O que descreve uma mãe que perde um filho ou uma filha é o conceito de resiliência. Que é adaptar-se a uma nova forma de viver quando você perde alguma coisa muito importante ou tem um trauma muito grande.
Em 2005 Michele Tupich perdia a irmã Samanta de 15 anos. A jovem partiu em decorrência de um câncer severo no cérebro. Desde então, Michele, que hoje é doutora em história, acompanha o luto da mãe dela. “Ela [Samanta] teve seis meses de vida desde a descoberta da doença, início do tratamento, até o dia que ela faleceu”.
Foi dessa experiência que marcou a vida dela e da família, que Michele idealizou o projeto ‘Resiliência: Mães em luto, mães na luta’. Conforme a escritora, o projeto busca contar em livros as histórias de mães que passam pelo sofrimento do luto. Em um trabalho de empatia e doação ela sede o talento da escrita para transformar os relatos em histórias eternizadas em páginas.
Com a ajuda de parceiros que fazem doações para custear a editoração, diagramação e gráfica das publicações, todo o valor arrecadado com a venda dos materiais é revertido em doação para o Hospital Pequeno Príncipe de Curitiba. “Todo o lucro é destinado para o projeto ‘Família Participante’. Ele atende familiares de crianças que são tratadas pelo SUS no hospital e que precisam ter um familiar junto com elas”.
Conforme a pesquisadora, que durante o tratamento da irmã acompanhou todas as idas ao hospital e pode ver de perto o drama de tantas crianças e adolescentes na luta contra o câncer, na grande maioria das vezes, quem acompanha os pacientes são as mães.
É muito difícil que não seja uma mãe que está internada com o filho ou filha lutando, por isso ‘mães na luta’. São mães lutando para que essas crianças sobrevivam e resistam. Que elas sejam tratadas e tenham longa vida, tenham histórias de cura. E é isso que a gente quer.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA) o câncer infanto-juvenil representa a primeira causa de morte por doenças entre crianças e adolescentes de um a 19 anos no Brasil, cerca de 8% do total. Só em 2022 houve cerca de 8.460 casos no país. Cerca de 80% das crianças e adolescentes acometidos pela doença podem ser curados se diagnosticados precocemente e tratados em centros especializados.
Segundo o Ministério da Saúde, o acompanhamento médico é disponibilizado em todo o Brasil de forma integral e gratuita, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
PRIMEIRO LANÇAMENTO
Na semana passada ocorreu o lançamento do primeiro livro do projeto. Intitulado ‘Quando um anjo me tocou’, o livro conta a história de Maria Júlia, narrada pela mãe Karen Franciosi. A menina faleceu no dia 22 março de 2012 em decorrência de um linfoma.
Mesmo após conseguir um doador compatível e fazer o transplante de medula óssea, Maria Júlia não resistiu. “O linfoma era extremamente agressivo e ele voltou de uma forma muito rápida”.
Os livros já estão à venda e podem ser adquiridos pelo Editorial Casa ou então diretamente na Viesca Turismo que fica na avenida Manoel Ribas, 1575, sala 03 em Guarapuava.
LANÇAMENTOS FUTUROS
Motivada a escrever sobre histórias de vida, Michele que também transforma em obras memórias institucionais, faz do ‘Projeto Resiliência’ um trabalho a parte. Isso porque para traduzir emoções em palavras ela precisa conviver com as mães enlutadas e também sentir a dor delas.
“Geralmente eu fico sabendo de histórias específicas de mães e procuro elas. Mas se alguma mãe quiser contar a história do filho ou filha basta me procurar”. Conforme a idealizadora do projeto, ela trata diretamente sobre o luto das mães porque considera a maternidade singular.
As mães geram a primeira moradia de uma pessoa, que é o útero materno. A nossa primeira casa é o corpo da nossa mãe. Por isso nós somos muito parte das nossas mães. O elo que os filhos têm com as mães ele é incompreensível pra nós seres humanos. Não tem como, ele é imensurável. Então eu acredito que uma mãe em luto é o único ser humano que jamais esquece.
Desse modo, ainda em 2023, a escritora pretende lançar o segundo livro do projeto. Ele vai contar a história de cinco mães guarapuavanas e as filhas. “São histórias que Guarapuava também se comoveu muito e participou ativamente do tratamento e da luta dessas meninas que tiveram câncer”.
Michele também está trabalhando em um terceiro livro, mas como curadora. Isso porque quem conta a história é a própria mãe que perdeu a filha. Nesta obra aborda-se a questão da doação de órgãos em todo o Paraná.
PROJETO
Após a morte da irmã toda a família passou por um processo triste de despedida. Mas Michele conta que aos poucos as coisas foram voltando ao lugar, “exceto para a minha mãe”. Para a escritora, o luto materno é uma temática carregada de muito sofrimento e dor, mas também de muito simbolismo, representação e identificação.
Uma mãe em luto só gostaria que o filho ou filha estivesse ali junto com ela. Por isso há uma grande identificação entre as mães que estão enlutadas, independente de ser uma mãe que faz 18 anos que a filha faleceu ou uma mãe que perdeu o filho há seis meses. Então há uma identificação de dor e resiliência.
Ademais, por ser um tema sensível e com pouca visibilidade que Michele se dedica a escrever, além da vivência pessoal dela com o tema. “Pelo menos há 12 anos que eu pesquiso o tema maternidade. Entendo a maternidade em todas as suas fases. Ela é muito singular e multifacetada”.
Para contribuir na manutenção do projeto, os interessados podem entrar em contato com a idealizadora pelo Instagram @mitupich ou e-mail mtupich@yahoo.com.br.
Gosto muito de uma canção que diz que ‘Amar e mudar as coisas me interessa mais”. E é com esse objetivo que eu lanço esse projeto e pretendo alcançar mães em luto, que elas compartilhem dos seus sentimentos e das suas maneiras de resiliência.
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