22/08/2023
Guarapuava

Vilas se ressentem com a falta de políticas públicas, em Guarapuava

Concórdia I, II e III reúnem cerca de 2,6 mil famílias

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Apenas uma linha férrea separa as vilas Concórdia I, II e III, do Parque do Lago, um dos mais belos cartões postais da cidade, localizado no Centro de Guarapuava. Porém, entrar nas vilas que se entrelaçam entre si, é penetrar num labirinto sombrio, permeado por esgotos a céu aberto, terrenos sendo engolidos pela erosão, acúmulo de lixos recicláveis em frente as casas e nos finais de ruas que não tem saída e que dão para matagais. Ocupações irregulares à beira da linha do trem mostram casas – que mais parecem barracos – construídas para abrigar famílias, incluindo crianças. O perigo é iminente. Afinal, há poucos passos está a linha por onde o trem passa.

Meninos fumando (Foto: RSN)

O cenário deprime ainda mais quando grupos de jovens, na faixa etária entre 13 e 22 jovens, ficam nas esquinas ou no trilho de trem consumindo drogas em pleno horário do almoço. “Eu moro aqui desde que eu nasci, há 22 anos”, diz um jovem. “Eu tenho 17 anos”, diz outro. “E eu, 14”, dizem os amigos, enquanto fumam um cigarro de maconha. “Esconda o bagulho aí, meu”, diz o mais velho para o adolescente de 17 anos. Sem atender o apelo do amigo, ele continua fumando e reclama. “A gente não tem nada pra fazer aqui. O ginásio de esportes está fechado e detonado. Não temos nenhum campo pra jogar futebol”, disse à reportagem do Portal RSN.

Segundo o secretário municipal de Habitação e Urbanismo, Flávio Alexandre, o Espaço do Cidadão foi depredado por vândalos. “Tivemos que fechá-lo porque cerca de 12 pessoas traficavam e consumiam drogas no local”.

Ginásio de Esportes (Foto: RSN)

De acordo com o presidente da Associação de Moradores das três vilas, Pedro Assis de Lima, o local está esquecido. São cerca de 2,6 mil famílias que estão vivem entre as vilas.

“Não adianta mais reclamar porque vem aqui, olham, e vão embora”, diz.

Segundo o líder comunitário, o trilho do trem se tornou um ponto de tráfico de drogas. “Os traficantes ficam aqui e a cada passo chegam carrões em busca de drogas. O pior de tudo é que estudantes passam pela manhã, tarde e noite para irem à escola Liane que fica li em cima”, diz. “Precisamos da rede de esgoto. Olha essa galeria pluvial ali está sem terminar e como as pessoas não podem fazer fossa todo o esgoto lá de cima vem por ali”, diz Pedro. O Portal RSN procurou o chefe regional Sanepar, Evandro Dalmolin, para falar sobre o caso, mas ele encontrava-se em Laranjal.

Seu Pedro (Foto: RSN)

Se “perder” entre as ruas das três vilas é se deparar com bares com mesas de sinuca e até crianças jogando. É ver pessoas desempregadas que chegam e saem com carrinhos de reciclados em busca da sobrevivência da família; enquanto outros cortam lenhas para “vender ali no centro”. Outros jogam e bebem em bares, que levam nomes de santos.

As mulheres carregam filhos no colo e tomam chimarrão uma na casa da outra, enquanto olham os filhos menores brincarem pela rua. “Não tem emprego, não temos nada pra fazer”, diz uma delas, olhando desconfiada. A hostilidade de alguns moradores assusta. “O que você quer aqui? Ninguém lembra de nós. Estamos aqui largados”, diz um senhor enquanto descarrega a carrinho de reciclável. “A maior parte dos moradores trabalha com lixo reciclável”, disse Flávio Alexandre.

Casas com lixos em frente (Foto: RSN)

Logo acima da Rua Piraquara, na Concórdia II, está sendo construído um condomínio com prédios. Atrás, um grupo de empresários comprou uma área para também investir em empreendimento imobiliário, segundo o secretário de Habitação e Urbanismo.

Galeria pluvial por onde escorre o esgoto (Foto: RSN)

Em meio a tudo isso, os moradores precisam de políticas públicas nas áreas social, cultural, esportiva e, principalmente, para recuperação de drogadidos e de alcoólicos. A imagem das localidades também precisa ser recuperada.

“Quando se fala em vilas Concórdia já somos discriminados. Aqui muitos marginais, mas tem muitos trabalhadores, gente do bem. Mas queremos que olhem por nós”, clama seu Pedro.

Cristina Esteche

Jornalista

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