22/08/2023
Cotidiano

Vereador reacende polêmica sobre o Salto São Francisco

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Um requerimento assinado pelo vereador e presidente da Câmara, Canderoi Mainardes Filho (PT) e encaminhado à assessoria jurídica da Prefeitura de Prudentópolis reacende uma discussão que já estava apagada.
Os prudentopolitanos estão se organizando e querem o Salto São Francisco, que ganhou mais um adendo nos últimos anos e se transformou no Salto São Francisco da Esperança, por sugestão do secretário municipal de Finanças e Planejamento, Leocádio Pupo.
As mudanças não ocorrem somente no nome. Quando o prefeito Fernando Ribas Carli (PP) assumiu Guarapuava pela segunda vez (2004) voltou seus olhos de administrador político justamente para o São Francisco, um ponto turístico que vinha sendo explorado há muitas décadas por Prudentópolis. “Esse tipo de coisa dá ibope”, chegou a comentar o prefeito logo após entrevista concedida à RPC e à TRIBUNA em seu gabinete, à época.
Começava aí a “guerra” envolvendo uma tríplice divisa e a queda d´água , considerada uma das mais altas e das mais belas da região com 196 metros, entre Guarapuava, Prudentópolis e Turvo.
O assunto levantado por Mainardes Filho movimentou a sessão de segunda-feira, 21, na Câmara do vizinho município. Prudentópolis fica a cerca de 65 quilômetros de Guarapuava.
“Queremos saber como está essa situação. O Salto São Francisco sempre pertenceu ao nosso município e por omissão do ex-prefeito Wilson Santini acabamos perdendo um território que é nosso e que foi invadido por Guarapuava”, disse o vereador à TRIBUNA na quinta-feira, dia de fechamento desta edição.
O vereador se refere ao laudo emitido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) em julho de 2007, reconhecendo equívoco na interpretação da SEMA em memorial descritivo feito após revisão ainda em 2003, quando o Estado estava atualizando os memorais das divisas territoriais dos municípios paranaenses.
Esse laudo foi contestado pela Secretaria Municipal de Habitação de Guarapuava.
Seguiram-se uma série de reuniões entre as prefeituras de Guarapuava e Turvo e o Instituto de Terras Cartografia e Geociências (ITCG), órgão ligado à SEMA. O então prefeito de Prudentopólis, Wilson Santini, sempre esteve ausente.
“O ex-prefeito foi omisso e agora queremos rever essa situação. Guarapuava entrou lá e derrubou um portal que foi construído por Prudentópolis, além de invadir uma propriedade particular pertencente à família Agibert; existe uma ação contra essa invasão, diz Mainardes Filho.
Em julho de 2007, em meio a essa polêmica Prudentópolis construiu um portal de entrada no parque. A obra não ficou em pé nem por 24 horas porque máquinas de Guarapuava a colocaram no chão a partir de um auto de embargo conseguido pela administração guarapuavana. Novos fatos foram criados por conta de poucos pilares de eucalipto. “Queremos que Prudentópolis deixe a estrada como estava”, esbravejava o secretário de meio ambiente, Milton Roseira, referindo-se aos poucos buracos cavados para afixar os pilares.
“Como no nosso município havia uma administração omissa, coisas como essas foram feitas sem permissão, mas agora não vamos permitir que um patrimônio histórico de mais de 100 anos seja usurpado dessa forma estranha”, ataca o vereador de Prudentópolis.
O que ele propõe é que a conversa entre Guarapuava, Turvo e Prudentópolis seja retomada. “Não estou pré julgando ninguém porque fomos vítimas da omissão do nosso ex-prefeito, mas queremos propor a formação de um consórcio entre os três municípios envolvidos para que todos invistam a partir de um planejamento conjunto. Mas não vamos permitir que essa situação fique como está”, avisou.
O secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Guarapuava, Milton Roseira, foi procurado para comentar essa nova situação, mas não foi encontrado e nem retornou a ligação feita pela TRIBUNA.

Um projeto de “encher os olhos”
Uma área de 35 alqueires a cerca de 50 quilômetros de Guarapuava abriga um salto com 196 metros de altura. Em seu entorno há 105 propriedades rurais e 13 igrejas. Um cemitério abandonado cravado em meio à mata também chamaria atenção a partir de investimentos em marketing. Até um nome foi sugerido: o Cemitério dos Anjos, caso fosse restaurado.
Um cenário perfeito para se traçar um caminho religioso cortado por várias paradas para o consumo de produtos típicos da região e que seria percorrido por milhares de turistas. Um “trem de luxo” quebraria o silêncio, mas colocaria o São Francisco da Boa Esperança no cenário do turismo internacional para a classe A.
Um projeto de “encher os olhos” e de despertar a esperança nos moradores do “Tio Chico” (tomando emprestada a denominação carinhosa da praia catarinense).
Acontece que três municípios dividem o mesmo sonho e o mesmo território. A nascente do salto está em área pertencente a Guarapuava, enquanto uma das partes laterais é de propriedade do Turvo e a queda d´água tem Prudentópolis como dono, o que foi contestado por Carli nos cálculos feitos pela Secretaria de Habitação e ratificados pelo ITCG.
Guarapuava não perdeu tempo e pela Lei 1589/2006 criou a Área de Preservação Ambiental, e o Parque está dentro dela. Tratava-se do embrião para a criação do Parque Municipal São Francisco da Boa Esperança, lançado por Carli na cidade francesa de Deauavile durante o Top Resa, um evento turístico internacional. Lá estavam Leocádio Pupo e o ex-deputado Fernando Carli Filho, além do prefeito guarapuavano.
Na ocasião Carli anunciou que o empresário Odacir Antonelli (Guarapuava) construiria lá um luxuoso hotel. Alguns investimentos oficiais foram feitos, mas o caminho religioso aos moldes de Santiago de Compostela (como sonhava um dos secretários municipais), passados mais de três anos, ainda não “decolou”.
Denúncias recentes feitas pelo vereador Gilson Amaral (DEM) na Câmara de Guarapuava trouxeram ao conhecimento público o descaso da administração municipal para com o “São Chico”. Animais mortos, depredação da mata, lixo acumulado, estradas precárias, entre outras situações, ilustraram de forma negativa alguns requerimentos assinados por Gilson Amaral, que pediam providências à administração de Guarapuava.

Cristina Esteche

Jornalista

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