Não faz tempo tomei uma importante decisão que espero não voltar atrás: “desvincular-me da ideia central e caminhar pelas brechas e atalhos, em lugares menos contaminados onde o espaço tende a ser mais fecundo”. A fonte inspiradora, além da realidade nua e crua, vem da leitura de Jacques Derridá e seus escritos denominados 'margens da filosofia'. Dito de outra forma, abandonei a ideia do poder soberano ou da perspectiva do poder institucional e como consequência disto passo a gastar energia limpa com propósitos mais associativistas. Agora, com maior autonomia de quem quer dizer e escrever o que percebe sem envolver outros pares, quero contribuir para um alvorecer diferente.
Continuo acreditando na transformação e no movimento, mas principalmente na palavra consciente disparada sem direcionamento ou orquestramento de 'ismos' ou assemelhados. Distante de lunáticos e pseudo-utópicos, quero estar pisando em chão firme, sólido e buscar soluções que nos devolvam o cheiro da confiança política e do público como 'comum visível'. Assim, o pressuposto de que somos responsáveis pela nossa responsabilidade e que agir é produzir consequências, sejam boas ou más, diz tudo.
Ora, quem produz o político senão nós mesmos ? Da mesma forma ouso perguntar quem produz este ser humano que está aí, senão nós mesmos ? Então o lance é investir na transformação das ideias que atinge o ser humano com maior potencialidade e, por consequência, a sociedade e por extensão, o político.
A grande sacada daqueles seres humanos que conseguiram se livrar de aprisionamentos e engessamentos foi dar maior sentido aos gestos incomuns e aos novos discursos. Foi Foucault quem teve a sagacidade de diferenciar os discursos da ordem e a ordem dos discursos. Isto aprendi bem e nisto quero dar mais ênfase a partir de hoje. Assim, vejo com lucidez que temos a tarefa de sair do automático, do mecânico e desativar alguns dispositivos complicados e estranhos que nos faz ser comuns, ordinários, triviais e, em alguns casos, servos voluntários.
Quando se enxerga bem, quer-se que outras pessoas também possam ver melhor. Trata-se de uma corrente incorrigível. Uma espécie de febre.
É possível juntar os cacos do que restou de bom e iniciar uma nova construção, mais alicerçada, mais confiável, mais coerente e mais democrática. Inexiste alguém que, em matéria de política e escolhas, tenha tentado e acertado integralmente desde a primeira vez. Ao menos não conheço. É assim que corroboro com a tese existencialista de que somos um projeto e, portanto, passíveis de erros e acertos, tendo sempre em mira a verdade. O fazer fazendo é um ingrediente estimulante e nos permite pisar em um chão concreto, real. Ora, o que é o real senão que aquilo que experimentamos ? Triste de quem nunca experimentou, pois nada iguala à experiência vivida. A realidade, no enfoque existencialista, é a realidade vivida e só participa dela aqueles que estão na condição humana que consideram que agir é produzir consequências.
Penso que nas escolhas políticas que fiz, não houve nenhum absurdo e nenhuma heresia foi cometida, mas sim um agir circunstancial que se apresentava em melhores condições.
É assim que quero requalificar-me e contribuir para uma requalificação coletiva. A autonomia e a capacidade de pensar por si mesmo é a gasolina que faz movimentar as ações do homem.
A necessidade de pensar diferente e agir com leveza de espírito precisa ser uma regra nos dias de hoje. Lembrando Walter Benjamin: “que as coisas continuem como antes, eis a catástrofe”. É suicídio não querer melhorar. É entediante mantermos o mesmo pensamento o tempo todo, sobretudo se este pensamento está fadigado. Depois de avaliações criteriosas, pus-me a pensar e a interrogar-me sem reservas, fazendo-me uma pergunta crucial: que descompasso é este ? Será que estamos no lugar certo ? Será que estamos usando as palavras certas ? Será que o que falamos é o que ouvem ou ainda, porque não consideram o que falamos e escrevemos ? Pessoalmente, decidi então posicionar-me melhor e calibrar minha fala e meu teclado com uma nova metodologia de trabalho, colocando-me em uma posição mais horizontal que vertical, mais próxima do público e sem pretensões que geram ou poderiam gerar suspeitas. Infelizmente muito compartilham da fantasia de que se tudo ficar sempre igual, nunca morreremos. Grande engano. Estamos morrendo aos poucos. Acredito que um dos papéis que nos cabe é diminuir a depressão da política, a depressão de nossas escolhas. Não gostaria de evidenciar o pragmatismo de uma mãe depressiva que em diálogo com seu filho responde à pergunta do mesmo: “Mãe, o que vale a pena no mundo?” com a resposta: “Nada, filho. Deixa assim mesmo”.
Acredito não estar sozinho nisto, mas também sei que estou com poucos.
Claudio Andrade é Professor do Departamento de Filosofia da UNICENTRO.
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