Curitiba – O governador Roberto Requião se reuniu nesta terça-feira (27) com representantes das principais centrais sindicais brasileiras CUT, Força Sindical, Nova Central, UGT e CTB e do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), para discutir os impactos da crise econômica mundial para os trabalhadores. Do encontro, realizado no Palácio das Araucárias, em Curitiba, saiu a decisão de criar o Comitê em Defesa do Trabalho, formado por representantes do governo, trabalhadores e empresários para avaliar impactos e tomar medidas contra a crise e seus efeitos sobre o emprego.
O trabalhador não causou a crise, e não pode pagar por seus efeitos. A crise é do sistema financeiro, do capitalismo internacional. Assim, a reunião foi positiva, pois há consenso de que é preciso enfrentar a crise com prioridade para a defesa do emprego, avaliou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Paraná, Roni Anderson Barbosa. Defender o emprego é defender a sociedade da crise, pois os salários são o rendimento, o meio de consumo, de todos os trabalhadores, argumentou.
A crise foi causada pelo mercado financeiro, pelo mercado de capitais. Mas agora quem causou a crise quer aproveitá-la para retirar direitos dos trabalhadores, propõe a flexibilização da Consolidação das Leis Trabalhistas. É preciso que fique muito claro que a crise é deles, não nossa. Então, por que agora querem apresentar a conta ao Estado, que está socorrendo bancos e empresas, e aos trabalhadores, querendo tirar os poucos direitos que temos?, disse o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT) no Paraná, Marcelo Urbaneja.
Não abrimos mão do emprego e não vamos aceitar quaisquer tentativas de flexibilizar os direitos dos trabalhadores. E nisso concordamos plenamente com o governador, falou o diretor de Relações Internacionais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Zenir Teixeira. Acredito que os trabalhadores e Requião estão em sintonia em suas avaliações sobre a crise, e encontramos o governador aberto a receber propostas e a colaborar na defesa do emprego e dos direitos do trabalhador, argumentou o sindicalista.
O encontro mostrou que o Governo do Paraná e os trabalhadores estão preocupados com o que a grande imprensa tenta impor à sociedade, alardeando números impressionantes de desemprego pra justificar a flexibilização dos direitos trabalhistas, afirmou Ernane Garcia Ferreira, vice-presidente da Nova Central Sindical dos Trabalhadores no Paraná. Nós, que estamos nas portas das fábricas, não vemos justificativa para tanto alarde, ao menos por enquanto, acrescentou.
O comitê sobre a crise vai reunir a partir da semana que vem para tirar propostas contra a crise, que serão encaminhadas para o Governo do Paraná. A idéia é que Estado e entidades sindicais busquem juntos soluções para a crise, principalmente com relação à manutenção do emprego, disse o presidente da Força Sindical no Paraná, Sérgio Butka.
FLEXIBILIZAÇÃO NA RAIZ DA CRISE A desvinculação entre o rendimento dos trabalhadores e a produtividade é o problema fundamental do modelo econômico neoliberal e uma das causas da atual crise econômica, de acordo com o economista norte-americano Thomas Palley. Ele participou do seminário internacional Crise Rumos e Verdades, promovido pelo Governo do Paraná em dezembro.
Palley demonstrou que as remunerações salários, aposentadorias e pensões dos trabalhadores não cresceram no mesmo ritmo da produtividade econômica. Depois de 1980, as remunerações pararam de crescer, mas a produtividade cresceu quase três vezes.
Daí decorrem dois problemas, segundo o economista. O primeiro é que aumenta a desigualdade de rendimentos, porque os salários são a fonte de renda da maioria das pessoas. O segundo é que você precisa emprestar, para criar demanda. Isso aumenta consideravelmente o risco financeiro e chega uma hora em que o trabalhador não terá condições de honrar o financiamento feito, o que cria fragilidade no sistema. E essa é a contradição do paradigma neoliberal, que está finalmente se mostrando, analisou Palley, pós-doutor em Economia e mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Yale (EUA).
Segundo o economista, a estagnação dos salários é fruto do cerco neoliberal, que emparedou trabalhadores com a globalização da economia, o Estado mínimo, a extinção dos direitos trabalhistas e o fim das políticas de pleno emprego justamente o que alguns empresários propõe agora como remédio para o desemprego em meio à crise.
(AEN)