22/08/2023
Esportes

Uma corrida para vida

 Uma cidade é feita por sua gente, pelas histórias anônimas ou não de cada uma delas. Ronaldo  César de Ramos, o Neguinho do Xarquinho, tem apenas 10 anos de idade, mas é um exemplo de superação para qualquer pessoa, independente da faixa etária. Ele é um campeão, às suas custas. Muito mais do que o título conquistado como atleta, Neguinho é um campeão da vida. O diagnóstico inicial, numa visão leiga, contradiz quem ele é hoje.

Um dos quatro filhos de Adriana Ribeiro, Neguinho nasceu em berço humilde e com problema mental.

“Meu filho faz tratamento neurológico desde os 15 dias de vida por retardo mental”, conta a mãe. “Tinha crises convulsivas e freqüentou a Apae  até os três anos onde aprendeu a falar aos quatro anos  e a caminhar quando completou cinco anos”, relata Adriana.

Separada, tendo que trabalhar fora para poder sustentar a família, Adriana nunca imaginou que uma peratilce, própria da infância, fizesse do seu filho um campeão.

“Eu gazeei aula e minha mãe me deixou de castigo dentro de casa, assistindo televisão, e foi trabalhar. Não agüentei. Pulei a janela e fui ver uma corrida que ia ter perto de casa”, conta Neguinho, morador da “ocupação” do Xarquinho.

“Quando cheguei o seo Osmar (Santos) me perguntei se eu não queria fazer parte da equipe dele. Sem saber direito eu disse que sim. Corri e fiquei em nono lugar. Nunca tinha corrido antes”, diz o atleta.

Osmar Santos se dedica a ver quem tem talento para o atletismo, treina e leva para competições.

 

“Foi um milagre!”

A primeira participação de Neguinho foi apenas a largada para muitas conquistas. O menino se desenvolveu física e mentalmente. Estuda na quinta série e é uma pessoa normal. “Foi um milagre”, diz a mãe.

A superação do menino, além da sua saúde, está nos pés e na vontade de vencer. Correndo descalço, com tênis comprado em bazar, não é a dor que sente na perna pelo impacto dos pés no chão, que impedem a criança a lutar e a vencer na vida.

“Nunca tive um tênis apropriado para corridas, com amortecedor. O tênis comum é muito pesado”, reclama.

Mesmo sem recurso, sem patrocínio, sem apoio, Neguinho já coleciona troféus e medalhas. O principal deles ele foi buscar na Argentina onde foi campeão da 17° Corrida Internacional Santo Antonio do Sudoeste – Brasil x Argentina. Para essa viagem, Adriana saiu de loja em loja pela cidade. Conseguiu R$ 40,00, mas o filho trouxe o troféu de campeão.

“Sinto orgulho da história dele. A minha situação financeira não é fácil, mas quando vejo meu filho treinar com os amigos, diariamente, correndo pelas ruas do bairro, digo a ele que esse exemplo pode ajudar outras crianças, outras pessoas”, diz a mãe, emocionada.

“Nunca vou parar de correr porque o meu objetivo é ser um atleta olímpico e vou chegar lá e representar o meu País. Minha mãe ainda vai ser orgulhar disso”, afirma.

Cristina Esteche

Jornalista

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