22/08/2023
Agronegócio

Seminário destaca importância da qualidade e regionalização do trigo

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Em Guarapuava, técnicos da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), Ocepar e Coodetec apresentaram informações técnicas, perspectivas de mercado e novidades sobre classificação no Seminário “O Futuro do Trigo”, realizado na noite de ontem, quarta-feira (29), no anfiteatro do Sindicato Rural.
O economista da FAEP, Pedro Loyola, abriu o seminário com informações sobre a nova classificação do trigo, que entra em vigor em julho de 2012. Ele destacou que o assunto vem sendo discutido com o governo nos últimos dois anos e que a nova classificação era para ter sido implementada em 2010, sendo adiada para 2011, mas como as variedades de sementes que estavam sendo vendidas para essa safra que está sendo plantada estavam com a informação da classificação antiga, foi novamente solicitado ao governo uma nova prorrogação, desta vez para julho de 2012. “Desta forma, os produtores que vão plantar trigo em 2012, devem estar atentos à nova classificação, que serve para definir critérios de qualidade do trigo nas políticas públicas de apoio à comercialização do governo federal previstas na Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), como as Aquisições do Governo Federal (AGF) e os Prêmios de Escoamento da Produção (PEP). As mudanças devem influenciar a escolha das variedades de sementes, as técnicas de manejo, a segregação e o preço final do produto”, explicou o economista.
Segundo Loyola, a classificação ficou mais rigorosa e dividida não só em moagem e outras variedades, mas também em trigo para alimentação humana. Outra novidade é que ela faz uma aderência à classificação da indústria. “O produtor que pensava antes apenas em produtividade e pH do trigo vai ter que mudar sua mentalidade e buscar produtividade aliada à qualidade. O ideal são lotes padronizados e evitar misturar variedades no campo. As regiões produtoras também devem começar a trabalhar com a ideia de regionalização das variedades, pensando em cargas homogêneas”, destacou.
Sobre o mercado de trigo, o engenheiro agrônomo do Sistema Ocepar Robson Mafioletti, destacou que o produtor deve pensar no trigo sempre como um sistema de produção. “É uma cultura de inverno interessante para diluir custos da cultura de verão. Sabemos que nos últimos anos os preços não cobriram os custos de produção e para a safra 2011/2012 a situação não é tão favorável como a safra passada, quando ocorreu a quebra de produção em alguns países como a Rússia e a Ucrânia, favorecendo os preços internacionais do trigo. Além disso, a safra passada teve recorde de produtividade e boa qualidade”, observou.
Mafioletti citou ainda que houve grande redução de área plantada em algumas regiões do Paraná, em detrimento do plantio de milho safrinha. “Aqui na região, as alternativas de inverno são trigo, cevada e pastagens. O clima estava um pouco seco, mas veio a chuva, então tudo indica que será um ano favorável no que diz respeito à produtividade e qualidade”. Ele lembrou da ameaça do trigo argentino, destacando que a qualidade do trigo daquele país está baixando e que o trigo brasileiro, principalmente o paranaense é melhor. “O que preocupa é o trigo do Paraguai e do Uruguai, que tem um custo muito mais baixo do que o brasileiro, mas o caminho é a regionalização, a organização das cooperativas, sindicatos e produtores para o plantio de variedades, segregando ao máximo, para atender um mercado específico. É preciso um relacionamento mais próximo com a indústria, um sistema para reduzir custos e também a exportação do trigo. No Brasil, estamos apenas começando, aprendendo a trabalhar com segregação, mas estamos no caminho certo”.
Na terceira e última palestra da noite, o engenheiro agrônomo da Coodetec, Francisco de Assis Franco, gerente do programa de pesquisa de trigo, apresentou informações sobre pesquisas que estão caracterizando as cultivares em função dos parâmetros que a indústria tem utilizado na compra do trigo. “É importante entender como funciona a questão da qualidade, conhecer as cultivares através dos parâmetros, dos resultados que elas apresentam em termos de qualidade industrial. Só assim é possível direcionar para um grupo de cultivares que tem os mesmos parâmetros, fazer mistura e entregar um produto de boa qualidade”, explicou.
De acordo com Franco, o que hoje está acontecendo no mercado é a mistura de cultivares com parâmetros de qualidade diferentes, gerando uma mistura que não tem valor de qualidade para pão, nem valor de qualidade para biscoito, por exemplo. “É importante que a assistência técnica e produtores procurem as informações em dias de campo sobre as cultivares para direcionar o plantio para o próximo ano. A ideia é criar uma identidade do trigo nacional, definindo a cultura conforme a região”, diz.
O produtor rural Carlos Eduardo Luhm, que participou do seminário, destacou a importância do evento, salientando que o problema do trigo é a comercialização e a garantia de preço. “Existe uma classificação e os parâmetros, mas o produtor não recebe os preços compatíveis. Isso está motivando o desinteresse pela cultura. A nova classificação é mais rígida que a anterior, que já prejudicava o produtor principalmente no recebimento desse trigo. Então, não vou plantar agora. Prefiro esperar”, comentou.
O seminário “O Futuro do Trigo” também foi realizado em Ponta Grossa, Pato Branco e São João. Em Guarapuava, 70 produtores rurais, técnicos e estudantes participaram do evento, que também teve um caráter social, com a arrecadação de fraldas descartáveis geriátricas para a Campanha Produtor Solidário.

Cristina Esteche

Jornalista

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