22/08/2023


Five Nights at Freddy’s um filme que pode tornar pesadelos reais

O longa contrapõe imagens que, em outro contexto, formaram os pesadelos de Shyamalan, como as florestas do Nebraska que lembram A Vila

Filme de terror (Foto: Reprodução/Capricho)

*Reportagem com vídeo

Josh Hutcherson estrelou o filme Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo sem Fim como Mike. O personagem que perdeu os pais, o irmão e o emprego, também pode ver a casa em que mora sendo tirada de si, se não aceitar a vaga suspeitíssima de vigia noturno na assombrada pizzaria desativada que dá nome ao filme. É o tipo de personagem cujo arco de superação de trauma ganha mais valor, nos filmes de terror, com as hipérboles de uma vida miserável. Mike dissocia a olhos vistos.

No entanto, o protagonista do filme tem a luz um sermão de espiritualidade da irmã mais nova Abby, interpretada por Piper Rubio, que se isola no quarto e se recusa mais uma vez a jantar. “Você não vai comer? Tudo bem, mas você não vai crescer e vai ficar pra sempre nesse corpo de criança e nunca poderá andar nos brinquedos de adulto no parque de diversão”, ameaça Mike. É o tipo de diálogo que se esperaria dos irmãos Grimm, cujos contos de fada  se tornaram clássicos ao estabelecer pontos de contato e transferência entre os universos infantil e adulto. Five Nights at Freddy’s tem essa qualidade: é um filme consciente do que se perde na travessia do fim da inocência.

Quem espera que essa adaptação ao cinema dos jogos dos bichinhos animatrônicos assombrados faça mais um terror de sustos na “casa maluca” – subgênero tradicional que há décadas adequa os códigos do terror para o público adolescente – talvez se impacte ou se frustre com o fato de  estar muito mais interessado nos personagens principais do que nas atrações da sua ambientação.

Mike e Abby atravessam as provações do filme com um tipo de elo dramático, transformativo, que costumamos ver nos filmes de M. Night Shyamalan: combater os terrores dos adultos recuperando da infância a capacidade algo sagrada de fabular, de materializar no mundo o que tratamos como exclusivo do onírico ou do sobrenatural.

PESADELOS

O longa contrapõe imagens que, em outro contexto, formaram os pesadelos de Shyamalan, como as florestas do Nebraska que lembram A Vila (nos sonhos de Mike) ou os corredores amarelados de umidade do Freddy’s que lembram a claustrofobia de Fragmentado. A diretora Emma Tammi não precisa ter feito isso de propósito; são imagens de assombro que já transcenderam a origem e agora constituem um imaginário coletivo que carregamos conosco – e que frequentemente voltam a se manifestar, como nos sonhos, de maneira inconsciente.

O que é consciente na encenação de Tammi é o reforço visual, a crença num tipo de hipnose que pode de fato tornar imagens realidade (seja a foto do Nebraska que Mike colou no teto do quarto, sejam os chuviscos dos monitores do Freddy’s que induzem ao delírio noturno). Surgiu uma curiosidade para assistir?

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Antunes

Jornalista

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