.055 pessoas tiveram diagnóstico positivo para a doença e 14.330.118 pessoas já se recuperaram. Bernadete do Belém de Andrade, de 34 anos, faz parte dessa soma. A moradora de Guarapuava, integra o grupo dos 14.431 recuperados do município.
De acordo com Bernadete, no dia 20 de fevereiro ela estava com os pais, quando notou que estavam debilitados e pioraram durante o dia. Preocupada, ela e os irmãos levaram os dois ao médico. “Eu liguei para minha irmã mais velha. No entanto, isso aumentou minha preocupação, ela estava mais doente que meus pais. Estava com a voz fraca, rouca e ofegante, pausava várias vezes enquanto falava e deixou transparecer um cansaço ao se comunicar”.
Os familiares de Bernadete, assim como ela, contraíram a covid-19. Ela conta que durante quase um mês teve dias e dias de muito sofrimento e preocupação. Em 20 de fevereiro, ela internou o primeiro familiar e o sofrimento só aumentou até 15 de março, quando a última pessoa da família dela a contrair covid-19 morreu.
De dois em dois dias eu internava uma pessoa. Primeiro minha irmã, depois mãe, pai, tia e meu irmão. Quando todos esses internamentos terminaram eu procurei cuidar de mim. Eu senti um desespero enorme quando essas pessoas foram intubadas, sabendo que os casos eram muito graves. Eu não queria acreditar naquilo.
DIAS DIFÍCEIS
A mulher conta que mesmo estando muito debilitada, devido a situação que vivia e a doença, decidiu não buscar internamento. “Então, foi montada uma enfermaria em meu quarto. Como moro sozinha, cuidei sozinha do meu oxigênio e das 11 medicações que dormiram em minha cama durante aqueles dias”.
Conforme Bernadete, enquanto a saúde dela piorava, ela também recebia notícias de que os familiares não apresentavam melhoras. A mulher afirma que sentia dor no peito e dificuldades para levantar.
Entretanto, o que eu estava sentindo não era tão forte quanto a dor que assolou meu coração nos dias seguintes. Em 8 de março, durante a madrugada, eu desliguei meu oxigênio e dirigi até o hospital para fazer o reconhecimento do corpo do meu pai, o primeiro a morrer.
Dois dias depois, o mesmo processo ocorreu para que fizesse o reconhecimento do corpo da tia. No dia 15 do mesmo mês, Bernadete conta que recebeu uma das piores notícias, a irmã dela, de 43 anos, a primeira familiar a ser internada, também tinha morrido em decorrência da covid-19.
O irmão dela saiu do hospital, mas como ela afirma, não tinha como comemorar a alta médica pelos momentos difíceis que passaram e também, porque ele apresentou como sequela uma trombose venosa. A mãe de Bernadete, assim como ela e o irmão, se recuperou da doença. No entanto, passou por dificuldades para voltar a falar, ter coordenação motora, dormir, sair da cadeira de rodas e também apresentou perda de memória.
Eu e meu irmão estávamos exaustos e tendo uma recuperação muito lenta. Estávamos os três doentes, um tentando cuidar do outro com as forças que restavam. Minha mãe teve trombose cerebral, cinco coágulos foram vistos no cérebro dela. Então, iniciamos uma nova corrida contra o tempo, buscamos especialistas, exames e medicações. A luta nunca acabava. E ainda não acabou. Hoje, ela é considerada, e eu acredito nisso, um milagre. Pois está tendo uma evolução grandiosa. Fazemos fisioterapia respiratória juntas.
Por fim, Bernadete conta que se sente vitoriosa e que ter a mãe ao lado dela faz com que tenha vontade de viver da melhor maneira possível. “Eu quero muito agradecer minha segunda família, os profissionais da Escola Santa Teresinha o Menino Jesus. Eu trabalho lá e eles fizeram uma rede de orações e solidariedade enquanto estivemos doentes. Não tenho palavras para agradecer”.
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