22/08/2023

Valdir Cruz, um dos maiores fotógrafos do mundo

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Por Cristina Esteche com foto de Diego Esteche Nunes

 

Nova Iorque – Ele saiu de Guarapuava há 30 anos levando na bagagem o sonho de vencer na vida em terras distantes. O destino era certo: os Estados Unidos, onde se concentra a maior economia do mundo. A esperanca venceu o medo e o guarapuavano Valdir Cruz, um pacato cidadão latino-americano sem dinheiro no bolso e vindo do interior, como canta Belchior, se tornou um cidadão – ou melhor -, um profissional do mundo.

 

Considerado um dos maiores fotógrafos do planeta e com um portfólio que comprova essa classificação, Cruz encerrou neste sàbado uma mostra do trabalho Raízes Bonita na Thorcjmorton Fine Art, uma das mais conceituadas galerias de Nova Iorque. O trabalho que coloca em evidência espécies nativas que enfeitam o cenário natural de São Paulo e oxigenam a poluída metrópole foi realizado em tempo recorde.

Em apenas 11 meses Cruz articulou equipes de trabalho em Nova Iorque e em São Paulo, compostas por 40 profissionais, fotografou entre 180 e 220 árvores de 120 espécies pelo estado afora, que geraram 800 chapas. Destas, 60 foram selecionadas para compor a mostra e o livro.

“ Comecei o trabalho em 2009 para ser incorporado ao acervo artístico-cultural dos Palácios dos Governos do Estado de São Paulo. Percorremos mais de 16 mil quilômetros. Foram utilizadas 750 chapas fotográficas no formato 4 x 5 polegadas, familiarizando-me com cerca de 120 espécies entre as várias dezenas fotografadas”, discorre Cruz. Deste total, foram selecionadas 60 imagens que compoem um portfolio especial de 30 fotografias que integra a Coleção que mostra a riqueza e a diversidade das espécies de árvores remanescentes do estado. Tudo isso em pouco tempo.

 

Para se ter uma ideia, Cruz leva em média três anos para editar um trabalho. A exceção fica por conta de Guarapuava, cujos cliques, entre idas e vidas, já duram 30 anos e ainda não há recurso para tal.

A rapidez no projeto de São Paulo tem um único motivo: a visão do ex-governador José Serra que apostou no talento de Cruz e patrocinou o trabalho que já ganha as galerias de artes mais conceituadas do mundo.

 

Comprar um quadro do fotógrafo guarapuavano é, além de enfeitar a parede onde a obra será afixada, valorizar também financeiramente. As 60 imagens expostas em Manhattan, por exemplo, são vendidas a partir de US$ 5 mil e o lance vai subindo à medida em que as fotos vão sendo adquiridas. “ O trabalho está sendo muito bem aceito e está saindo bem”, comemora Cruz em toda a sua simplicidade. De acordo com o fotógrafo foram impressas 25 cópias de cada uma das 60 fotos selecionadas.

 

A obra é apresentada por José Serra com prefácio de Hubert Alquerés, ex-chefe da Imprensa Oficial do Governo de São Paulo, e ensaio assinado por Ignácio de Loyola Brandão, cronista do jornal Estado São Paulo (O Estadão), autor de 34 livros e Prêmio Jabuti da Camara Brasileira do Livro. Precisa de algo mais para avalisar o trabalho de Cruz que planta suas raízes pelo Brasil afora?

 

Assim como as bonitas raízes da paulicéia Cruz já “mergulhou ” as suas lentes nas
águas do Paraná, nas quais se inclui cachoeiras de Guarapuava; se embrenhou na selva amazônica com foco nas tribos yanomamis; clicou a beleza natural de um lugar chamado Bonito.

 

Falar em números de cliques é fazer Cruz parar pensar e divagar no tempo sem conseguir fazer essa avaliação em números. “ 30 anos de trabalho é muito tempo. Só de Guarapuava tenho mais de seis mil negativos”, diz.

 

GUARAPUAVA, SIMPLESMENTE

A mostra sobre a sua terra natal, porem, não está muito fácil de sair – ou melhor – de ir para o papel. Fotografando há 30 anos, por suas lentes já passaram um pouco da história do municipio. São registros feitos pelas andanças pelo interior, seu espaço preferido, clicando pessoas, negras, indígenas, suábias; paisagens, águas, agricultura, campo, tropeirismo. Cenas comuns de um cotidiano rural. “Nunca fotografei a cidade. Penso que se entrar no urbano estarei entrando na seara política e isso eu não quero”, diz.

 

As imagens de pessoas comuns de Guarapuava, sem fugir de alguns personagens históricos da cidade, como o “ seo” Rutilio Ribas, Chiquinho Martins, Sid Araujo – arquivo do tropeirismo – estarão contidas em 180 páginas com 80 fotografias cujo trabalho já está na fase de edição. A ideia é que tudo esteja pronto em 2012, embora ainda não haja captação de recurso.

 

Fora de Guarapuava desde 1978 quando veio para os Estados Unidos, e em Nova Iorque desde 1984,  Cruz não perdeu o vínculo com os amigos. E é a eles que se refere com gratidão quando fala de qualquer projeto. Em Guarapuava, Cruz fala de muitos, de todos, mas não esquece do Walter Rodrigues, a quem carinhosamente se refere como Valtinho. “ Com ele, no seu jipe, saio fotografando”, diz. Cruz percorre milhares de quilômetros por Guarapuava e região. “ Ele me leva por lugares onde não poderia chegar”, reconhece. O ritual se repete há três décadas.

 

O trabalho de Valdir Cruz, conhecido em Guarapuava, como Sabiá, não só encanta como surpreende pois trata-se de uma proposta sem preconceito, sem estar apegada a velhos chavões ou rótulos. A visão é ampla ao ponto de já ter escolhido uma cigana para ser a capa do álbum. “E uma cigana que sempre está lendo a mão ali na Praça 9 de Dezembro e que vive acampando perto das fazendas na região. Foi o Amarilio Kruger que encontrou o acampamento e me levou até lá”, relembra. Mas por que uma cigana para ilustrar a capa de um álbum de Guarapuava? Por que não um índio? “Porque a cigana é um rosto universal”, responde sem rodeios.

 

Foram duas horas de muita conversa sem ver o tempo passar – como ele mesmo comentou – numa tarde primaveril em Nova Iorque. Valdir Cruz se deleitou nas lembranças de Guarapuava, falou do seu trabalho, das suas conquistas, como se fala de um filho. Contou coisas pessoais como por exemplo que há quase 30 anos mora no mesmo apartamento em Manhattan. Deixou vir à tona uma certa mágoa por nunca ter conseguido expor o seu trabalho no Paraná. E em Guarapuava? A resposta foi o silêncio, um olhar perdido no espaço, o que leva a crer que apesar de todo o seu Know-how, Cruz é santo da casa, aquele que aos olhos de alguns não faz nenhum milagre. Uma pena!

Cristina Esteche

Jornalista

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