22/08/2023


Geral Paraná

Safra de grãos deve ser recorde no Paraná no próximo ano

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Da Redação, com Assessoria 

A Secretaria da Agricultura e do Abastecimento divulgou nesta quinta feira (01) a primeira estimativa para a safra paranaense de grãos de verão 2016-2017, que começa a ser plantada neste mês de setembro. A pesquisa realizada pelo Departamento de Economia Rural (Deral) indica que a produção paranaense de grãos de verão poderá alcançar 23 milhões de toneladas, dependendo da normalidade do clima entre a primavera deste ano, com a semeadura das lavouras de arroz, soja, feijão e milho da primeira safra, e o verão de 2017, quando o ciclo se completa com os trabalhos de colheita. 

Caso esse volume de produção seja confirmado, ele será 14% superior ao obtido na safra de verão 2015-2016 quando foram colhidas 20,2 milhões de toneladas. O volume estimado de aproximadamente 2,8 milhões de toneladas a mais, está baseado na expectativa de aumento da produtividade, que pode ocorrer se não houver fenômenos climáticos severos, como ocorreu na safra 15/16, com excesso de chuvas na primavera e no verão devido o fenômeno El Niño que prejudicou fortemente as culturas de feijão, milho e soja. 

O Paraná planta três safras por ano – a primeira na primavera (grãos de verão), a segunda no final do verão e início do outono (feijão e milho segunda safra) e a terceira no inverno (trigo, cevada e demais cereais).

Para o secretário de Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara, a expectativa é boa e a nova safra deverá ser plantada sob a influência do fenômeno La Niña. “Em função disso, esperamos que o clima seja mais regular durante o ciclo plantio, desenvolvimento e maturação das culturas”, analisa.

O secretário acrescenta que as mudanças políticas e econômicas, a expectativa de retomada do crescimento do País e a demanda em crescimento, embora num ritmo menos acentuado, são fatores que motivam e impulsionam a setor produtivo a continuar investindo em tecnologia e qualidade.

Para o diretor do Deral, Francisco Carlos Simioni, os sucessivos eventos climáticos ocorridos entre a primavera de 2015 e o inverno de 2016, que está chegando ao fim – como excesso de chuvas, seca e frio intenso – foram os principais desafios dos produtores paranaenses na safra 2015-2016. “Por outro lado, há que se ressaltar, ainda, que com uma produtividade menor, as margens de rentabilidade se estreitaram com a queda de preços das commodities. Essa conjunção de fatores foi amenizada pela venda antecipada da safra desde o final de 2015 e o câmbio favorável entre dezembro/2015 até maio/2016”, avalia. 

De acordo com ele, agora as atenções se voltam para o clima aqui no Paraná e no Brasil e para o desempenho da safra norte-americana, que até aqui está indo bem. “Isso poderá influenciar no ritmo de comercialização e do processo de vendas antecipadas das principais commodities, como milho e soja, que estamos iniciando” acrescentou Simioni. 

ÁREA

 A área a total a ser cultivada no Estado é muito semelhante a da temporada passada, já que o Paraná está com sua fronteira agrícola esgotada. Assim, estima-se que serão semeados 5,9 milhões de hectares – cerca de 1% a mais do que na safra anterior.

Simione explica que verifica-se uma redução tímida da área de soja, que perde espaço para o milho em detrimento da vantagem comparativa de preços atraentes neste momento aos produtores. As demais culturas, como arroz irrigado e feijão primeira safra, também terão pequenos aumentos de área plantada.

O diretor do Deral avalia que com um sistema de produção desenvolvido com alta tecnologia, os produtores paranaenses buscam maior eficiência e mais qualidade, considerando a concorrência crescente entre os principais países produtores mundiais de grãos. “Ressalta-se ainda que a demanda mundial por grãos está aquecida, com tendência de preços em declínio, devido à concentração de compra concentrada pelos países asiáticos, com destaque a China”, disse. 

Assim, acrescenta Simioni, a profissionalização dos produtores paranaenses se reflete na produção de grãos, os nivelando aos europeus e norte-americanos. A eficiência é ponto determinante para amenizar os desafios do clima, com o uso correto de agrotóxicos, o plantio escalonado e rigorosamente dentro do zoneamento agrícola de risco climático.

SOJA

Este é o primeiro ano em que há inversão do plantio de soja, que nos últimos 15 a 20 anos vinha ganhando área. Nos últimos cinco, seis anos, praticamente todas as culturas plantadas no Estado perderam área para a soja, o que fez com que a cultura incorporasse grandes áreas, que resultaram em sucessivos recordes de produção.

Apesar dessa inversão, em cenário de clima normal, a previsão do Deral ainda é de safra recorde, podendo atingir um volume de 18,2 milhões de toneladas, informou o economista Marcelo Garrido, chefe da Conjuntura Agropecuária do Deral. A área plantada deverá atingir 5,23 milhões de hectares, cerca de 50 mil hectares a menos que a área plantada no mesmo período do ano passado, que foi de 5,28 milhões de hectares.

Garrido explica que o principal fator de sustentação da cultura da soja ainda é o preço, que tem oferecido boa rentabilidade ao produtor. Este ano, o produtor recebeu cerca de 16% a mais na saca de soja vendida, que representou um ganho adicional de R$ 10,00 em cada saca de soja comercializada.

Segundo o Deral, o grão, que foi vendido em média por R$ 61,00 a saca com 60 quilos durante 2015, este ano foi comercializado por R$ 71,00 a saca.

O Paraná perdeu cerca de 1,8 milhão de tonelada de soja em relação à previsão inicial na safra 2015/16, devido ao clima, mas os preços se sustentaram em função da valorização do dólar frente ao real, que elevou os ganhos do produtor. Garrido chama a atenção do produtor que estão se formando muitas variáveis de preços – como cenário externo de produção e câmbio não tão elevado – que podem frustrar as expectativas de bons ganhos, como aconteceu na safra passada.

MILHO

O milho é o grão que mais ganha área plantada na safra 2016/17. A cultura avança 17%, passando de 413.775 hectares na safra passada para 484.940 hectares na safra 16/17, o que representa uma recuperação na área plantada de 71 mil hectares. Já a expectativa de produção avança ainda mais, em torno de 28% devido à rentabilidade do grão, que representa o dobro da rentabilidade da soja.

A produção esperada com o plantio de milho é de 4,24 milhões de toneladas, quase um milhão de toneladas a mais sobre a safra anterior, que rendeu 3,3 milhões de toneladas durante a primeira safra, informa Edmar Gervásio, técnico do Deral.

Segundo Gervásio, a expansão no plantio de milho está sendo impulsionada pela valorização do grão, que aumentou 68% no último ano. As cotações médias recebidas pelo produtor avançaram de R$ 21,00 a saca, em agosto de 2015, para R$ 35,00 a saca em agosto deste ano.

Este é o primeiro ano que o milho ganha em área plantada. A cultura vinha perdendo espaço para a soja nos últimos anos, movimento que se acentuou a partir de 2012. Só na última safra, o milho perdeu 24% de área, o que representou 129 mil hectares que deixaram de ser plantados ou quase um quinto da área, compara o técnico. O milho da primeira safra já chegou a ocupar área de 1,45 milhão de hectares plantados no início dos anos 2000.

Como ocorreu quebra na safra passada de milho, há escassez de produção e a expectativa é que os preços do grão se mantenham acima de R$ 30,00 a saca no mercado, o que está levando os produtores a plantarem o grão em detrimento da soja.

FEIJÃO

Pelos mesmos motivos do milho, o feijão da primeira safra no Paraná também ganha em área plantada. Este ano, o Deral prevê uma área plantada de 196.927 hectares na primeira safra, cerca de 7% a mais que em igual período do ano passado quando foram plantados 184.884 hectares.

Com isso, a previsão de produção também se eleva. Em condições normais de clima, o Paraná poderá colher 368.209 toneladas de feijão, cerca de 26% a mais que no mesmo período do ano passado, quando foram colhidas 291.914 toneladas de feijão.

Nesta primeira safra, concentra-se o plantio de feijão preto na região Centro-Sul do Estado, que representa 81% da produção total de feijão, de acordo com o engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Alberto Salvador.

A exemplo do milho, há escassez de feijão no mercado devido às perdas na safra passada, provocadas pela corrente climática El Niño, que provocou excesso de chuvas e prejudicou as lavouras. Segundo o Deral, o Paraná perdeu 20% da produção esperada, o que corresponde a 151 mil toneladas a menos na colheita.

A quebra na safra do feijão ocorreu no Paraná – Estado que mais produz feijão no País – e também nos demais estados produtores. Com isso, os preços do grão dispararam no comércio.

Atualmente, o preço do feijão de cor está 250% mais caro que no ano passado, mas o produtor não tem mais produto para vender. O feijão preto está 133% mais caro que em 2015 e também está escasso no mercado.

Ao longo do ano, a valorização rendeu bons ganhos para ao produtor, que vendeu o feijão de cor por uma média de R$ 246,00 a saca este ano, cerca de 94% a mais que no ano passado, quando o produto foi vendido por R$ 127,00 a saca.

Já o feijão preto foi comercializado este ano por cerca de R$ 159,00 a saca, 54% a mais que no mesmo período do ano passado, quando foi vendido por R$ 103,00 a saca. Segundo Salvador, se a safra de verão do Paraná que começa a ser plantada agora for bem sucedida, a tendência é de acomodação nos preços.

Cristina Esteche

Jornalista

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