22/08/2023
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Uruguai se prepara para escolher presidente; esquerda é favorita

O Uruguai se prepara para definir seu próximo presidente no domingo (30), na votação do segundo turno de um duelo no qual a esquerda governante é franca favorita para obter um terceiro mandato consecutivo e consolidar a receita de crescimento econômico combinado com avanço sociais que a tornou tão popular.

As pesquisas dão ao governista Tabaré Vázquez, médico oncologista que já governou o país, uma vantagem de cerca de 14 pontos sobre seu jovem adversário, o parlamentar conservador e fã de surfe Luis Lacalle Pou.

A consultoria Equipos Consultores projetou que o candidato sucessor de José Mujica terá 54,5% dos votos, e o conservador Partido Nacional, 40%, enquanto que votos brancos e nulos somarão 5,5%. "Tabaré Vázquez vai ser reeleito como próximo presidente dos uruguaios, vai ganhar por uma diferença ampla sobre Lacalle Pou e possivelmente vai terminar superando a votação de Mujica em 2009", disse o diretor de opinião pública da Equipos, Ignacio Zuasnabar.

Um total de 2,6 milhões de uruguaios estão convocados a votar. Não há opção de votar fora do país. As urnas abrirão das 8h às 19h30 (hora local, mesma de Brasília) e as primeiras pesquisas de boca de urna devem sair aproximadamente às 20h30.

A vitória no primeiro turno – e provável trunfo no segundo – foi possível, entre outros motivos, por um inesperado aumento na votação nos menores municípios do país, onde até pouco tempo atrás a esquerda era temida pelo "comunismo" e onde houve uma forte inversão social e uma melhora nas condições de trabalho de quem trabalha na roça.

"O ressentimento era muito profundo, e essa mudança mostra o poder incrível que tem hoje a Frante Ampla", disse em entrevista à agência de notícias Associated Press o analista político Adolfo Garcé, do Instituto de Ciências Políticas da Universidad de la República.

Além da boa situação de trabalho nos pequenos povoados, a Frente Ampla se viu favorecida nas urnas pela taxa de desemprego – historicamente baixa – e pela a boa administração econômica.

Mas independente do motivo, as contas que fez Gustavo Leal, sociólogo que trabalhou na campanha oficialista, são impactantes. "A Frente Ampla" conseguiu um crescimento de 79% nas 550 menores localidades do país e nas zonas rurais", disse à Associated Press. "Essas cifras marcam as últimas barreiras que foram rompidas no que impedia o relato da esquerda de chegar ao Uruguai profundo."

Embora seja mais moderado que Mujica, uma vitória de Vázquez, de 74 anos, também garantiria a continuidade de iniciativas progressistas como a descriminalização do aborto, o casamento gay e outra iniciativa que rendeu manchetes em todo mundo: a legalização da produção e venda de maconha.

Lacalle Pou, um advogado de 41 anos do Partido Nacional e filho de um ex-presidente, havia proposto anular parte desta última medida –rejeitada pela maioria dos uruguaios, segundo as pesquisas– só permitindo o cultivo em casa e em clubes de fumantes.

Mas nem uma proposta como esta, nem seu discurso conciliador conseguiram convencer suficientes uruguaios no primeiro turno, e as pesquisas apontam que tampouco o fará na segunda etapa. Os especialistas acreditam que Lacalle Pou não soube apresentar um projeto alternativo ao da esquerda.

“Não creio que Lacalle possa ganhar, e é uma pena, porque ele pode solucionar os problemas do país”, opinou Carla Da Silva, uma aposentada de 68 anos que criticou a insegurança e o baixo nível do ensino no país.

Vázquez parece ter se beneficiado também da lembrança de seu primeiro governo. Quando concluiu seu mandato, em 2010, tinha uma aprovação de 70%. Ele reduziu o desemprego com políticas econômicas favoráveis aos mercados, mas mantendo os programas sociais para os mais vulneráveis, que ajudaram a diminuir a pobreza em um terço, chegando aos 11% atuais.

A ampla diferença prevista a favor do governismo, em parte também um produto do grande apoio que tem o ex-guerrilheiro Mujica, fez com que as campanhas eleitorais baixassem o tom.

No primeiro turno de 26 de outubro, Vázquez obteve mais votos que o esperado – 47,8% diante dos 30,8% de Lacalle. A Frente Ampla ainda conquistou a maioria dos assentos no Congresso.

Cristina Esteche

Jornalista

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