22/08/2023
Esportes

Torcedores cegos e com baixa visão contarão com audiodescrição em quatro estádios

Para melhorar a experiência de cegos e pessoas com baixa visão nos estádios, o Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014 e a Fifa oferecerão um serviço pioneiro de narração audiodescritiva em quatro estádios do Mundial.

A audiodescrição é semelhante à narração de rádio, mas com ênfase na experiência do estádio. O narrador especialmente treinado fornece uma descrição adicional de todas as informações visuais significativas, como linguagem corporal, expressão facial, entorno, lances, uniformes, cores e qualquer outro aspecto importante para transmitir a aparência e o ambiente do estádio.

“O serviço de audiodescrição fala como a torcida está se portando, quais são as brincadeiras, como o juiz corre… Algumas coisas que ninguém acha que são importantes, porque estão todos vendo”, diz Anderson Dias, presidente da Urece Esporte e Cultura para Cegos, ONG parceira da Fifa e do COL que trabalha com projetos especiais para pessoas com deficiência visual. “Na audiodescrição de avaliação de voluntários, ouvi o gol do Ronaldo na final da Copa do Mundo de 2002 e ouvi que o Oliver Kahn fica no chão, chateado, triste, e o Ronaldo sai comemorando de braços abertos. Isso se perde nas transmissões de TV e rádio”, completa Dias, que foi bicampeão mundial e campeão paralímpico de Futebol de 5 em Atenas 2004.

A narração audiodescritiva será disponibilizada em português em quatro estádios da Copa do Mundo: Belo Horizonte (Mineirão), Brasília (Estádio Nacional Mané Garrincha), Rio de Janeiro (Maracanã) e São Paulo (Arena Corinthians). Haverá dois locutores por jogo, e a narração será transmitida por radiofrequência e captada em fones de ouvido individuais. Torcedores cegos ou com baixa visão podem sentar-se em qualquer lugar do estádio.

Oportunidade
Pelo menos 16 voluntários, quatro de cada uma das cidades-sede selecionadas, passarão por um programa de treinamento intensivo promovido pelo Centro de Acesso ao Futebol na Europa (Centre for Access to Football in Europe – CAFE) e pela Urece.

A voluntária Natália Caldeira, de 29 anos, que trabalha com deficientes visuais desde 2004, comemorou a chance de participar desse projeto na Copa em seu país. “É uma oportunidade incrível. Não só de estar num jogo de Copa, mas de transmitir a essas pessoas o que acontece e tornar sua experiência mais real. É uma responsabilidade muito grande, mas tenho certeza de que a gente vai ter diversas lições até lá e vai conseguir fazer isso direitinho. Estou preparada”.

Legado
Após a Copa do Mundo do Brasil, o equipamento de narração instalado em cada estádio será doado às entidades locais dispostas a fazer parte do legado do projeto. “O mais interessante é o legado humano que estamos deixando: esses voluntários estão recebendo o conhecimento sobre como passar a narração para pessoas que são cegas ou com baixa visão”, ressalta Paula Gabriela Freitas, líder da Equipe de Sustentabilidade da FIFA no Brasil. “São brasileiros que vão ficar aqui e vão poder, depois, realizar esse serviço não somente em jogos ou eventos esportivos, mas em eventos culturais e de outros tipos.”

Joyce Cook, diretora geral do CAFE, reforça o discurso e mostra objetivos ambiciosos para o Brasil. “Nossa vontade é ver todos os estádios e arenas esportivas do Brasil com este serviço; que se torne algo normal. Que pessoas cegas e com deficiência visual possam ir a eventos esportivos com naturalidade, ouvindo o serviço de narração audiodescritiva e tendo o serviço completo”.

Fonte: Agência Brasil

 

Cristina Esteche

Jornalista

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