A Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) convive com alto índice de evasão em cursos de graduação, principalmente os de licenciatura. A causa está associada à falta de estrutura e de assistência estudantil, geradas pela falta de recursos.
De acordo com dados da Pró-Reitoria de Educação (Proen), em 2017, menos da metade dos alunos matriculados no curso de Arte-Educação chegaram ao fim da graduação. Um dos motivos apontados pela recém-formada Gabriela Christine Spinardi, 23, é a falta de professores na instituição. Enquanto era aluna do curso, ela chegou a ter quatro disciplinas com o mesmo professor.
“Quando eu estudava, eram cinco ou seis professores que realmente davam aula. Não aprendi nada de pesquisa, não escrevi artigos. Eu me formei sem nenhuma publicação”, lamenta.
De acordo com informações apuradas pela Agência Experimental Centro Sul Paraná, cerca de ⅓ do quadro de professores é formado por colaboradores que não têm estabilidade no exercício da função. Em 2018, mais de 100 professores só tiveram a autorização do Governo do Estado para trabalhar no final do mês de março e puderam entrar em sala no início do mês de abril – o ano letivo entrou em vigor no dia 19 de fevereiro.
Ainda segundo dados apurados pela agência, o Departamento de Arte (Dearte) é um dos que é dependente de professores colaboradores para continuar funcionando. Érica Gomes, chefe do departamento, destaca que são apenas cinco professoras efetivas lotadas no curso. Duas estão trabalhando, uma está afastada por conta de uma licença e outras duas estão afastadas para a conclusão do Doutorado até o começo de 2020. Completam o quadro de docentes mais quatro colaboradores que cobrem duas vagas de aposentadoria e uma vaga de exoneração.
ASSISTÊNCIA
A falta de assistência estudantil é outro fator determinante para a evasão. O curso de Filosofia, por exemplo, manteve um índice de 17% a 20% de evadidos entre 2014 e 2015. Porém, em 2016, esse número chegou a mais de 35%.
Nicole Becker Bonfin, 21, foi uma das acadêmicas que deixou a Unicentro. Ela critica a falta de assistência estudantil e classifica a estrutura da instituição como uma dos principais fatores de desestímulo. “Faltam coisas básicas, como uma biblioteca bem estruturada”, critica.
“Se você está em uma universidade pública, você espera ter algum tipo de assistência para pode fazer o curso. Quem vem de fora precisa disso para se manter. Muitas pessoas largaram o curso dizendo que era melhor voltar para suas cidade e custear um curso privado”, diz.
O reitor da Unicentro, Aldo Bona reconhece que a falta de assistência é um fator determinante para o aumento nos índices de evasão. Ele explica que a instituição mantém ações pontuais, como a moradia estudantil e o restaurante universitário, mas ainda é pouco. “Não tem o alcance que gostaríamos, mas temos crescido as políticas justamente em um momento em que o investimento em assistência estudantil e o orçamento vem caindo”, admite.
Tudo isso, porém, é consequência, da falta de recursos da Universidade que sofre cortes significativos nos últimos anos. De acordo com a Lei das Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2018, a instituição teve uma diminuição de 11% nos repasses do Governo do Estado em relação ao montante de 2017, o que na prática significa um corte de mais de R$ 20 milhões.
De acordo com Bona, o dinheiro encaminhado pelo governo, além de insuficiente, é engessado. “São recursos para folha de pagamento, custeio de água, luz, telefone e internet. Você não pode mudar a finalidade”.
Ainda segundo Bona, nem mesmo os recursos captados pela instituição podem ser investidos em melhorias. “É um montante integralmente consumido no pagamento de terceirizados e estagiários”.
SEM REPASSE DO MEC
A falta do repasse de verbas por parte do Ministério da Educação, em relação ao Sistema de Seleção Unificado (Sisu), é uma das causas da falta de assistência estudantil. O déficit desses repasses vem acumulando desde 2014, quando a instituição aderiu ao Sisu.
De acordo com a agência, com o porte da universidade, os repasses do Programa Nacional de Assistência Estudantil para as Instituições de Educação Superior Públicas Estaduais (Pnaest) deveria ser superior a R$ 1,5 milhão por ano, mas não aconteceu.
“Por isso estamos rediscutindo a adesão ao Sisu. O ingressante via esse sistema tem um índice de evasão maior que os ingressantes via vestibular, justamente porque eles vêm de longe, em condições difíceis, e na expectativas de ter alguma assistência para se manter longe de casa”, acredita Aldo.
INCOERÊNCIA
Uma pesquisa do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), de 2017, mostra que entre os anos de 2010 e 2016, o número de jovens que ingressaram em graduações de licenciaturas caiu 10%, e o número de concluintes decaiu 7,6%. Menos de 40% dos formados estão trabalhando em sua área de atuação. Segundo o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, essa queda no interesse está ligada ao fato de muitos alunos optarem pelas licenciaturas por serem cursos baratos, e não necessariamente por vocação.
De acordo com o reitor da Unicentro, o discurso em nível nacional é o da valorização das licenciaturas, mas a prática não tem sido coerente com isso. E, no caso da universidade, o fenômeno da evasão é mais grave justamente nessas graduações, tornando-se assim um problema crônico.
“É uma questão ligada ao mercado de trabalho, sem dúvida nenhuma, mas também à atratividade da profissão e a forma como a docência é tratada em nosso país. Isso acaba sendo um fator de desestimulação”, acredita o reitor.