22/08/2023
Cotidiano Guarapuava Política

Xarquinho pede aprovação de projeto deixado por Wycaro

Xarquinho é tido como um bairro com alto índice de violência entre jovens, evasão escolar e uso de drogas, segundo pesquisa acadêmica deixada por Wycaro

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Uma das mobilizações que pediram justiça à morte de Wycaro (Foto: Arquivo/RSN)

O Xarquinho está mobilizado e moradores devem lotar o plenário da Câmara de Vereadores de Guarapuava nesta terça (3). A comunidade quer a aprovação de um projeto de lei que prevê um enfermeiro, um assistente social e um psicólogo clínico em escolas do bairro. De acordo com a jornalista Andrea Alves – uma das coordenadoras da mobilização – a justificativa são os altos índices de violência e evasão escolar no bairro.

Conforme disse Andrea ao Portal RSN, o projeto foi criado pelo jovem Wycaro Elias Domingues de Deus, assassinado em 29 de março de 2019. “Seu plano era colocar o projeto de lei no papel naquele fim de semana, mas infelizmente não deu tempo”.

De acordo com Andrea, o projeto de Wycaro nasceu na semana do massacre em Suzano e da invasão na Escola Raul Lupattelli em Guarapuava. “O Wycaro apresentou suas ideias para assessores da Câmara que apreciaram o projeto. Mas, infelizmente, ele não teve tempo de concluí-lo”.

Os dados que embasam a proposta constam no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Wycaro. “Ele deixou cópia do TCC comigo”. Andrea acompanhou o trabalho do ativista por dois anos. Ele ajudava usuários de drogas, alcoólatras, depressivos e pessoas em situação de risco.

ESCOLHA DO BAIRRO

Vista parcial do bairro Xarquinho (Foto: Arquivo/RSN)

A escolha do bairro Xarquinho para o projeto tem como base os números de evasão escolar. Além disso, somam-se as estatísticas de violência, como homicídios e tráfico de drogas. A condição econômica das famílias também foi levada em consideração. De acordo com Jaqueline de Andrade Borges, diretora do Colégio Estadual Professora Dulce Maschio, em 2018, dos 1035 alunos matriculados, 84 não concluíram o ano letivo.

As causas das desistências foram gravidez na adolescência, problemas familiares, envolvimento com o uso de drogas, indício de depressão, desmotivação para os estudos e medo de sofrer alguma violência no caminho da escola. Conforme disse a diretora, os motivos apontados por familiares têm relação com fatores psicológicos e sociais. Portanto, vão além do trabalho da equipe diretiva e pedagógica.

“Numa tentativa possível de sanar esses problemas, o colégio vive numa constante busca de parcerias”. De acordo com a diretora, a busca é por psicólogos, agentes de saúde, a ajuda da Rede de Proteção. “Além disso temos as tentativas de aconselhamento do/a menor com os pedagogos e direção”. A diretora disse ainda que todas essas ações ajudam. Porém, seriam mais eficazes se houvesse o trabalho de um psicólogo no cotidiano da comunidade escolar. “Seria de forma regular e contínua”.

De acordo com a diretora, “infelizmente, a maioria dos evadidos são por problemas de vício”. Assim, o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) do bairro não está conseguindo dar conta de tantos casos.

Geralmente tenho que ir no Conselho Tutelar e pedir ajuda. Quando param de estudar, ou até antes, entram em uma das gangues.

PREVENÇÃO

O ativista Wycaro foi morto com golpes de faca (Foto: Reprodução/Facebook)

A proposta deixada por Wycaro é preventiva. Além de atender os 1035 alunos do Colégio Dulce Maschio, atingirá também os estudantes das escolas municipais. São elas:  São Pedro (473), Professora Elcidia de Santa Maria Pereira (105) e Total Iná Ribas Carli (212). Na Escola Total funciona o EJA, com 39 alunos. Trata-se de um total de cerca de 1.864 crianças, adolescentes e jovens.

A proposta é que este atendimento seja feito no antigo PSF Dourados. Fica na rua Osvaldo Camilo Mendes, esquina com rua Dourados. Hoje o espaço é sede da Associação de Moradores do Bairro Industrial Xarquinho. O espaço atende o Clube de Mães e velórios. E é neste local onde o idealizador do projeto, Wycaro Elias Domingues de Deus, mantinha um trabalho com crianças aos domingos.

De acordo com a Andre Alves, há 10 anos Wycaro estava engajado em projetos sociais para recuperar adolescentes e jovens dependentes da cidade. Ele morava no Xarquinho. Fundador do “Assis para as Ruas”, era o representante dos jovens e de vários movimentos católicos locais. “Esse projeto era o seu sonho”.

“O objetivo é de trabalhar e ajudar os jovens que já fazem parte de uma gangue”. Conforme menciona Andrea, a prevenção tem como foco os irmãos mais novos de usuários.

Eles estão vivenciando uma realidade que pode levá-los para caminhos impróprios. Podemos dar como exemplo uma atividade que foi realizada em uma sala de aula do bairro. A professora pediu que os alunos escrevessem o que queriam ser quando crescessem. E um dos alunos afirmou que seu sonho era ser o chefe da gangue.

GANGUES

Presença policial combate a violência no bairro (Foto: Arquivo/RSN)

O bairro Industrial/Xarquinho possui aproximadamente 19 mil habitantes e é um dos bairros com maiores percentuais de violência de Guarapuava. De acordo com o TCC de Wycaro, é apontado com o maior número de assassinatos, segundo os boletins de ocorrência da Polícia Militar. Além de inúmeras tentativas de assassinatos, sendo a maior parte promovida e sofrida por jovens pertencentes a gangues.

De acordo com a pesquisa acadêmica, as gangues são formadas por jovens e adolescentes com faixa etária média de 14 a 22 anos. A maioria deixou a escola e tem passagem pela polícia. A pesquisa deixada pelo ativista que foi assassinado, mostra que o Xarquinho é divido em três territórios de gangues rivais. Território A, Território B e Território C. Essas gangues são causadoras e vítimas da maioria dos homicídios no bairro. A causa são as ‘rixas’ entre jovens e adolescentes.

De acordo com Andrea Alves, uma informação de pessoas ligadas ao mundo do crime, é assustadora.

Nos últimos tempos a influência e o crescimento de pessoas filiadas ao PCC (Primeiro Comando da Capital) têm crescido no bairro. E outra má notícia é que logo deve estourar uma ‘guerra’ entre gangues no Residencial 2000.

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Cristina Esteche

Jornalista

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