22/08/2023
Esportes

Série Ouro reúne equipes com realidades distintas

imagem-14291

Guarapuava – O Campeonato Paranaense de futsal, Série Ouro, elite do esporte no Estado, começa no fim de semana reunindo equipes com características bem diferentes. Enquanto algumas chegam a possuir até 70 patrocinadores, outras possuem dois. O apoio que as prefeituras dão aos times também é distinto, embora quase todas auxiliem seus representantes: em certas equipes as administrações municipais chegam a bancar até 80% das despesas, já em outras, o apoio se resume a auxílios referentes a algumas taxas.

Assim começa o estadual no ano em que o Paraná baterá recorde de participação na Liga Futsal, o Campeonato Brasileiro da modalidade, com quatro times: Umuarama, Marechal Rondon, Cascavel e Foz do Iguaçu, sendo que a dois primeiros estiveram entre os oito melhores da competição ano passado, alcançando o melhor resultado do Paraná na Liga Futsal desde sua criação em 1996.

Patrocínios

As características do comércio e empresariado de cada cidade fazem com o montante arrecadado pelas equipes seja diferente. Embora a grande maioria das diretorias evite falar em valores, é possível ter uma idéia das diferentes realidades vivenciadas pelos clubes através do porte e da quantidade das empresas que os patrocinam.

Em Marechal Rondon, a equipe local tem como principais patrocinadores uma cooperativa e uma indústria de biscoitos da região. “Além delas temos cerca de 70 apoiadores, alguns são de outras cidades e até de outros Estados e estão conosco por causa da cooperativa”, informa o supervisor da equipe, José Eduardo Santana. Ele comenta ainda que a participação do time no Brasileiro aumenta as despesas em torno de 35%. “Procuramos agregar os jogos fora de casa, para que os mesmos sejam realizados durante uma única viagem. Isso aumenta o desgaste dos atletas, mas economizamos financeiramente”, destaca.

As outras três equipes que disputarão a Liga Futsal também possuem patrocínios de grandes empresas, além dos fornecedores de material esportivo que cedem as franquias para que os times possam participar da competição. No caso de Umuarama, os principais patrocinadores são uma empresa do ramo alimentício e outra do comércio de móveis; em Cascavel, uma rede de supermercados, uma loja de móveis e uma empresa do comércio de carnes; em Foz, que retorna ao Brasileiro depois de nove anos, uma empresa de assistência médica, os Correios e Itaipu Binacional.

Os gastos, assim como no caso de Rondon, também aumentarão, embora em diferentes níveis: Umuarama calcula que o time gastará o triplo de dinheiro em comparação aos tempos em que jogava apenas o Paranaense. Já Cascavel avalia que a soma extra dobrará. “A alteração é considerável devido a transporte, hospedagem e alimentação, embora a Liga Futsal nos devolva um pouco do dinheiro gasto através de um fundo de caixa que a mesma possui”, explica o presidente do Cascavel Futsal, Martin Lara.

Situação bem diferente é verificada nas equipes de Telêmaco Borba e Clevelândia, que foram convidadas a disputarem a Série Ouro devido às desistências de Pato Branco e Paranaguá, respectivamente, justamente por falta de recursos. Telêmaco Borba possui até agora dois apoios vindos de uma academia e uma panificadora local. O time ainda procura o patrocínio máster, responsável pelo apoio mais significativo aparecendo, inclusive, no nome fantasia do time. “Aqui vivemos da renda de pequenos patrocinadores, falta apoio do grande comércio. Além disso, a Klabin [empresa da cidade que fabrica papel] não demonstra interesse em nos ajudar”, comenta o colaborador da equipe, Samuel Carneiro.

O caso de Clevelândia é parecido. Apesar de possuir um patrocinador máster, os jogadores não são profissionais, treinam três vezes por semana, recebendo ajuda de custo de acordo com a situação de cada jogador. Uma das formas que a direção encontrou para arrecadar dinheiro foi a criação do plano “Camisa 6”, onde o torcedor paga R$ 100 por mês e assisti a todas as partidas do time com direito a um acompanhante. “Existem poucas indústria aqui. Além do patrocínio principal, contamos ainda com dez banners dentro do ginásio. Com isso pretendemos trabalhar com um orçamento de 10 mil reais mensais”, informa o presidente do time, João Carlos Reichemback.

Para se ter uma idéia, Guarapuava, quinto colocado em 2009, gastou em média 50 mil reais mensais. Algumas pessoas ligadas ao futsal estimam que os gastos médios dos times que disputam o Paranaense ficam entre R$ 30 mil e R$ 100 mil.

Apoio municipal

De uma forma ou de outra, praticamente todas as prefeituras auxiliam as equipes. O que varia é a forma como ajuda é fornecida e o que ele representa para os times. Entre os grandes, o apoio que as prefeituras dão normalmente se refere ao disponibilização da estrutura para treinamentos e, em alguns casos, verbas para o pagamento de alojamentos e alimentação dos atletas na cidade.

Nos casos de Umuarama e Marechal Rondon, as equipes desenvolvem projetos esportivos junto à comunidade. “A nossa associação realiza trabalhos esportivos com crianças e jovens, realizados sob a orientação dos monitores. Esse é um dos motivos pelo qual a prefeitura nos ajuda”, explica o supervisor de Umuarama, Írio Brol. Situação semelhante acontece em Rondon com uma associação que possui escolhinhas em várias modalidades esportivas.

Já as equipes hoje consideradas de médio porte, do ponto de vista de investimentos, passam por situações diferentes. Em Maringá, a prefeitura municipal chega a arcar com 80% das despesas da equipe local, administrada pela organização não-governamental Ciagym, que possuí trabalhos de base no futsal e na ginástica rítmica. Apesar de Maringá ser hoje a terceira maior cidade do Estado e possuir várias indústrias, na cidade os administradores esportivos também reclamam da falta de incentivo. “Aqui o investimento no esporte é pequeno. É muito difícil conseguir apoio na iniciativa privada”, afirma supervisor da equipe, Manoel Luiz Neto, o Ika.

Em Londrina, o time local conta com o patrocínio de uma instituição de ensino. Além dela, a prefeitura auxiliará o time este ano com R$ 210 mil, que equivale a 30% do orçamento anual. “Possuímos um convênio com a prefeitura que nos repassa a verba diretamente através do fundo municipal destinado projetos esportivos”, comenta o diretor da equipe, Júlio César Brevilheri.

Em Guarapuava, ano passado à prefeitura contribuiu com 20% do orçamento do time. “Essa ajuda vem através de funcionários cedidos à equipe, repasses de ISS e fornecimento de moradia aos atletas. Esse auxílio foi aprovado pela Câmara e prestamos conta dele”, explica o supervisor da equipe, José Valter Liberato.

O apoio fornecido pelas prefeituras dos times que chegaram a Série Ouro este ano, por sua vez, é bem mais restrito. Em Telêmaco Borba, o auxílio diz respeito ao pagamento de algumas taxas junto a Federação Paranaense e ao transporte, apesar do orçamento apertado do time. Em Clevelândia, a prefeitura ajudava o time local, até o ano passado, com o transporte para os jogos e o alojamento para os atletas. Mas com a participação do Bourdeaux, time de futebol da cidade, no Paranaense da terceira divisão, o futsal de Clevelândia perdeu o direito ao alojamento.

Amigos ou inimigos?

A situação de Clevelândia suscita outra questão importante: é possível times de futebol e futsal conviverem na mesma cidade com equipes de bom nível? Das quatro cidades que possuem times na Liga Futsal, apenas uma, Cascavel, tem uma equipe na elite do futebol estadual. Pato Branco, por exemplo, anunciou que desativaria sua equipe de futsal no começo do ano, já que o objetivo em 2010 era investir no futebol.

Santana, do atual campeão Marechal Rondon, acha que é difícil conciliar os esportes. “Como nossa cidade é pequena, nos atrapalharia bastante um clube de futebol. E isso não é um problema só nosso, basta analisar exemplos de cidades como Toledo e Ponta Grossa que não conseguiram conciliar os dois esportes. Quem perdeu com isso foi o futsal. Curitiba só agora está voltando com o esporte. Também é possível observar essa mesma situação em cidades de outros estados como Jaraguá do Sul e Joinville”, opina. Ele destaca como principal empecilho a fuga de patrocinadores, já que o retorno obtido com o futsal é bem menor que o do futebol.

Opinião diferente tem Lara, que também atua como dirigente do Cascavel no futebol. “Para mim não existe problema. Desde que as administrações sejam transparentes, o público dá seu respaldo”, opina. Brol e Brevilheri pensam de forma semelhante, embora o primeiro também destaque que em Umuarama os dois times da cidade disputam divisões inferiores no futebol.

Já o segundo reconhece que a compatibilidade é mais complicada em cidades menores. “Aqui em Londrina, esportes como basquete e handebol tiveram ótimos públicos, chegando a superar o futebol em alguns momentos. Mas o pessoal de municípios menores, como Cianorte, por exemplo, chegou a reclamar algumas vezes, principalmente quando as partidas eram realizadas em horários próximos”, comenta.

Ika também concorda com eles e cita o horário diferente das competições – as partidas de futsal normalmente acontecem no sábado à noite, enquanto dos jogos de futebol ocorrem em geral no domingo à tarde – e o público diferenciado para avaliar que os esportes podem coexistir. Mas por outro lado, ele destaca que as más gestões no futebol local dificultam a chegada de novos patrocínios para o futsal. “Esse histórico ruim nos atrapalha bastante, agregando valor ao futsal também, apesar de serem esportes diferentes. Isso é um processo que já dura há anos e afasta os patrocinadores”, analisa.

Cleyton Lutz – Rede Sul de Notícias

Foto: Guarapuava contra Marechal em 2009: times possuem diferentes orçamentos( blog Clique Esporte)

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.