22/08/2023


Referencial de beleza, cerejeiras mostram os traços japoneses em Guarapuava

A bordo do navio Kasato Maru, a cultura japonesa se estabeleceu em Guarapuava e no resto do país

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Há 110 anos, os primeiros japoneses chegavam ao Brasil. Aos poucos, os moradores da Terra do Sol Nascente começaram a se espalhar pelos mais diversos pontos das nossas terras tupiniquins, influenciando, e muito, na nossa formação cultural. E em Guarapuava não podia ser diferente. Quando chegaram ao Paraná, o campo foi a forma de trabalho inicial de muitos dos imigrantes. Especialmente no terceiro planalto, a cultura da batata foi um dos carros-chefes para o sustento dos japoneses no meio guarapuavano.

Esse foi exatamente o caso, por exemplo, de Kazuo Kawakami, de 83 anos. O descendente de japonês é pai de três filhos e natural de Cotia, em São Paulo (SP). Ele viu Guarapuava com bons olhos para estabelecer vínculos e tocar a sua vida, tanto que parou com a função de agricultor apenas há cinco anos.

Seu Kazuo é o responsável por trazer as cerejeiras para o terceiro planalto (Foto: Matheus Buongermino/RSN)

“Na verdade, era para eu ficar aqui apenas dez anos, e acabei ficando mais 45. Uma vez eu perdi quase toda a produção que eu tive na primeira colheita por conta de uma chuva de pedra, mas mesmo assim, não desisti”.

Seu Kazuo, como é conhecido, tem uma contribuição enorme para uma das principais atrações naturais que Guarapuava possui: as cerejeiras. As primeiras mudas dessa árvore foram plantadas a mando deste senhor, mas segundo ele, essa ajuda poderia ser bem diferente.

Na florada, cerejeiras são um dos principais atrativos do Parque do Lago (Foto: Caio Budel/RSN)

Isso foi em 1989, há 29 anos atrás. Mas me roubaram quase todas as mudas! Foram plantados 400 pés, hoje não tem nem 100. A própria pessoa que eu mandei plantar no Parque do Lago teve a capacidade de me roubar. Teria que ter no mínimo 350 cerejeiras, mas atualmente não chega nem perto disso.

CONTRIBUIÇÕES

São diversos marcos que a sociedade nipônica trouxe para nossa cultura, indo da culinária até as artes marciais, sendo essa uma atividade muito cultuada pelo povo ocidental. A chegada de japoneses aconteceu primeiramente no dia 18 de junho de 1908, no navio Kasato Maru, com 781 pessoas a bordo, na cidade de Santos (SP). Todos esses estrangeiros vieram para trabalhar nas lavouras de café, que eram uma das principais fontes econômicas naquela época. Com isso, muita mão de obra nipônica veio para cá, enraizando de vez a cultura oriental em solos brasileiros.

A imigração japonesa em nossas terras começou nesse barco, o Kasato Maru (Foto: Reprodução)

Atualmente, estima-se que há 1,5 milhões de nikkeis (pessoas de origem japonesa) aqui no Brasil, de acordo com o consulado geral do Japão em São Paulo. Hirofumi Neishi é natural de Okayama, que fica 182,9 km de Osaka, cidade popular do Japão. Atualmente mora em Maringá, vindo para nossas terras primeiramente para aprender a língua portuguesa. Mas, na verdade, não era exatamente isso que o monge queria.

“Eu inicialmente queria ir para os EUA, pois eu fazia inglês quando morava no Japão, mas o meu professor chegou para mim e disse: vá para o Brasil para aprender português. Eu gosto muito do pessoal de lá. É bem caloroso”.

Hirofumi é um monge budista, residindo agora no templo Nippakuji. Veio para Guarapuava há alguns meses para ministrar uma celebração chamada Hôji, que significa “Serviço do Dharma”. Este evento acontece para celebrar a memória de entes queridos, sendo um costume muito enraizado nas tradições budistas e xintoístas, com o principal intuito de refletir a nossa existência e o porquê de estarmos no mundo. Dependendo da ramificação, as celebrações podem ocorrer um, três ou cinco anos após o falecimento da pessoa. Nesse caso, o Hôji tinha o intuito de relembrar um ano de falecimento de Masatoshi Yamamoto, que era um dos anciões da sua casa. Para completar a celebração, é montado um altar chamado Butsudan (Altar do Buda), e nele são colocadas oferendas, imagens de buda, fotos dos antepassados, entre tantos outros artefatos.

Após isso, um almoço é feito para encerrar a festividade. Isso porquê, antigamente, o banquete era como uma acolhida para os amigos e familiares que vieram de longe para celebrar o evento, os quais percorriam longos trajetos nos campos só para prestigiar este acontecimento importante.

O monge Hirofumi e ao seu lado o butsudan, altar onde é celebrado o Hôji (Foto: Matheus Buongermino/RSN)

ARTES MARCIAIS

As artes marciais são outras representações de manifestação cultural proveniente do Japão. Elas principalmente foram criadas para professar as religiões orientais e também auxiliar os guerreiros nos combates que haviam nas guerras. Muitos praticantes buscam nas artes marciais uma vida mais equilibrada e, ainda por cima, mais disciplina e preparação. Segundo Davi Renan Sgrott Patto, que é professor na Shen Zen, escola de artes marciais em Guarapuava, este conceito é muito ligado à filosofia e as religiões orientais.

‘’Na índia, vemos muita influência do hinduísmo e do budismo nessa prática. No Japão, essa prática é muito ligada com o ZEN e o Bushido (caminho do guerreiro), hoje você não vê muito isso, bem diferente do que era antigamente. O Japão é um país muito especial, e o japonês é um povo muito determinado, objetivo e perfeccionista, no bom sentido. Tudo isso é pela busca do Zen, que seria um caminho para a obtenção do equilíbrio espiritual’’.

O traje japonês utilizado por Davi é comumente visto no iaijutsu e aikido, outras artes marciais de origem oriental (Foto: Matheus Buongermino/RSN)

Existem várias modalidades de lutas criadas na terra do sol nascente, como por exemplo, o Aikido, Karatê, Sumo, Judo, iaijutsu, entre muitas outras. Cada uma tem suas especificidades e golpes diferentes. Davi ressalta que não possui um estilo melhor que o outro: cada um tem um campo e suas qualidades.

‘’O Judo, por exemplo, é uma arte especializada em projeção (arremessar o oponente para o chão) e mobilização, porém não tem sua especificidade em socos e chutes. Muita gente acha que arte marcial é uma coisa só, e não é isso’’.

Davi manuseando a Katana, espada tradicional japonesa (Foto: Matheus Buongermino)

O tsunami que aconteceu no Japão foi algo terrível que dizimou o país. Logo depois, eles se reergueram de um jeito muito surpreendente e isso é um principio das artes marciais. A dor acaba por moldar o ser humano, isso infelizmente é uma coisa que a vida sempre vai te proporcionar. Através das artes marciais você sempre tem que superar os próprios limites, superar a si mesmo,trabalhando psicológico, mental e físico e transformar uma coisa que na sua concepção era impossível em possível.

Cristina Esteche

Jornalista

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