*Reportagem com vídeo
Prêtô é um artista mineiro, natural de Itabira, cidade de Carlos Drummond Andrade, o que Preto considera uma inspiração. Há quatro anos decidiu se mudar para Guarapuava. De acordo com o artista, antes de morar no terceiro planalto, ele tinha outro estilo de vida, com outros pensamentos. Mas que o fizeram conhecer uma ‘galera’ que o trouxe para visitar Guarapuava. “Eu passei por aqui e resolvi que queria ficar”.
Preto sempre gostou das várias formas de arte. Típico leonino, é centrado, entusiasmado e regado à paixão. “Sempre dancei, cantei atuei e fui envolvido com as artes. Venho de uma origem muito pobre e periférica. Então, a cultura não chegava para mim de forma eficiente como deveria chegar. Hoje, eu consigo beber da arte e me expressar dela”. Assim, recorda que sempre se manifestou artisticamente na escola e na igreja, locais onde tinha possibilidade. “Agora é diferente, em Guarapuava é diferente. É novo, um lugar onde eu posso me expressar”.
Entretanto, Preto ainda aponta que muitas artes que são da periferia, na verdade não são consideradas como arte pela sociedade. “Temos como exemplo o rap, que para muitos não é arte. Vivemos muito pela influência europeia, dos grandes salões, dos grandes teatros, daquilo que veio da Europa, dos grandes nomes, dos grandes clássicos, das grandes operetas e sinfonias. Então a gente tende a entender que a arte ela vai ficar presa nesse lugar, no lugar da história por muito tempo”.
ARTE POR TODA PARTE
Mas, a arte é uma manifestação de vida. Ela é um expressão dos sujeitos. Todo mundo a tem de alguma forma. Qual cantinho da roça que não tem um violeiro, que pega um violão, que faz um batuque, que canta, que faz uma canção. Tudo é arte.
De acordo com Jean Preto, nos últimos anos as manifestações e discussões contribuíram para que a arte periférica ganhe cada vez mais espaço. Entretanto, o caminho para quebrar com preconceitos presentes até hoje na sociedade é longo. “Temos que lutar para conseguir chegar lá, para que nossa visibilidade seja maior. Por isso, políticas de afirmação são muito importantes”.
Além disso, a música é uma forma de protesto para Preto, que luta pelos direitos das minorias. “Enquanto artista periférico, preto e LGBT, a minha música não é só um cantar de entretenimento. Ela é uma manifestação política, ela é uma manifestação de direitos humanos, de respeito que todas as camadas, as esferas sociais na qual eu estou inserido que são minoritárias sejam representadas”.
RACISMO
A luta antirracista deve tomar força. Que toda a oportunidade que a gente tiver, de um preto falar, a gente tem que falar. Quem eu sou? Eu sou um homem de outro estado, que mora em um estado de maioria branca. Sou um homem pobre. Sou um homem LGBT e sou um trabalhador. Chegar nesse ponto em que eu posso me expressar é um ponto importantíssimo.
É assim que Preto reforça a importância da luta e da militância. Afinal, ainda há muito o que mudar. Mas toda oportunidade alcançada é um apoio, um incentivo para que os pretos soltem a voz e falem sobre as dificuldades e o racismo enfrentado diariamente. “A gente vê situações de racismo, inclusive de origem política, na presidência dizendo que o racismo não existe. Mas aí o que tá acontecendo? Por que o preto foi colocado na periferia? Não é coincidência que a gente hoje não consegue ter acesso ao centro. Chegamos no meio, nos expulsaram para o canto. A nossa luta enquanto resistência é sair da margem e ir para os lugares de maior visibilidade”.
O artista também ressalta as questões que envolvem racismo estrutural, ou seja, a formalização de práticas institucionais, históricas e culturais dentro da sociedade que frequentemente colocam um grupo em uma posição melhor para ter sucesso. Assim, ao mesmo tempo prejudica outros grupos. “Portanto, quando você vai olhar para os lugares de poder, de direito, e você observa que a maioria é branco, numa população aonde a maioria se declara preto, opa, aí tem problema. Não é coincidência que brancos hoje ocupam os maiores lugares. Não é coincidência que pretos ocupam os presídios. Não é coincidência que a maior taxa de pobres está nos pretos. Então é preciso militar, levar consciência, criar, falar, insistir, oportuna e importunamente”.
É cansativo? É cansativo, mas é para que a minha descendência tenha mais oportunidades do que eu tive. Porque enquanto artista, com todas as minhas habilidades, é obvio que eu deveria estar em um lugar de mais visibilidade que hoje. Mas se cultua hoje a meritocracia. Eu tive várias oportunidades. Mas foram poucas oportunidade mediante a quantidade de trabalho que eu ofereço. Por isso, vamos lutar!
Para conferir todo o trabalho do artista, acesse o Instagram e Facebook.
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