“Povo sem tradição, morre a cada geração”. Com o lema do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG/PR), Daniela Zorzetti define o significado que a cultura gaúcha tem na vida dela. Atualmente diretora cultural do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Fogo de Chão em Guarapuava, Daniela que é paulista, teve contato com os costumes do Sul ainda na infância.
Mesmo sendo de origem origem italiana com influência espanhola e árabe, a família de Zorzetti sempre prezou pela vivência cultural, como ela diz, “de um modo geral”. Portanto, as idas ao cinema, visitas a museus e espaços históricos, bem como as rodas de violão e os passeios a teatros e circos eram cotidianos na vida dela. Isso proporcionou que Daniela conhecesse músicas típicas gaúchas ainda criança. Porém a identificação só veio mais tarde.
PAU DE FITAS
“Os alunos me falaram que a música estava errada. Que a música correta era a rancheira, a qual eu não conhecia. Deixei que trocassem a música, a coreografia, mas fui pesquisar. Foi então que descobri a existência do Movimento Tradicionalista Gaúcho”.
Foi na vida adulta, após casar-se e mudar-se para o Norte do Paraná, que Daniela, já como professora, descobriu o tradicionalismo gaúcho durante os ensaios de uma turma para a festa junina da escola. Ao tocar a canção escolhida, ‘Pau de Fitas’, ela conta que os alunos falaram que a música estava errada, que a correta era a rancheira, estilo que ela não conhecia.
Zorzetti relembra que ao ouvir as músicas que faziam parte desse contexto, descobriu que muitas delas faziam parte da infância vivida em São Paulo. “Eu só não tinha ideia de que eram músicas tradicionais gaúchas”.
Especialmente ‘Pezinho’, ‘Caranguejo’, ‘Cana verde’ e ‘Balaio’, faziam parte das minhas brincadeiras de roda. Até tínhamos em casa um disco da Inezita Barroso com essas músicas e outro de Teixeirinha com a música ‘Coração de Luto’.
MAIS DE 30 ANOS
Com o fim do primeiro casamento, de volta à São Paulo e nas palavras de Daniela: “com os filhos crescidinhos” ela se viu diante de uma nova geração, muito mais interessada por jogos eletrônicos e computadores do que por brincadeiras como as que ela viveu na juventude. Preocupada com a educação das crianças, com o intuito de integrá-los a uma vida mais participativa na comunidade e na natureza, os filhos de Zorzetti iniciaram a caminhada no grupo escoteiro.
No escotismo, Daniela soube que estava sendo criado um CTG na cidade. “Fiquei muito feliz e busquei informação de como poderia participar, pois no CTG estavam as minhas músicas e brincadeiras de infância, e lá poderia apresentá-las a meus filhos. Foi uma realização!”
E desde então, há mais de 30 anos, esse universo está presente em nossas vidas.
FOGO DE CHÃO
“Temos que conhecer e valorizar o nosso passado, a nossa história para conseguirmos seguir em frente”.
Coincidentemente – ou não, o destino reservava para Zorzetti que ela acabasse criando raízes na cidade mais gauchesca do Paraná: Guarapuava. Isso porque há mais de 20 anos Daniela conheceu o atual esposo e prudentopolitano Helder Pchegoski em Marília (SP), e em 2009, eles mudaram-se para a Região.
Aqui, acompanhando o CTG Fogo de Chão, eles passaram a fomentar ainda mais a cultura tradicionalista que já era bem forte. De acordo com Daniela, ao longo dessas décadas, muitas coisas foram feitas no centro de tradições o qual é atual diretora cultural. “Já participamos de muitos eventos e representamos Guarapuava e nossa Região tradicionalista aqui no Estado e em vários lugares do Brasil”.
E como ‘filha de prenda, prendinha é’, a filha de Daniela, Sofia Zorzetti Pchegoski, foi a 1ª Prenda Juvenil do Estado do Paraná na gestão 2018/2022. O amor da mãe pelo tradicionalismo gaúcho foi passado aos filhos e netos que continuam perpetuando os costumes que Daniela empenha-se em transmitir há mais de três décadas. Isso porque, para ela essa cultura é muito natural e faz parte da vida e rotina dela. “Sou professora de história e tudo que envolve a nossa cultura está enraizado em mim”.
Não tem como separar aquilo que integra a nossa alma.
VIVENDO E CULTIVANDO COSTUMES
Como ensinou o folclorista rio-grandense Paixão Cortes “A cultura não é um nascer e sim um querer”. Por isso Daniela diz que qualquer pessoa pode fazer parte de uma cultura independente do nascer.
A tradição e a cultura estão enraizadas na alma de quem a carrega!
Porém, para a diretora cultural do CTG Fogo de Chão, antes de falar sobre tradição é necessário entender o significado da palavra. Como historiadora, ela explica que, segundo o dicionário, “tradição é a comunicação oral de fatos, lendas, ritos, usos, costumes etc. de geração para geração. Ou ainda, ato ou efeito de transmitir ou entregar; transferência”.
Desse modo, isso ocorre diariamente, em todas as famílias. Seja compartilhando uma receita que a avó fazia, uma música, uma brincadeira. “É extremamente importante para o próprio caminhar da humanidade e existe em praticamente em todos os povos e culturas dos cinco continentes. Sem a transmissão desses conhecimentos não teríamos atingido este grau de evolução”.
Assim, Daniela finaliza com a reflexão de que gaúcho é um povo que cultiva tradições, e isso não tem a ver com o local de nascimento.
Há muita confusão no significado, confundem o gaúcho com o riograndense. Apesar da palavra gaúcho ser utilizado como gentílico de quem nasce no Estado do Rio Grande do Sul, o real significado da palavra é viver e cultivar os usos e costumes de um povo e para isso não preciso ter nascido no Rio Grande do Sul. As fronteiras da cultura não são as mesmas que as fronteiras geográficas.
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