22/08/2023


Cotidiano Guarapuava

Travesti denuncia exploração de cafetina contra ‘trans’ que vêm de fora

"As travestis de outras cidades são obrigadas a ficar na pensão para poderem trabalhar na avenida. Assaltam para poder pagar a dívida"

sexo

Travesti denuncia exploração de cafetina contra ‘trans’ que vêm de fora (Foto: Reprodução/Unsplash)

Quem passa pela Avenida Manoel Ribas, uma das principais via de Guarapuava, já se habituou com a presença de prostitutas. Lá estão elas, seja durante o dia, com intensificação logo que a noite cai. Entretanto, a presença de travestis predomina, mesmo durante a pandemia. Aliás, não se tem informação se há fiscalização nesse ramo de atividade.

Porém, de acordo com a informação de um policial, a prostituição em si não configura crime. “Porém, algumas atividades que envolvem a prostituição são criminosas”. Uma delas é a exploração por parte de cafetinas e cafetões.

De acordo com denúncia recebida pelo Portal RSN feita por uma travesti, em Guarapuava a exploração domina o ramo. Porém, essa condição leva à prática de crimes como roubo, extorsão, entre outros  delitos. “Não aceito isso que está acontecendo na minha cidade. As travestis que vêm de fora ‘queimam’ a cara de quem é do bem, que não fazem nada de errado”. Ela se refere a ocorrências policiais envolvendo travestis.

‘PIVÔ’

A autora da denúncia, cujo nome está sendo preservado por questões de segurança, disse que o ‘fio da meada’ está na exploração de uma travesti que domina os ‘pontos’ na avenida Manoel Ribas. “Ela [cafetina] montou uma pensão só pra trans onde ficam as quem vêm de fora”.

De acordo com a denunciante, sempre são entre oito e nove travestis que ficam na casa, no Centro da cidade. “Elas são obrigadas a ficar lá para poderem trabalhar na avenida. E aí acabam fazendo dívidas e começam a assaltar para poder pagar as diárias da pensão e outras dívidas que têm com a dona do pensionato”.

Segundo a denúncia, a travesti combina um valor do ‘programa’ com o cliente, mas na hora de receber cobram outro. “Como o cliente não aceita, elas assaltam”.

EXTORSÃO

Conforme a polícia civil, nesta terça (22), houve a prisão de uma travesti por extorsão a um cliente. “Elas descobrem a identidade do cliente e começam a exigir dinheiro. A ameaça é que tem vídeo feito durante o ‘programa’ e que vão divulgar”.

Durante a denúncia, a guarapuavana assegura que a maioria das “marginais” são de fora. “Nós de Guarapuava não trabalhamos na Manoel Ribas porque não pagamos pra ela [cafetina]. Quem é daqui e trabalha lá, precisa pagar. Não é justo que nós que somos daqui tenhamos que pagar por erro das travestis de fora que vêm e aprontam na cidade. Eu não sou marginal. Trabalho, pago impostos. Sou correta e sou uma cidadã de bem”.

Entretanto, segundo a polícia, há o conhecimento da existência do pensionato. Porém, não há nenhuma denúncia registrada.

EXCLUSÃO DO MERCADO DE TRABALHO

A denúncia feita pela travesti guarapuavana, entretanto, leva a uma outra reflexão. Além da invisibilidade, da marginalização da sociedade, a violência predomina em todos os sentidos. Entretanto, a ONG Transgender Europe cita a exclusão do mercado de trabalho como como uma das causas que levam grande parte dessas pessoas à prostituição.

Assim o Relatório da violência homofóbica no Brasil, publicado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), confirma essa condição. “A transfobia faz com que esse grupo acabe tendo como única opção de sobrevivência a prostituição de rua”. Dessa forma, estimativa feita pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), aponta que 90% das pessoas ‘trans’ recorrem a essa profissão ao menos em algum momento da vida. Aliás, no Brasil não existe legislação que assegure a colocação de trans no mercado formal de trabalho.

BRASIL É O PAÍS QUE MAIS MATA

Além do problema de invisibilidade, de exploração dentro da própria classe, as travestis enfrentam a transfobia que leva ao extremo. Isso está evidente em dados divulgados pela Agência Brasil, em janeiro deste ano. Assim, os índices revelam uma triste realidade. O Brasil continua no posto de país que mais mata travestis e transexuais no mundo.

Dados levantados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) revelam ainda um agravante: o número de vítimas da violência transfóbica no ano passado foi o maior no país nos últimos 10 anos. Ou seja, em 2019, pelo menos 124 pessoas transgênero, entre homens e mulheres foram assassinadas no Brasil, em contextos de transfobia.

De acordo com o relatório da Antra, em apenas 11 dos casos, os suspeitos de terem cometido os crimes foram identificados. Os dados mostram ainda que, a cada dia em 2019, 11 pessoas transgênero sofreram agressões.

Leia outras notícias no Portal RSN.

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.

Pular para o conteúdo