Pés, para que os quero, se tenho asas para voar?
Uma frase que para muitos parece clichê marcou o que foi a vida da artista mexicana Frida Kahlo. Quando a pintora e ativista escreveu isso, buscava ir além do imaginativo, mas resumir a condição que vivia. Ainda na infância, Frida teve poliomielite e os médicos chegaram a dizer que ela poderia perder o movimento das pernas. Mas, ainda uma menininha, ela lutou contra esse destino.
Contudo, na adolescência, a mexicana passou por um grave acidente de bonde que poderia tê-la matado. Não havia esperança quando a encontraram ensanguentada e com uma barra de ferro atravessada no corpo. Mais uma vez, ela mostrou que era mais forte do que imaginavam e sobreviveu. Aí começava um caminho árduo que Frida enfrentaria para o resto da vida.
Debilitada e vivendo grande parte do tempo deitada em uma cama, ela transformou o sofrimento e a dor em arte, tornando-se uma das mais respeitadas e talentosas artistas mexicanas. Hoje, 6 de julho, lembra-se o nascimento de Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón ou, simplesmente, Frida Kahlo. Por isso nós relembramos algumas obras emblemáticas da pintora.
A maioria das pinturas da artista são autorretratos. Ela justificou essa propensão com o fato de que ficava a maior parte do tempo sozinha. Além disso, o pai dela, Guillermo Kahlo (Carl Wilhelm Kahlo), colocou um espelho acima da cama para que ela pudesse ver e pintar a ela mesma.
Pinto a mim mesma porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor.
Eu sou minha única musa, o assunto que conheço melhor.
Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade.
No acidente de bonde, a barra de ferro também perfurou o útero de Frida. Por isso, ela não podia ter filhos. Contudo, a artista queria muito ser mãe e tentou por diversas vezes. Isso gerou ainda mais sofrimentos, pois ela sempre sofria abortos e os retratava em pinturas.
Diego, houve dois grandes acidentes em minha vida: o bonde e você. Você, sem dúvida, foi o pior deles.
Frida teve um casamento conturbado com o muralista mexicano Diego Rivera. Entre idas e vindas, eles se divorciaram em 1940 e voltaram em 1943 quando Frida finalizou a pintura abaixo. A obra demonstra o amor obsessivo da artista pelo marido – que a traía com mulheres e homens e, até mesmo com a irmã de Frida -, assim como uma tentativa, de “aprisioná-lo” na vida ou no pensamento dela.
A tua palavra percorre todo o espaço e chega às minhas células que são os meus astros e vai às tuas que são a minha luz.
Por que eu o chamo de meu Diego? Ele nunca foi nem nunca será meu. Ele é dele mesmo.
ATIVISMO
Além de uma grande artista, Frida Kahlo também foi uma grande ativista pelos direitos das mulheres. Em uma obra de 1935, ela retratou o assassinato brutal de uma mulher pelo marido. Ela ficou chocada após ler uma notícia no jornal em que o homem dizia que havia dado “algumas mordidas”, mas na verdade a polícia afirmou que a mulher tinha 20 marcas de facadas. O homicídio foi visto como “crime passional” e, por isso, o homem teve a pena atenuada.
Frida morreu no dia 13 de julho de 1954, aos 47 anos, em decorrência de uma grave pneumonia ou embolia pulmonar. O último registro escrito no diário de Frida faz referência direta ao cansaço físico e emocional diante do sofrimento por conta da saúde já muito debilitada.
Espero alegre a minha partida – e espero não retornar nunca mais.
Para ver outras obras, fotos e estudos sobre a artista, basta acessar a página “Faces de Frida” no Google Arts & Culture.
*Reportagem redigida com base nas informações do livro “Frida: A biografia”, de Hayden Herrera (2010).