22/08/2023

Verdades incômodas: necessárias, mas insuportáveis.

Na verdade, temos que prosseguir. O período de chiadeira precisa ceder lugar às pequenas e necessárias intervenções que, se não mudam a estrutura, minimizam os problemas, abrindo brechas para dias melhores.

Há uma frase de Isaac Newton que é bom relembrar: “independente do homem, o sol vai nascer amanhã”. Vida que segue, uma vez que o mal menor tende a prevalecer.

Precisamos recriar ambientes que nos devolva o sabor de boas perspectivas e de um amanhã com mais qualidade na esfera pública.  Urge que possamos ter uma esperança sempre renovada e tentar transformar as instituições políticas em algo que possa se aproximar do conceito de família dos dias de hoje. Houve períodos da história que prevaleceu o jargão: “família: eu odeio” e, felizmente, hoje a família goza de consideração e apreço unânimes. Aquela família autoritária foi substituída por uma família afetiva, compreensiva e democrática.

Daí a necessidade de recriarmos o jargão: “política, é possível qualificá-la”. Sabe-se que em períodos de crise, temos boas chances de um bom acerto de contas em todas as áreas. O famoso “há males que vem para bem” pode ser revitalizado.

O medo do “perigo que está por vir” tem que ser substituído pela “possibilidade de correções e de boas práticas”, afinal somos seres humanos e temos instinto de sobrevivência.

Somos inteligentes e precisamos usá-la em nosso favor, gastando energia em acertos de perspectiva e não em uma visão apocalíptica de erros de perspectiva. O que é necessário, em especial, é uma definição sobre o que queremos e de que forma queremos. Assim, o pensamento morno está com os dias contados e como frisamos em outra coluna, nossa impaciência pode ser projetada para que, de uma forma ou outra, as coisas realmente aconteçam ou então desapareçam de vez.

Entendo que a vida pública e a política estão passando por um processo de purificação tendo boas chances de sair do limbo e do purgatório. Trata-se de um processo de mão dupla onde os detentores de cargos públicos eletivos e/ou indicados precisam ‘considerar’ as demandas da sociedade, mas também a sociedade precisa considerar as dificuldades inerentes das funções públicas e seu caráter de limitação. É preciso haver maior paridade, maior convergência, abertura e uma disciplina rigorosa para um auto-policiamento. 

 

De fato, os acontecimentos de junho de 2013 (protestos diversos) e o ambiente eleitoral recente, nos dão um indicativo de que nada será como antes.

A vitória de Dilma não foi um cheque em branco. Ela tem contas a acertar com seus eleitores, mas também com aqueles votos que não eram seus e que, em ato final, lhe foram depositados. Sem contar que a Presidente precisa também considerar uma grande maioria que se negou a confiar-lhe um segundo mandato.

Uma das primeiras coisas a considerar, em meu entendimento, é ouvir verdades incômodas e considerá-las. Não significa acatá-las em sua inteireza, mas colocá-las em reflexão para a partir daí ver o que se faz e como se faz.

Os homens públicos, historicamente acostumados a serem bajulados por um tratamento especial das pessoas comuns, se veem agora em suspeição  (é bem verdade que alguns deles sem merecimento).  Não há dúvida que vários deles tem seus méritos, e que diferente de outros tempos, não estão sendo mais propagados pelo simples fato de que a sociedade internalizou a máxima de que fazer bem as coisas é obrigação de quem governa.  Elogiar o cumprimento da obrigação é o mesmo que aceitar a mediocridade como regra, como bem frisou o articulista político Clóvis Rossi.

A Presidente está sendo colocada à prova não só por milhões de brasileiros, mas também pelo próprio grupo mais próximo que querem um posicionamento que não seja autossuficiente, transcendental e próprio de um espírito superior. Para alguns governantes, alguns poucos anos são suficientes para que a ‘ficha caia’ e o ‘olhar se amplie’, para outros não há tempo suficiente. Espero que a Presidente saiba considerar contrapontos e verdades incômodas, tão úteis para a revitalização da esfera pública.

Por fim, acredito que quanto mais frustrante é a política, mais ela promove as condições necessárias para uma re-oxigenação da mesma.

 

Cristina Esteche

Jornalista

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