22/08/2023
Segurança

Sem terra reclamam de truculência; major contesta

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Os trabalhadores rurais sem-terra que foram retirados da Fazenda Cury, na localidade de Monte Alvão, distrito de Guará, estão reivindicando a garantia de que poderão retornar à área para colher as roças já plantadas e que estão quase na época da colheita.
“É a nossa sobrevivência e fruto de um trabalho de seis anos”, clamou um dos trabalhadores que não quis se identificar por segurança.
A desocupação judicial do imóvel de 734 hectares, dos quais 60 alqueires de área mecanizada, 40 alqueires de floresta nativa e o restante de pastagens, começou nas primeiras horas de terça-feira, 10, e se estendeu até a quinta-feira, 12. Apenas 24 famílias ocupavam o imóvel, mas as péssimas condições da estrada, segundo a Polícia Militar, impediram que caminhões entrassem para o transporte dos pertences das famílias. A equipe foi composta por 178 policiais.
As ações durante a desocupação são divergentes. Se de um lado a polícia garante que a operação comandada pelo major Daniel dos Santos foi pacífica, de outro o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), núcleo de Guarapuava, diz o contrário. “Houve desacato por parte de policiais, principalmente das mulheres; tiro para o alto; e pessoas foram obrigadas a colher abóbora, batata doce e milho verde para policiais levarem para casa”, disse uma representante do MST à TRIBUNA. Outras pessoas tiveram que buscar água e colocar nos radiadores das viaturas, de acordo com o Movimento.
Além de segurar porcos e galinhas, recolher celulares e câmeras fotográficas (que foram entregues no final da tarde de quarta-feira), jogar mochilas e comida no mato, segundo depoimentos, policiais tentaram inibir, principalmente, mulheres e crianças.
“Lá pelas seis horas da tarde, eles (policiais) diziam que era para nós se arrancar dali com as crianças se a gente não quisesse morrer, pois os seguranças do fazendeiro já iam chegar. Caminhei mais de oito quilômetros com minhas três filhas até encontrar abrigo”, contou uma das mulheres.
“Eles queriam que eu fosse arrancar bata-doce e abóbora da minha roça para levar para casa. Quando disse que não faria isso, me bateram com uma arma que não conheço e fui chamado de vagabundo”, depôs outra pessoa. Depoimentos como esses engrossam um relatório do MST ao qual a TRIBUNA teve acesso.
A polícia não concorda com essas informações. “As ações da polícia acontecem dentro do princípio da legalidade e garantimos apenas a segurança dos dois oficiais de justiça que foram cumprir mandado judicial”, disse o major Daniel dos Santos, que foi o comandante da operação.
“A minha tropa tomou café da manhã no quartel, almoçou marmitex do restaurante que tem a cerca de cinco mil metros da entrada da área, fez lanche. Não ia deixar de comer algo de qualidade para comer milho, abóbora, mandioca. Isso é um disparate”, afirmou.
Outra contestação feita pelo major se refere à possível intimidação às mulheres, homens e crianças. “Não negociamos com eles, não desmanchamos barracos, não mexemos em seus pertences, porque sabemos que são porcarias para nós, mas relevantes para eles. Até levamos o SIATE para atender alguém que estivesse machucado, em especial as crianças que são mal cuidadas, andam sujas, maltrapilhas e descalças”, disse o major. Ele também garante que nenhum tiro foi disparado. “Veja a mordomia dos sem-terra. O proprietário da fazendo levou caminhões e equipes para desmontar barracos, carregar e levar essas pessoas onde elas quiseram ir. Eles não ajudaram em nada. Foi a desocupação mais pacífica das seis que fiz até agora na região. Eles sim, destruíram a mata nativa e colocaram árvores na estrada para impedir a nossa chegada”, afirmou. Para o major, as manifestações dos sem-terra, “são atitudes de quem perdeu a razão”.

Cristina Esteche

Jornalista

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