Curitiba- O governador Roberto Requião anunciou nesta segunda-feira (2) que o Estado irá manter todos os investimentos previstos para 2009 como forma de combater os efeitos da crise do capitalismo global. Não vamos cortar gastos, reduzir investimentos, suspender obras, nem vamos reduzir qualquer dos programas dirigidos aos paranaenses de menor renda, como o Leite das Crianças, o Luz Fraterna e a Tarifa Social da Água, garantiu, em pronunciamento na sessão de abertura dos trabalhos da Assembléia Legislativa em 2009.
Cortar gastos é saída clássica, pouco criativa, desiluminada, preguiçosa, quando não espertalhona, disse o governador. Por que essa obsessão? Por que o Estado tem que sacrificar obras e investimentos, ainda mais obras e investimentos que vão atender os que mais precisam e dependem da administração pública?, questionou.
Afinal, o Estado gasta com saúde, educação, habitação, infraestrutura, saneamento básico, apoio à produção, estímulo à geração de empregos. Falam em cortar esses gastos, como se cortá-los fosse uma coisa boa, virtuosa, responsável, equilibrada, entre tantos adjetivos com que premiam ações administrativas fiéis à cartilha neoliberal, criticou.
Vamos manter a política do piso salarial regional. Com a fixação do nosso mínimo entre 527 e 548 reais, em maio de 2008, foram beneficiados, diretamente, 170 mil trabalhadores e, indiretamente, 210 mil assalariados que tiveram seus reajustes influenciados pela base do piso regional, explicou Requião.
Segundo o Dieese, o mínimo regional injeta em nossa economia mais de 400 milhões de reais, no decorrer do período de sua vigência. Como se vê, cortar salários, reduzir os ganhos dos trabalhadores, não é propriamente uma medida muito inteligente, falou.
Vejo por aí muitos Estados e prefeituras quebrados que aproveitam a onda da crise para suspender obras que não iriam fazer, para cortar despesas que não tinham condições de realizar, com crise ou sem crise, para negar aumentos salariais que não dariam mesmo. E proclamam que estão fazendo um choque de gestão, argumentou o governador.
Combatemos a crise investindo, construindo, melhorando a vida das pessoas, gerando empregos, dotando o nosso Paraná de infra-estrutura moderna, adequada, favorável a novos empreendimentos, disse Requião. A máquina pública do Paraná é a que menos custa, entre os estados do Sul. E, entre os 27 estados brasileiros, a máquina pública paranaense está em décimo-primeiro lugar entre as mais baratas, falou, citando dados de levantamento do Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada (Ipea).
BELLUZZO Em entrevista concedida à Agência Carta Maior ainda em outubro, nos primeiros momentos da crise, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo professor-titular da Unicamp e Presidente do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento explicava que não é o momento de sacrificar investimentos em nome de cortes de gastos e superávit primário.
Economia não é metafísica. Se fosse, o banco do Vaticano não acumularia prejuízos. É preciso expandir o gasto em investimentos que maximizem efeitos multiplicadores para trás e para frente, na forma de emprego, encomendas às cadeia produtivas e expansão de uso de capacidade instalada, disse.
Cortar investimento público em meio a uma crise como essa é reeditar a mesma receita que jogou a Alemanha ao nazismo, em 1933, alertou Belluzzo. O governo deve esquivar-se daqueles que ostentavam certezas graníticas nas virtudes da auto-regulação dos mercados. Suas lições maciças, esféricas eu diria, geraram, entre outros rebentos, a crise monstruosa que hoje nos ameaça, acrescentou.
(EN)