22/08/2023
Geral Guarapuava

Toma um chá que passa!

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Por Any Ossak, Walquíria de Lima e Taís Nichelle, para Ágora Online 

Guarapuava – Como bem explica Darwin, a transmutação é o passe para a evolução.  No caso dos seres humanos, essa lógica foi confrontada de modo avassalador. Se o homo sapiens está aqui hoje é porque, ao longo da história, não apenas foi capaz de adaptar-se ao ambiente, como também  adaptou o ambiente às suas necessidades. A medicina é uma dessas conquistas e talvez a mais importantes de todas, pois impediu que a nossa espécie fosse extinta pela seleção natural.

Hoje muito avançada, é capaz de tratar de forma rápida e eficaz diversas doenças. Mas, e no passado? Como nossos antepassados cuidavam da saúde? A resposta para essa pergunta é a síntese de um casamento muito bem sucedido: a sabedoria do homem se aliou ao poder da natureza. O uso de plantas como medicamento é tão primitivo que pode ser considerado fruto do instinto. Bem antes do surgimento da escrita, o homem já utilizava ervas para fins medicinais. Guiados pela necessidade de buscar alimentos no solo, nossos ancestrais foram descobrindo que algumas dessas plantas atuavam como remédio.

De geração em geração, esses conhecimentos foram repassados e ainda hoje conquistam diversos adeptos, é o que afirma José Vicente Bobato, farmacêutico bioquímico e dono de uma loja de ervas medicinais no centro de Guarapuava.

"Trabalho com plantas medicinais desde 1988 e a procura pelo tratamento fitoterápico é uma tradição passada de pai para filho. Tem gente que entende do assunto e já chega sabendo qual erva levar. Já outros pedem indicações sobre qual planta é indicada”, conta

José trabalhou por anos em laboratório de análise, mas mesmo assim afirma que a fitoterapia não substitui a medicina tradicional. “Faço a indicação através de uma análise dos sintomas, só que deixo claro que isso não substitui os remédios feitos em laboratórios, é um tratamento que deve ser usado como complemento”, reforça.

Além disso, o farmacêutico alerta que é preciso de conhecimento a respeito do preparo dos chás. “Tem que saber preparar para não perder as propriedades medicinais. A camomila, por exemplo, se a água estiver muito quente, perde seus óleos essenciais”,. Por outro lado, o fato de ser natural é uma das maiores vantagens desse tratamento alternativo. “A maioria dos produtos químicos possuem efeitos colaterais que podem prejudicar a saúde. No caso das plantas, é bem menos agressivo”, complementa ele.

MAS AFINAL, FUNCIONA MESMO?

Camomila realmente acalma? Marcela ajuda a amenizar enjoo? Chá de boldo é tira e queda para dor no estômago? As avós juram que sim, mas afinal… Funciona? Carlos Ricardo Maneck Malfatti é professor doutor e coordena um grupo de pesquisas sobre ervas medicinais. Ele afirma que sim, a sabedoria popular tem fundamento.

“A partir da década de 70, as pesquisas a respeito dos medicamentos naturais se intensificaram bastante. Existe um desafio, que é partir de um conhecimento popular para construir um conhecimento científico popularizado. Isso é feito a partir da análise laboratorial da substância da planta que supostamente atua como remédio. Se for comprovado o efeito medicinal, essa substância é usada como princípio ativo e registrada como fármaco natural”, explica Carlos.

De acordo com professor, atualmente, há cerca de 40 fitoterápicos registrados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa.

Ainda de acordo com Malfatti, deve-se ter um certo cuidado, pois são diversas variáveis que atuam no resultado. “Um exemplo é uso do boldo. Ele é realmente benéfico para transtornos gástricos, tanto que foi patenteado para tal uso. Mas, apenas é capaz de trazer benefícios se for cultivado e preparado corretamente, além de ser colhido na época certa. Além disso, muitos produtos naturais podem reverter quadros fisiopatológicos iniciais, também chamado de condição pré clínica ou limítrofe para desenvolvimento de patologias”, conta.

O professor cita como exemplo a Diabetes, com estágios iniciais pré diabéticos, aonde a glicemia está em níveis limites para evolução de hiperglicemia severas.

Porém, o especialista alerta sobre a importância de buscar informações confiáveis. “No site da Anvisa, por exemplo, é possível se informar sobre o assunto. Deve-se tomar cuidado com informações encontradas na internet e recomendações de quem não é um especialista no assunto”, esclarece.

As pesquisas a respeito do tema estimularam o surgimento de novos profissionais especializados em tratamento fitoterápicos. Marilda Feliciano é formada no curso de Medicina Alternativa e trabalha com bioenergéticos (tratamento natural por meio de chás). Ela conta que estudou por três anos e hoje atende pacientes que buscam alternativas naturais para cura de doenças.

“Possuo uma planilha que consulto para indicar qual tipo de planta é eficaz de acordo com os sintomas e peculiaridades de cada pessoa. É uma profissão regulamentada, temos certificado, porém, ainda enfrenta preconceito por parte de alguns profissionais da saúde. Alguns médicos aceitam, mas não apoiam”, explica Marilda.

Ficou curioso para saber quais ervas funcionam e para que? Confira no guia de plantas medicinais regulamentadas pela Anvisa (CLIQUE AQUI).

 

Cristina Esteche

Jornalista

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