Doze anos se passaram desde que Guarapuava se vestiu de branco. Mas a memória daquele 22 de julho de 2013 segue viva, aquecendo corações a cada inverno. Mais do que um evento climático, a neve se tornou um marco afetivo, uma história contada em muitas vozes. Revisitamos esse dia, que transformou a cidade em um cenário de filme e uniu uma comunidade inteira sob o mesmo céu de flocos brancos.
A noite começou com um prenúncio. Quem estava atento percebeu que o frio cortante trazia consigo algo diferente. Era uma chuva fina, quase gelatinosa, que antecedeu o espetáculo. Por volta das 21h, a promessa se cumpriu. Os primeiros flocos, tímidos, deram lugar a uma nevasca densa e contínua, que em pouco tempo estendeu um manto branco e silencioso sobre ruas, telhados e árvores. A cidade, sob uma nova luz, se transformava.

Casa Amarela (Foto: Secom Prefeitura de Guarapuava)
A notícia se espalhou como um rastilho de pólvora, e o frio, antes um motivo para reclusão, tornou-se um convite irrecusável. As portas se abriram. Marisa, hoje com 58 anos e professora aposentada, relembra a euforia que tomou sua casa. “Eu lembro de olhar pela janela e não acreditar. Gritei para o meu marido e acordamos nossos filhos, que na época eram adolescentes. A gente parecia mais criança que eles!”
Para a professora, o mais bonito não era só a neve caindo, mas sim o sentimento de comunidade. “Você olhava para a rua e via vizinhos que mal se falavam conversando, rindo, fazendo anjos no chão. Foi um dia em que a cidade inteira compartilhou a mesma felicidade”.
PARQUE DO LAGO VIROU PISTA DE ESQUI

Parque do Lago (Foto: Secom Prefeitura)
Ao amanhecer, a paisagem era de puro encantamento. O Parque do Lago, cartão-postal da cidade, tornou-se o epicentro de uma celebração espontânea. Para Lucas, hoje com 25 anos e designer, aquela foi a materialização de um sonho de infância.
“Pra mim? Foi a melhor coisa que podia ter acontecido! Eu tinha 13 anos”.. De acordo com as lembramnças dele, no dia seguinte, nem pensou em aula. “A rua de casa, que é uma descida, virou nossa pista particular de ‘esquibunda’. Pegamos pedaços de papelão, plásticos, o que tivesse na mão, e foi a maior festa com a molecada da vizinhança. Ninguém sentia frio, a gente só sentia a adrenalina.”

Parque do Lago (Foto: Secom Prefeitura de Guarapuava)
Por toda a cidade, a criatividade aflorava em dezenas de bonecos de neve, cada um com um adereço único, posando para fotos que se tornariam relíquias. O registro do momento virou uma obsessão coletiva, e a imprensa nacional voltou seus olhos para a ‘Suíça brasileira’.
OS ÁLBUNS DA RSN AINDA SÃO SOLICITADOS

Álbuns da Neve produzidos pelo Portal RSN (Foto: RSN)
Camila, 35, fotógrafa, recorda a ânsia de capturar a magia. “Eu já amava fotografia, mas ainda era amadora. Lembro do desespero de querer registrar tudo com a minha câmera simples. A luz estava diferente, o silêncio. É algo que foto nenhuma consegue capturar por completo”. Mas dias depois alguma coisa mudou.
Quando vi os álbuns do Portal RSN, com aquelas fotos profissionais, pensei: ‘é isso!’. Eles conseguiram eternizar a grandiosidade que eu sentia.
Com duas edições esgotadas, os álbuns são solicitados até hoje.
Mas por trás da beleza de conto de fadas, a cidade enfrentava desafios práticos. A camada de gelo tornou as ruas perigosamente escorregadias. Jonas, 42 anos e dono de lanchonete na época, tem uma memória de dois lados.

Ginásio Trianon (Foto: arquivo RSN)
“Por um, foi lindo. Mas, para o trabalho, foi um caos”. Mas por que? “Tivemos que parar as entregas. Os motoboys ligavam dizendo que era impossível, que não conseguiam ficar em pé na moto. Foi a única vez que vi Guarapuava parar de verdade, não por um decreto, mas pela força da natureza. Tive que ligar e cancelar pedidos, mas o curioso é que ninguém reclamou. Acho que todo mundo entendeu que aquele era um dia para simplesmente viver.”
“Eu lembro que o teto do Ginásio Trianon desabou e até hoje não houve reconstrução. A Havan também ficou parcialmente destruída”, completa a esposa Marilda, 41 anos.
QUANDO VAI NEVAR DE NOVO?
Doze anos depois, a pergunta ecoa a cada inverno mais rigoroso: “quando vai nevar de novo?”. Enquanto a resposta não vem do céu, ela vive na terra, nas histórias contadas de pais para filhos, nas fotos amareladas e nos álbuns digitais. A memória da noite branca de 2013 segue sendo o calor que aquece os corações guarapuavanos, a prova de que um dia pode, sim, durar para sempre.
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