22/08/2023
Cotidiano

Tocha contesta versão da empresa que administra ferryboat

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“Agora estou sofrendo muito e juntando os pedaços da minha vida, mas preferia ter ido junto com ela”, diz o tatuador Juscelino Carlos Nassar, 41 anos, conhecido por todos como Tocha. Ele procurou a redação da Tribuna/Rede Sul de Notícias para falar sobre o acidente que sofreu juntamente com a esposa Maristela da Silva Tiburcio, de 31 anos – que não resistiu e faleceu cinco dias após o ocorrido – e mais três amigos na baia de Guaratuba.
Na madrugada de terça-feira (8), por volta das 3h30, o carro que ele conduzia caiu no mar ao tentar entrar na balsa para fazer a travessia de Guaratuba a Matinhos, quando voltava para a casa de seu sogro, onde estava hospedado no final de semana. Segundo o que foi publicado na mídia estadual, com informações da assessoria da empresa que administra o Ferryboat, a F. Andreis, o motorista teria desobedecido as orientações dos funcionários e seguido um trajeto diferente dos demais veículos. Ao tentar entrar no ferryboat o veículo caiu no mar, do lado direito do atracador da embarcação. O local tinha quatro metros de profundidade.
No entanto, Tocha contesta a versão da empresa, dizendo que há muitas informações que não correspondem com a verdade. “Todo mundo divulgou o que a assessoria de imprensa da F. Andreis publicou, ninguém não foi atrás de mim no hospital perguntar o que havia acontecido”, desabafa.
Segundo Juscelino, tinham cinco pessoas no carro – ele, a esposa, dois amigos e a esposa de um deles. O retorno a Guarapuava estava programado para terça-feira (8) a tarde. Na noite do dia 7 de setembro foi até Guaratuba buscar seu amigo e acabaram ficando por mais tempo. “Nos reunimos em 15 tatuadores e acabamos fazendo uma confraternização, conversamos e trocamos idéias”.
Na madrugada decidiram voltar para Matinhos. Ele conta que enquanto esperavam para embarcar foram surpreendidos por uma chuva muito forte, que chegou a apagar as luzes dos postes. Foi quando a balsa chegou (e não o ferryboat como a empresa divulgou).
“Na minha opinião eles deveriam ter segurado um pouco, esperado uma estiada para então abrir a cancela, mas o rapaz com uma capa de chuva veio correndo em direção ao nosso veículo pedindo e apressando nossa entrada. Daí eu liguei o veículo, acendi as luzes do farol, liguei o pára-brisa e o desembaçador e peguei o rumo para entrar na balsa. Não consegui ver a diferença de tamanho da balsa, ela tinha encostado em uma lateral, e não na parte central, e a gente foi reto. Só que a balsa é bem menor do que o ferryboat, cujas medidas se encaixam no atracadouro, o que não acontece com a balsa. Não tinha ninguém sinalizando e orientando e nesse meio tempo o Fábio falou ‘tá errado’, eu pisei no freio, mas o carro já mergulhou e começou o terror”, lembra.
Tocha diz que o carro caiu de bico no mar e em questão de cinco segundos o veículo já estava cheio de água. Após tentativas sem êxito de sair do carro, ele e a esposa desmaiaram. O tatuador não sabe como saiu do carro, mas afirma que não teve ajuda dos funcionários da F. Andreis e também desmente que foi retirado pelo Corpo de Bombeiros. Segundo o marinheiro que o retirou do mar, o seu corpo boiava de bruços sobre o mar, assim como o de Maristela.
Os três amigos que estavam atrás do carro conseguiram sair após quebrar o vidro de uma janela lateral. Tocha e a esposa foram reanimados e encaminhados ao hospital. Maristela permaneceu internada em estado grave na UTI do Hospital Regional do Litoral, em Paranaguá, para onde havia sido transferida, até o último domingo (13), mas não resistiu. Ela faleceu por volta das 14 horas.
“Minha esposa estava muito fraca, ela tinha feito uma cirurgia de hérnia de hiato fazia dois meses e ainda estava em recuperação. Ela tomou muita água, entrou em choque. Está sendo bem difícil”, comenta Tocha emocionado.
Devido à ingestão da água do mar, Juscelino teve princípio de pneumonia e faz tratamento a base de antibióticos.
Revolta
Além da dor da perda, ele se diz revoltado com as mentiras divulgadas. “O pior é o fato de dizerem que eu não obedeci ordens e que estava embriagado, tudo mentira. Não foi negligência minha, mas da empresa que em nenhum momento contava com funcionários orientando num momento como aquele, com forte chuva e pouquíssima iluminação. Eu quero provar tudo isso, vão ter que limpar meu nome e tirar esse estigma que criaram em cima da minha pessoa, vou correr atrás disso”, ressalta.
O inquérito deve ficar pronto em menos de um mês.

Na foto, Tocha e outros dois passageiros que também estavam no veículo.

Cristina Esteche

Jornalista

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