Em Guarapuava, 4.304 pacientes já se recuperaram da covid-19. Em entrevista ao Portal RSN, sobreviventes relataram como foi o processo de recuperação e o que mudou na rotina ao conviver com a doença.
De acordo com uma paciente de 26 anos, a grande surpresa estava em descobrir cada dia um novo sintoma. “Eu estava bem assistida, tomando a medicação de protocolo certinho, o que assusta são os sintomas que cada dia é uma surpresa e você não sabe o quanto pode agravar o que você está sentindo”. Ela que não tinha comorbidades, apenas histórico crônico de sinusite, teve que ficar isolamento e parar as atividades diárias como trabalho e lazer. Consequentemente, isso a afetou psicologicamente.
O isolamento é horrível, porque você fica literalmente sozinho, e faz exames para checar como estão as coisas. Chega um momento que você não tem mais o que assistir, o que ler, bate o tédio, e agrega com os sintomas da doença. O isolamento com alguns sintomas é com certeza a pior parte de tudo.
Conforme o psicólogo Silvio Ortiz, o isolamento pode causar transtornos psicológicos em alguns pacientes. “O principal é ansiedade, mas depressão e transtorno de estresse pós-traumático também podem ocorrer”. E alguns estudos recentes, como o de San Raffaele, em Milão (Itália), apontam que 55% dos 402 pacientes monitorados após contraírem covid-19 desenvolveram ao menos um transtorno psiquiátrico.
Apesar disso, a jovem não teve transtornos, mas sentiu que isso afetou o psicológico de alguma maneira. Além disso, o processo de recuperação não é tão fácil quanto parece.
O processo de recuperação foi difícil para uma pessoa normal, mas tranquilíssimo comparado a outros casos de positivados por aí. Consegui recuperar em casa mesmo. Mas as dores são horríveis, as descobertas diárias é o que mais te surpreende. Isso porque você acorda bem e depois surge uma dor de cabeça insuportável, aí depois melhora e surge uma dor no corpo que parece que dói a carne… Enfim, a recuperação pra mim foi tranquilo comparado a outros casos, porém foi bem dolorida comparada a uma pessoa sem covid-19.
De acordo com o Silvio Ortiz, a recomendação para pessoas que se recuperaram da doença e tiveram os sintomas de transtornos psicológicos é o monitoramento. “É preciso monitorar os sintomas [psicológicos], se eles não vão cedendo ao longo dos dias. Se eles [sintomas psicológicos] forem aumentando, é importante a pessoa procurar um profissional da saúde mental, para ver qual seria a demanda dela e a indicação de tratamento”.
AGRAVAMENTO DE TRANSTORNOS
Todavia, para outra paciente de 21 anos que já sofria de transtornos psicológicos como depressão e ansiedade, a doença acabou agravando o quadro. “Foi muito difícil, porque eu não podia ver a minha família e nem meus amigos. E na minha casa, fiquei apenas no meu quarto, pois eu poderia contaminar minha mãe e minha irmã. Fiquei também mais ansiosa, me sentindo sozinha e isso me afetou muito”.
Ela que também não tinha comorbidades, não estava saindo desnecessariamente. Mas, acabou se contaminando no trabalho.
SEQUELAS
Contudo, apenas recuperar-se da doença não é o fim das consequências ao “pegar” o coronavírus. Em muitos casos, a doença traz sequelas a quem consegue sobreviver ao vírus. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde, as sequelas dessa infecção não se limitam apenas ao sistema respiratório, tendo sido registradas no sistema cardiovascular e nos sistemas nervoso central e periférico. Bem como, sequelas psiquiátricas e psicológicas.
A paciente relatou que teve sequelas também, como perda de paladar e olfato, sendo 100% enquanto positivada. Entretanto, ela já recuperou uns 85%. “Ainda existem coisas, eu ainda não sinto cheiro e nem sabor, e até onde eu sei não existe uma previsão comprovada de até quando que pode voltar ou não. Tive sinusite (nunca havia tido antes), fiz a medicação de 15 dias com antibióticos. Mas dependendo do dia ainda sinto a dor de cabeça parecida com a de sinusite”.
Desse modo, é preciso ter consciência e continuar se protegendo, para também proteger os outros. Conforme a Organização Mundial da Saúde, as recomendações continuam. Portanto, lave bem as mãos com água e sabão, utilize máscara e álcool gel. Por fim, evite aglomerações e mantenha uma distância segura de pelo menos dois metros.
*Nomes de pacientes positivados não podem ser publicados.