Há anos os jornalistas brasileiros têm enfrentado uma série de violências sistêmicas. O acirramento político intensificou o ambiente hostil e até casos de homicídios relacionados à atividade profissional foram registrados. Porém, entre tantos desafios e fatores que desmotivam, o jornalista Cleber Moletta que atua há seis anos na Rádio Cultura em Guarapuava, mostra a importância da atividade na – e para a – sociedade.
No início do mês o Portal do Jornalista apontou Cleber como o profissional do jornalismo mais premiado do Brasil em 2022. Ao lado de grandes nomes do jornalismo nacional, como Eliane Brum e Miriam Leitão (Grupo Globo), o jornalista nascido em Irati foi o primeiro profissional de fora de um grande centro, e que atua em uma mídia local, que conseguiu o feito.
Ao longo de 2022 Moletta recebeu três prêmios. Dois por reportagens produzidas na área da saúde e um por uma matéria sobre mobilidade urbana, concedido em dezembro pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Todas sobre temas locais. Conforme o jornalista, a escolha dos temas definidos por ele como “fundamentais” refletem o papel que o jornalismo tem. “É o papel do jornalismo abordar temáticas complexas e tentar traduzi-las para o ouvinte”.
Esse é o papel do jornalismo. Ele deve abordar esses temas mais complexos, traduzindo, no nosso caso, para os ouvintes essas abordagens, porque no fim das contas o jornalismo é uma ferramenta de cidadania. Pela reportagem, pelo jornalismo, as pessoas conhecem melhor a cidade, conhecem melhor os acontecimentos, e a partir disso tomam decisões.
Apesar de estar habituado em se inscrever em premiações, a classificação no ranking foi uma surpresa para o repórter. “Sempre me inscrevo em algum desses prêmios, mas sem muita perspectiva. Ter tantos prêmios conquistados ano passado foi uma felicidade. A rádio sempre me propiciou essa possibilidade de sugerir temas, de aprofundar a apuração, de produzir materiais especiais, então eu tenho que ser muito grato a eles”.
VALORIZAÇÃO DA PROFISSÃO
Para além do contentamento profissional, Cleber vê o levantamento feito pelo Portal do Jornalista como uma forma de valorização da profissão, principalmente no âmbito local. Já que isso mostra que os jornalistas do ‘interior’ também podem fazer um jornalismo de alta qualidade.
Quando saiu o resultado eu fiquei bastante surpreso e feliz. Porque eu acho que é uma valorização da profissão do jornalista. Não é uma valorização somente minha, mas da profissão, da reportagem, dos meios de comunicação que investem no jornalismo de qualidade. Então, isso me deixou realmente muito feliz.
Contudo no mesmo ano em que Cleber se destacava como o jornalista mais premiado do Brasil, o Paraná se evidenciava como o estado com o maior índice de agressões contra jornalistas do Sul do País. Ao todo, houve o registro de seis ocorrências apenas em Curitiba e as demais no interior.
Moletta ressalta que essa desvalorização é reflexo de vários fatores, começando pela formação – já que há profissionais que atuam sem diploma – até o ponto de vista salarial, trabalhista. “Não é uma profissão muito fácil e nos últimos tempos eu acho que ela vem sendo muito desvalorizada. E nos últimos tempos que eu digo, é mais de uma década”.
Desse modo, quando uma pessoa opta por fontes de informação que não são confiáveis isso gera problemas até para a democracia do país. Isso porque o jornalismo tem caráter democrático. Ele busca ampliar o debate, ouvir fontes divergentes e levar a discussão para além de uma bolha.
Nesses casos, as pessoas, na verdade, não estão tendo acesso a informação do contraditório, as informações que vão além da versão das fontes. O jornalismo de fato não vive um melhor momento.
Graduado em Jornalismo pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) e mestre em jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), mesmo com tantas adversidades na profissão, Cleber se mantém firme. “Às vezes a gente sente algumas crises que desanimam um pouco, mas eu acho que tem muita energia dentro de mim pra gastar com jornalismo”.
É com essa gana que ele está sempre se aperfeiçoado e buscando fazer coisas novas e melhorar aspectos técnicos dessa profissão que está em constante atualização. “Eu estou muito focado em continuar no jornalismo, porque eu acho que essa profissão é muito importante para a sociedade”.
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