sábado, 21 de jun. de 2025
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Um país entre dois polos e uma terceira via sem fôlego

A 'Marcha dos Prefeitos' que ocorre em Brasília escancara o 'pano de fundo' da sucessão presidencial. E a disputa já está em campo

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A ‘Marcha dos Prefeitos’ que ocorre em Brasília escancara o ‘pano de fundo’ da sucessão presidencial. Em vez de um evento técnico voltado à gestão municipal, o que se viu até agora foi um palco de ensaio para a corrida de 2026.

O presidente Lula abriu o encontro caminhando com estrutura e visibilidade. Bolsonaro resiste com polarização e estratégia de sobrevivência. A dita ‘terceira via’, por ora, parece um projeto abstrato, com Michel Temer tentando reviver um Centro que não encontra lastro político real.

A ausência de nomes como Tarcísio e Ratinho Junior não aponta ‘força silenciosa’, mas sim fragilidade estrutural. E a disputa já está em campo, não com candidaturas lançadas, mas com narrativas sendo testadas.

BOLSONARO  X LULA

A participação do ex-presidente Jair Bolsonaro representa uma tentativa clara de preservar a influência política mesmo sob intensa pressão judicial. Convidado para um painel sobre a pauta municipalista ao lado de Valdemar Costa Neto, Bolsonaro aproveita o espaço institucional como palanque político. Ainda que indiretamente para manter-se relevante dentro da extrema direita.

Mesmo réu no STF por tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, ele segue cultuado por prefeitos e lideranças conservadoras, o que revela a persistente força simbólica da figura dele. A presença de Bolsonaro, contudo, é marcada por uma estratégia defensiva. No meu entendimento, ele busca visibilidade enquanto se vitimiza, acena à base ideológica e testa o terreno para lançar herdeiros políticos, como Michelle Bolsonaro, na disputa de 2026.

Esse movimento tem gerado atrito com possíveis aliados, como Tarcísio de Freitas e Zema, que também almejam protagonismo eleitoral. Em suma, Bolsonaro atua para manter-se vivo no jogo político mesmo na corda bamba judicial. O gesto, entretanto, ainda que institucionalmente frágil, expõe a ruptura latente entre instituições e parte da sociedade radicalizada.

Já o presidente Lula emergiu da Marcha como a principal figura com musculatura nacional. Apesar das vaias vindas de setores bolsonaristas, Lula demonstrou capacidade de agregar aliados e reafirmar o compromisso com os municípios. Aliás, um tema tradicional na retórica dele. Enquanto potenciais adversários como Zema e Leite discursaram com timidez regional e figuras como Tarcísio e Ratinho sequer compareceram, Lula se impôs como o único ator com projeto nacional estruturado.

Mesmo em ambiente politicamente dividido, conseguiu sustentar a autoridade que detém e se colocar como o polo mais estável da disputa de 2026. A presença de Lula, no entanto, foi menos sobre campanha explícita e mais sobre ocupação legítima do espaço institucional e político. Uma postura que, gostem ou não, evidencia solidez de articulação e governabilidade. Enfim, a polarização se mantém viva, e o espaço para alternativas viáveis ainda parece estreito e mal articulado.

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Cristina Esteche

Jornalista

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