Parte do mundo passa fome, mas não apenas por falta de comida. Um terço da produção de alimentos no planeta é desperdiçado entre a colheita e a mesa do consumidor. Os dados foram divulgados ontem (8) pela consultora do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) Catalina Etcheverry, durante a feira Green Rio. Realizado todos os anos, o encontro reúne especialistas, empresários e interessados em alimentação orgânica.
Durante participação na mesa Gestão Sustentável da Cadeia de Alimentos, a pesquisadora citou dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês) que comprovam o nível do desperdício. “Baseado em um recente estudo da FAO, um terço da produção total, em nível mundial, é desperdiçado. É mais do que a produção de alimentos da África Subsaariana, por exemplo”, disse.
No Brasil, que é considerado o quarto maior produtor de alimentos do mundo, o estudo apontou desperdícios. Segundo Catalina, pelo menos 10% se perdem nas plantações. Do que sobra, 50% são perdidos na distribuição, no transporte e no abastecimento. E do restante, 40% se perdem na cadeia do consumo, como nas feiras livres.
A pesquisadora está divulgando a campanha da ONU Pensa, Come e Poupa, que visa a racionalizar a produção e a alimentação, evitando o desperdício. “É um trabalho que estamos fazendo para diminuir e prevenir o desperdício de alimentos, principalmente no setor hoteleiro, de restaurantes e de fornecedores de comida a eventos. Os países industrializados apresentam o maior desperdício, porque têm o hábito de inutilizar comida que pode ser consumida, só porque tem algum tipo de falha na aparência, como ocorre nos Estados Unidos e na Europa”, destacou.
Segundo a consultora da ONU, um dos grandes entraves para o melhor aproveitamento dos alimentos é a existência de leis, em vários países, que não permitem fazer doações de comida que sobra, ainda que em perfeitas condições de consumo. “A campanha visa a conscientizar a população em geral de que o desperdício alimentício é um problema global. Pequenas ações, em nível de governo, de empresas e do consumidor, podem diminuir essas perdas”, constatou.