22/08/2023

Serenidade

Serenidade. É  o atributo que mais precisamos no momento.  Alguns radicalismos podem até ser justificados e em algumas situações, podem até ser necessários. Todavia, neste momento tenso no que diz respeito mais à economia que propriamente à política, precisamos de um comportamento de maioridade e um pensamento que considere a casa de todos. Não dá para assumir o que alguns futurólogos estão alimentando com discursos assustadores, ou seja, o fim do Brasil, mas no fundo das aparências a situação é complexa. Neste quesito o leitor tem que ter uma atenção especial, pois o roteiro das eleições não poderá fugir das grandes questões: como recuperar nossa economia; como estabilizar nossas contas públicas; qual remédio tomar para voltarmos a ter o mínimo de imunidade diante de crises que vão e voltam. Ora, nosso pessimismo tem sido nosso pesadelo e as saídas estão obtusas. O preocupante é que até o presente momento, não há nenhuma sinalização de que qualquer um dos três presidenciáveis em melhor colocação nas pesquisas enfrenta o problema com clareza.

Entre tantas leituras que fiz na última semana, duas me chamaram mais a atenção.  Uma delas diz respeito ao polêmico artigo de FHC veiculado em vários jornais brasileiros, simultaneamente, sobre a economia e a política ou vice-versa. Independente de sua gestão presidencial ser classificada disto ou daquilo, de sua aposentadoria oficial da vida pública e de seu vínculo ad eterno com o PSDB, o que ele escreveu precisa ser objeto de reflexão para todos nós. Não tenho procuração para endossá-lo ou demonizá-lo como muitos costumam fazer aqui e ali, mas encarei seu escrito como uma espécie de ‘zelo pelo país’ neste momento de turbulência mais econômica que propriamente política. No meio do furacão o polêmico texto do Banco Santander que gerou ataques e defesas, próprios de uma bela Copa do Mundo. 

Escreveu FHC: “Abro ao acaso os jornais desta semana: os europeus advertem que a produtividade do país está estagnada; o humor do varejo em São Paulo é o pior em três anos; a produção industrial e a confiança dos industriais não param de cair; o FMI publica documento oficial assinalando que nossa economia é das mais vulneráveis a uma mudança no cenário internacional e ajusta mais uma vez para baixo a projeção de crescimento do PIB brasileiro em 2014, para 1,3% (seriam otimistas?); o boletim Focus, do BC, prevê um crescimento ainda menor, de 0,9% (seriam os pessimistas?); o juro para a pessoa física atinge seu maior patamar em três anos; a geração de empregos é a menor para o mês de junho em 16 anos (…)”.

Evidente que o desenho pintado acima tem a responsabilidade de um pincel com cores partidárias bem definidas, mas mesmo assim retrata incontestadamente o que muitos já sabem. Analistas políticos detentores de crédito compartilham a tese de que o mercado não deve intrometer-se na política. Concordo em número, gênero e grau e interpretei o conteúdo do documento do banco Santander como tendencioso ou como “o cúmulo do oportunismo partidário”, mas, por outro lado, dotado de uma máxima que pode ser verdade e que nos deixa em pânico, afinal qualquer vencedor do pleito de outubro de 2014 terá em suas mãos um ‘presente de grego’ ao estilo da famosa frase de Lula ‘nunca antes na história deste País’.

Exageros à parte não é hora de maniqueísmos ou de infantilidade política. É hora de zelo por aquilo que já foi conquistado e que está prestes a ir para o espaço.

Não consigo esquecer que o mesmo governo que condena radicalmente a ingerência do mercado na política já usufruiu de seus benefícios em outra circunstância, pois quando os ventos (da economia) estão a favor, os governos nadam de braçada. De fato, está impossível ‘tapar o sol com a peneira’, pois é líquido e certo que um mar de dificuldades está sendo ocultado ‘estrategicamente’ para salvar a lavoura ou  então acabá-la de vez.  Não tenho dúvida que as pragas desta lavoura estão sendo disfarçadas de trigo para não vir a público neste momento nosso pior mal estar. É necessária uma dose de muito bom senso para em ato cirúrgico combater o câncer que cresce nas contas públicas e uma expectativa de crescimento quase nula.

A outra leitura vem do filósofo italiano Giorgio Agamben, ‘profanações’, que nos convence que independente de qualquer coisa que possamos fazer no mundo da política, tal empreendimento fica sempre aquém da economia, evidenciando que temos uma “vida a crédito’”. O veredicto não é dos mais simpáticos, pois temos uma política colonizada pela economia.

Enquanto muitos cidadãos estão torcendo para Dilma ficar ou para Dilma sair ou ainda, muitos abandonaram completamente o exercício de pensar sobre isto, estamos correndo o maior risco de todos. Agamben alfineta: “não são os indivíduos com nome e sobrenome que exercem o poder. Tampouco são as instituições e os grupos formalmente organizados. São os jogos de investimentos que controlam o mundo. Para além das decisões (…) dos governantes efetivos, age o jogo das apostas dos mercados computadorizados”. O que fazer? Para onde ir?

Todo cuidado é pouco. O que parece mais correto  é investir em quem tem conhecimento claro, serenidade e que nos dê respostas claras e objetivas sobre nosso amanhã e que aponte qual o melhor remédio para que nossa expectativa de vida não seja encurtada.

Como já escrevi anteriormente pensar sem raiva nem ódio é uma boa maneira de não se deixar enganar pelo que aparenta ser, mas isto é coisa para pouquíssimos. A máxima de que “uma coisa não deixa de ser verdadeira por não ser aceita por muitos homens”, ganha cada vez mais adeptos.

Não tenho dúvida que é preciso ir contra o pior e optar pelo fazer certo, mesmo em períodos eleitorais. Torço para que este Governo, no uso de suas atribuições, faça o melhor. Se o fizer, poderá recuperar meu apreço.

Apesar disto, ninguém pode eximir-se de suas responsabilidades. Como bem sentenciou Graciliamos Ramos:  “(…) é fácil se livrar das responsabilidades. Difícil é escapar das conseqüências por ter se livrado delas”. 

Por Claudio Andrade. ( mestreclaudio@uol.com.br )

Professor do Departamento de Filosofia da UNICENTRO.

Escreve também em seu blog www.guarapuavatube.com.br

 

Cristina Esteche

Jornalista

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