A pandemia da Covid-19 não foi o único evento a marcar 2020: houve uma série de avanços na ciência espacial que prometem expandir o conhecimento humano para além do nosso planeta. As evidências de uma substância que sugere vida em Vênus e missões espaciais bem-sucedidas são alguns dos eventos que abrem caminho para conquistas ainda mais impressionantes nos próximos anos.
FOSFINA EM VÊNUS
Em setembro, uma pesquisa feita por cientistas dos EUA, Reino Unido e Japão detectaram fosfina na atmosfera de Vênus —um gás que é considerado uma bioassinatura, ou seja, forte indicador de presença de vida. Conforme Ricardo Ogando, astrofísico do Observatório Nacional do Rio de Janeiro, o feito marcou a ciência.
“Foi bastante supreendente porque estávamos procurando sinais de vida em Marte, em luas de Júpiter, não em Vênus, que é extremamente quente e tem uma atmosfera inóspita”.
Nos meses seguintes, o estudo foi escrutinado por pesquisadores da área, que questionaram o método utilizado. Uma nova análise mostrou que a quantidade da substância é menor do que havia se pensado anteriormente, mas não deixa de ser uma descoberta impressionante.
De acordo com Thiago Signorini, astrônomo da UFRJ e coordenador da Sociedade Brasileira de Astronomia, os pesquisadores tomaram bastante cuidado em dizer que não era exatamente sinal de vida. “Mas uma descoberta que não conseguiam explicar sem possibilidade de existir vida até o momento da publicação”.
É um precursor interessante, estamos entrando em uma era de procurar moléculas orgânicas na atmosfera de outros planetas e estrelas. Essa discussão é um ponto de partida interessante e temos que ver como isso vai ser avaliado ao longo dos próximos 10 anos.
ÁGUA NA PARTE ILUMINADA DA LUA
Em outubro, a Nasa comunicou a descoberta de moléculas de água na parte iluminada da Lua —uma novidade, já que a substância mais importante para a vida terrestre só havia sido encontrada na parte escura do satélite.
A água não foi encontrada em estado líquido, mas conectada a minerais, e em uma quantidade ínfima, como informa Ogando, do Observatório Nacional. “A comparação feita é de que tem mais água no deserto do Saara do que lá, o que é natural, já que estamos na Terra, o melhor lugar do mundo para humanos até onde a gente sabe, até mesmo no Saara”.
Mesmo assim, o achado tem desdobramentos significativos. “Isso modifica o nosso entendimento de como funcionam os processos físicos e químicos na superfície da Lua e, talvez, de outros planetas. É interessante para pensar como podem ter sido produzidos os oceanos líquidos no nosso planeta, como podemos prender aquilo sob a superfície. Agora, efetivamente transformar isso em possibilidade de colônia humana por lá, acho que ainda falta um pouco”.
BURACOS NEGROS
Um observatório de ondas gravitacionais detectou pela primeira vez, em setembro, um buraco negro de tamanho intermediário.
Todos os que haviam sido encontrados até o momento ou eram pequenos estelares, que podem ter até 10 vezes a massa do nosso Sol, ou supermassivos, que conseguem chegar a milhões de massas solares. Supõe-se que este tenha sido formado a partir da fusão de dois buracos negros.
Neste ano, os telescópios do ESO (Observatório Europeu do Sul) também capturaram o momento que uma estrela foi devorada por um buraco negro supermassivo. Uma sinalização dessa importância crescente foi o Nobel de Física deste ano, que premiou três cientistas que fizeram descobertas fundamentais sobre o tema.
Roger Penrose foi laureado por seu trabalho de demonstração que a teoria geral da relatividade leva a formação de buracos negros. Reinhard Genzel e Andrea Ghez ficaram com a outra metade do prêmio, ao descobrirem que há um objeto supermassivo no centro de nossa galáxia.
OSIRIS-REX E HAYABUSA 2
A missão da Nasa Osiris-Rex, lançada em 2016, finalmente chegou ao asteroide Bennu neste ano, onde deve coletar amostras e retornar à Terra. Uma missão semelhante, a Hayabusa 2 da Agência de Exploração Aeroespacial Japonesa, pousou na Terra agora em dezembro, trazendo amostras do asteroide Ryugu que ainda serão analisadas.
O que isso significa, exatamente? Para os astrônomos, muita coisa, como aponta Signorini. “O material do asteroide é um material pristino da formação do sistema solar”. “É especial que tenhamos a capacidade pela primeira vez de ir ao espaço recolher esse material. Quando cai um meteoro aqui na Terra e nós o estudamos, ele já passou pela atmosfera, queimou, passou por processos. É importante conseguir estudar esses objetos que estão praticamente do jeito como o sistema solar era quando nasceu”.
*Com informações da CNN.
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