22/08/2023


Cotidiano Guarapuava

Traumas na infância e adolescência podem se agravar na fase adulta

Jovem que tentou suicídio diz que foi difamada dentro da igreja. "Aceitei a opinião de que remédios e depressão não eram de Deus"

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Traumas na infância e adolescência podem se agravar na fase adulta (Foto: Reprodução/Pixabay)

Dentro de mim havia rejeição, mesmo eu tendo tudo, mesmo não me faltando nada, dentro de mim faltava receber carinho. Eu sofri bullying. No fundo me magoava, e aquilo me fazia sentir inferior, menos bonita. Até que surgiu alguém que se interessou por mim.

Mas ainda não era a solução dos problemas enfrentados pela então adolescente Jéssica Furlan, de 13 anos. Hoje aos 28 anos, ela afirma que era parecia conto de fadas. Mas que ‘por amor’, sofreu abuso sexual sem saber.

Não houve estupro, mas houve carícias indevidas diversas vezes. E eu não entendia o que estava acontecendo. Me deixava confusa e na minha inocência de 13 anos, aceitava. Dentro de uma igreja fui difamada, ninguém me defendeu. Me afastei da igreja por anos, vivi um relacionamento longo e abusivo (psicologicamente). Eu pensava que aquilo era o melhor que tinha para mim.

Em muitos casos, quando os transtornos psicológicos não são tratados devidamente na infância ou na adolescência, eles continuam assombrando a vida das pessoas. Ao chegar à vida adulta, os problemas de Jéssica continuaram. E aos 25 anos, ela tentou suicídio. Conforme o relato de Jéssica ao Portal RSN, as situações que se desenrolaram na pré-adolescência, contribuíram para os traumas na fase adulta.

Depois de formada em Publicidade e Propaganda, a maquiadora encontrou na espiritualidade, forças para continuar. Mas, diante de uma nova crise, ela pensou em procurar ajuda. Porém, ela desistiu após ser julgada.

Me aproximei novamente de Deus, pois era o único que poderia me dar forças pra segurar a barra. Nesse meio tempo, ‘casei’, acarretei mais responsabilidades do que eu aguentava. Até cheguei a ir atrás de ajuda profissional, porque sabia que não estava bem. Mas devido a pessoas mal preparadas que estavam ao meu redor, aceitei a opinião de que remédios e depressão não eram de Deus. E por medo de parecer ‘louca’ ou ‘problemática’, deixei de lado a ajuda. Pois seria um motivo para não me encaixar na ‘família perfeita’.

A VIDA CONTINUA

Tentando se reerguer na profissão, após ter que parar para cuidar dos pais, ela ainda sentia os sinais de que não estava bem.
“Fingi estar bem! Mas era evidente os sinais de que eu não estava. Até que passei por mais uma calúnia dentro da Igreja. Isso foi um trauma lá atrás e agora novamente, vivi uma semana de muita pressão, mais uma vez não fui defendida nem ajudada”.
De acordo com Jéssica, isso foi a gota d’agua que bastava a jovem atentar contra a vida novamente. “Chega uma hora que você não aguenta mais a dor, as frustrações, o peso que existe dentro de você. Assim, você acha que somente a morte é a única saída. E nesse momento, você não pensa em ninguém, só enxerga a própria dor”.
Jéssica diz que apesar daquilo parecer o fim, foi o começo. Com o tratamento psiquiátrico e psicológico, além do apoio da família, ela ficou bem.

Primeiro precisamos reconhecer que precisamos de ajuda, e não ver isso como algo negativo. Depois, ter o apoio da família, e se você tem alguma crença ou religião, se apegar nisso também. E principalmente, aceitar a ajuda profissional.

Neste Setembro Amarelo, o Portal RSN, está fazendo uma série de reportagens de alerta e prevenção ao suicídio e trazendo informações sobre a saúde mental das pessoas. Além disso, como ajudar pessoas que perderam a vontade de viver. Assim, por mais sensível que seja o tema, é preciso falar sobre depressão e suicídio.

CANAIS DE AJUDA

Diversos canais oferecem ajuda gratuita, como o Centro de Valorização da Vida (CVV), que atende voluntariamente e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e voip 24h, todos os dias. O número é o 188 e também é possível acessar o site para chat.

Além disso, existe em Guarapuava o ‘Guarapuava Salvando Vidas – GSV’. O site GSV está sempre no ar. Com atendimento on-line de domingo a sexta, das 19h às 23h e no sábado, das 19h às 22h.

Leia outras notícias no Portal RSN.

Antunes

Jornalista

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